13.2.10


















CARNAVAL DO RECIFE!

EVOÉ! - O carnaval do Recife é mágico. O frevo tem uma energia maravilhosa. É uma música muito especial. É uma experiência muito especial, um delírio, se perder pelas ruas do Recife antigo em meio a tantos blocos, caboclinhos, troças e maracatus. Os prédios históricos oferecem o ambiente ideal para o desfile de fantasias exoticas e músicas originais. Numa rua um bloco puxado por uma orquestra de frevos anima os foliões, até que esse bloco se encontra com um grupo de caboclinhos. Noutra esquina surge um maracatu, seguido por outro bloco animado com orquestra de frevos. Logo a seguir aparece outro tocando reggae. E eis que surge um bloco tocando sambas, como os blocos do Rio. Então tudo se mistura numa deliciosa salada de ritmos e loucuras. Logo ali, na beira do cais, um palco enorme apresenta shows incríveis, como Naná Vasconcelos comandando um concerto com uma enorme orquestra de percussionistas do maracatu. Um luxo!

Os caboclinhos são uma atração à parte. É uma tradição no carnaval pernambucano. Grupos caracterizados como indígenas brasileiros cantando e dançando num ritmo alucinante. É incrível a música que eles produzem com apenas uma flauta, um chocalho e um tambor. Uma música vibrante, rica, envolvente. E é curioso perceber que aquela manifestação em pró da cultura indígena é feita por afro-descendentes. Rapazes e moças das regiões mais pobres da cidade entram em cena com a certeza de que vão arrasar. É lindo!

Ali mesmo também desfilam blocos organizados por sindicatos de classe, empresas, condominios, academias, grupo de amigos, etc. As pessoas se organizam, contratam músicos e produzem desfiles bacanas, com fantasias, bonecos gigantes e outros atrativos do carnaval pernambucano. Esse ano um blocos mais animados foi o Segure o Avião, bloco dos funcionários da Infraero, empresa que administra aeroportos. Animado, divertido e alto astral, o bloco encheu de energia o carnaval recifense. Outro bloco que está dando o que falar no carnaval pernambucano é o bloco Passaporte da Folia, que é organizado pelo Sindicato dos Policiais Federais de Pernambuco. É a única manifestação carnavalesca da Polícia Federal em todo Brasil. Animados, cheios de ritmo e gingado, movidos a muita cerveja e cachaça, o bloco dos Policiais Federais arrastou uma multidão pelas ruas do Recife antigo, misturando ritmos musicais como o samba, o frevo e o maracatu. E foi engraçado que, sabendo que ali estava um bloco da Polícia Federal, alguns foliões mais transgressores, só de provocação, acendiam baseados e ficavam se esbaldando por ali, em meio aos policiais, que nem ligavam. Afinal, eles estavam ali para se divertir e não para trabalhar...

O carnaval do Recife é mil vezes melhor que o carnaval do Rio...


Evocação do Recife
(Poema de Manuel Bandeira)

Recife
Não a Veneza americana
Não a Mauritsstad dos armadores das Índias Ocidentais
Não o Recife dos Mascates
Nem mesmo o Recife que aprendi a amar depois
— Recife das revoluções libertárias
Mas o Recife sem história nem literatura
Recife sem mais nada
Recife da minha infância
A rua da União onde eu brincava de chicote-queimado
e partia as vidraças da casa de dona Aninha Viegas
Totônio Rodrigues era muito velho e botava o pincenê na ponta do nariz
Depois do jantar as famílias tomavam a calçada com cadeiras
mexericos namoros risadas
A gente brincava no meio da rua
Os meninos gritavam:
Coelho sai!
Não sai!

A distância as vozes macias das meninas politonavam:
Roseira dá-me uma rosa
Craveiro dá-me um botão

(Dessas rosas muita rosaTerá morrido em botão...)
De repente
nos longos da noite
um sino
Uma pessoa grande dizia:
Fogo em Santo Antônio!
Outra contrariava: São José!
Totônio Rodrigues achava sempre que era São José.
Os homens punham o chapéu saíam fumando
E eu tinha raiva de ser menino porque não podia ir ver o fogo.

Rua da União...Como eram lindos os montes das ruas da minha infância
Rua do Sol
(Tenho medo que hoje se chame de dr. Fulano de Tal)
Atrás de casa ficava a Rua da Saudade...
...onde se ia fumar escondido
Do lado de lá era o cais da Rua da Aurora...
...onde se ia pescar escondido
Capiberibe
— Capiberibe
Lá longe o sertãozinho de Caxangá
Banheiros de palha
Um dia eu vi uma moça nuinha no banho
Fiquei parado o coração batendo
Ela se riuFoi o meu primeiro alumbramento
Cheia! As cheias! Barro boi morto árvores destroços redemoinho sumiu
E nos pegões da ponte do trem de ferros caboclos destemidos em jangadas de bananeiras

Novenas
Cavalhadas
E eu me deitei no colo da menina e ela começou
a passar a mão nos meus cabelos
Capiberibe
— Capiberibe
Rua da União onde todas as tardes passava a preta das bananas
Com o xale vistoso de pano da Costa
E o vendedor de roletes de cana
O de amendoim
que se chamava midubim e não era torrado era cozido
Me lembro de todos os pregões:
Ovos frescos e baratos
Dez ovos por uma pataca
Foi há muito tempo...
A vida não me chegava pelos jornais nem pelos livros
Vinha da boca do povo na língua errada do povo
Língua certa do povo
Porque ele é que fala gostoso o português do Brasil
Ao passo que nós
O que fazemos
É macaquear
A sintaxe lusíada
A vida com uma porção de coisas que eu não entendia bem
Terras que não sabia onde ficavam
Recife...
Rua da União...
A casa de meu avô...
Nunca pensei que ela acabasse!
Tudo lá parecia impregnado de eternidade
Recife...
Meu avô morto.
Recife morto, Recife bom, Recife brasileiro
como a casa de meu avô.
(Fotos: Waldir Leite)

Nenhum comentário:

Madonna vem aí...

 

Postagens mais vistas