10.5.10

QUEM FOI MARCIO BANANA?Um apaixonado pelo futebol de praia. Assim se pode definir Marcio Banana, o veterano jogador das areias de Copacabana, que morreu no início de Março. Ele era tão querido que, ao tomar conhecimento de sua morte, os atletas e cartolas resolveram lhe homenagear dando o seu nome ao atual torneio de futebol de praia: Taça Marcio Banana. Marcio era um garoto pobre de Botafogo que começou a jogar futebol de praia na infância e sua identificação com o esporte foi total, tanto que ali fez amigos e construiu sua vida, o seu mundo.


Sua fase áurea foi na época do Lá Vai Bola. Foi nesse time, hoje desativado, que ele mais se destacou como jogador. Além de suas jogadas precisas e dribles maliciosos, Marcio se destacava por um detalhe inusitado: ele jogava de óculos. Tinha miopia e aversão a lentes de contato. Mas nunca permitiu que sua deficiência visual interferisse no seu amor ao futebol. Por isso jogava de óculos. Para que os óculos não caíssem durante o jogo, ele os amarrava com um cordão de borracha e partia pra cima dos adversários. Assim ele também ficou conhecido como “Marcio dos óclinhos”.


Mas a atuação de Marcio não era apenas dentro de campo. Ele gostava de atuar na organização dos torneios e dar aulas nas escolinhas de futebol para crianças. Thiago, um jovem craque do Copaleme, ficou muito emocionado quando soube da morte do companheiro. “O Marcio foi meu professor na escolinha de futebol de praia quando eu era garoto. Foi com ele que eu comecei a jogar bola. Vou sempre lembrar dele como meu professor”, disse Thiago, com os olhos verdes cheio de lágrimas.


Ainda bem jovem, numa época em que os blogs nem existiam, Marcio teve a idéia de publicar um jornal com as noticias sobre o futebol de praia. E foi assim que surgiu O Tatuí, uma projeto que ele realizou com muito empenho. Conseguiu patrocínio, publicidade, gráfica e, periódicamente, O Tatuí era distribuído gratuitamente nos torneios e jogos oficiais.




Quando o Lá Vai Bola foi desativado, os jogadores desse time migraram para o Copacabana Praia Clube, time da Rua Duvivier. Márcio foi um desses jogadores. Foi atleta do time durante anos e, quando parou de jogar, continuou na equipe como cartola, conselheiro e treinador. Assim Marcio escreveu sua história no esporte, graças a sua paixão e ao seu temperamento afável e gentil.


No final no ano passado, um pouco antes do Natal, Marcio passou mal e foi parar no Hospital Miguel Couto. Ficou internado até um pouco antes do reveillon. Lá foi constatado que Marcio estava com sérios problemas nos rins e que precisava fazer hemodiálise o resto da vida. Claro que aquilo foi um choque. O médico determinou uma série de restrições ao atleta e o proibiu de usar bebidas alcoólicas. Ora bolas! Uma das grandes alegrias do Marcio era beber com os companheiros depois dos jogos. No início ele tentou manter uma disciplina com relação às recomendações dos médicos, mas logo desistiu.


No sábado, 27 de Fevereiro, houve um amistoso entre o Copacabana Praia Clube e o Força e Saúde, time da Rua República do Peru. Antes do jogo Marcio fez a preleção do seu time com muita paixão, como sempre. Vibrou com cada jogada e ficou do lado de fora do campo dando toques para os jogadores, orientando cada jogada. Apesar de ter acabado 0 x 0 foi uma excelente partida, recheada de boas jogadas, já que as equipes são grandes rivais. Depois do jogo ele disse que estava preparando uma nova edição do jornal O Tatuí, e que esse ano o jornal ia voltar a ser publicado em grande estilo.


Depois do jogo os atletas do Copacabana foram para o bar Pavão Azul, na Rua Duvivier, ponto de encontro das comemorações do time. E nesse dia Marcio se recusou a cumprir as recomendações médicas e voltou a beber. Seus amigos tentaram impedir que ele fizesse essa loucura. Houve uma breve discussão, mas Marcio se manteve firme. E afirmou que estava a fim de viver sua vida até quando desse. Nesse dia ele bebeu o quanto pôde. E nos dias seguintes ele foi visto bebendo nos bares de Copacabana na hora em que devia estar fazendo a hemodiálise. No dia 5 de Março, às vésperas de mais um jogo do seu time, ele passou mal e foi levado ao hospital onde morreu vítima de uma parada cardíaca.

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