UMA LÁGRIMA PARA DUSE NACARATI – Ela foi uma grande atriz. Tinha um humor peculiar, uma voz com entonação muito especial (Bibi Ferreira costuma dizer que teatro é voz), e uma presença de palco desconcertante. A peculiaridade do seu modo de interpretar fez dela a musa do teatro besteirol. Era queridinha dos autores Mauro Rasi e Vicente Pereira e dos diretores Miguel Falabella e Jorge Fernando. Sua atuação na peça A Mente Capta, de Mauro Rasi, marcou época no teatro carioca. Assim como sua performance em As 1001 Encarnações de Pompeu Loredo, também de Mauro Rasi, em parceria com Vicente Pereira.
Apesar de musa convicta do teatro besteirol, o maior orgulho de Duse Nacarati como atriz era ser considerada uma atriz rodriguiana, por causa de sua atuação em peças de Nelson Rodrigues. Ela costumava contar aos amigos, com uma ponta de orgulho, que em 1968, quando participou de uma montagem da peça A Mulher sem Pecado, de Nelson Rodrigues, o próprio autor a procurou depois do espetáculo e lhe disse: “Você é uma atriz rodriguiana!”. Esse seu encontro com o dramaturgo marcou sua vida. Ao longo de sua carreira pôde exercitar sua condição de atriz rodriguiana em várias peças do autor. Atuou em Vestido de Noiva, na montagem protagonizada por Malu Mader e O Beijo no Asfalto, na montagem protagonizada por Alessandra Negrini. Sua última atuação no teatro carioca foi exatamente numa peça de Nelson Rodrigues, A Falecida, com direção de João Fonseca. Marcos Alvisi, que a dirigiu em Beijo no Asfalto costumava dizer: “Nenhuma atriz é mais rodriguiana do que Duse Nacarati”.
Certa vez, num jantar em sua casa, ela comentou sua atuação em Vestido de Noiva. Dizia que tinha adorado fazer esse clássico do Nelson, que se sentia totalmente à vontade no papel, e que antes de entrar em cena sempre lembrava do Nelson Rodrigues lhe dizendo: “Você é uma atriz rodriguiana”. E ela disse isso imitando o jeito do dramaturgo falar, provocando gargalhadas em todos que estavam presentes. Duse era uma mulher muito engraçada e seus amigos adoravam estar com ela, por que isso era garantia de boas risadas. Do seu trabalho em Vestido de Noiva ela também guardava boas lembranças da sua convivência com a Malu Mader. Elogiava muito a Malu, que além de protagonista, era produtora da peça. Contava que a Malu era super carinhosa com ela e muito cuidadosa com toda a equipe que fazia a peça. E ela achava isso muito bonito.
Jorge Fernando e Miguel Falabella também adoravam Duse Nacarati. Jorge Fernando a dirigiu duas vezes. Em 1980, na montagem original de As mil e uma encarnações de Pompeu Loredo, de Mauro Rasi e Vicente Pereira, e em 2002, na remontagem dessa mesma peça que recebeu o nome de Aqui se faz, aqui se paga. Eram grandes amigos e Jorge tinha um carinho muito especial por ela. Já Falabella costumava dizer que Duse era a mulher da vida dele. Tinha ternura, paixão e afeto pela atriz. Gostava tanto da Duse que em 2001 lhe deu de presente um belo apartamento no Jardim Botânico. Não que ela precisasse. Ela vivia muito bem, tinha seus próprios rendimentos e uma família que a amava. Mas Miguel é rico e quis presentear a amiga com um apartamento. E ponto final!
Mas o grande amor da sua vida era o ator Leonardo Vieira. Posso imaginar como ele deve ter sofrido e chorado ao saber da morte dela. O Leo simplesmente adorava a Duse. Eles eram super amigos, se falavam quase diariamente, saíam juntos. Pareciam namorados. Certa vez o Leo Vieira a levou para Portugal, foram passar férias na Quinta da família do ator, nos arredores de Lisboa. Ela gostava de contar aos amigos da sua viagem e dos lugares incríveis que Leonardo lhe mostrou em Portugal. A última vez que eles foram vistos juntos em público foi na vernissage do artista plástico Gilvan Nunes, grande amigo do casal.
Descanse em paz, querida Duse! Descanse em paz...
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