QUEM TEM MEDO DE BEATRICE M ? – Sempre que posso assisto à novela Ti Ti Ti, escrita por Maria Adelaide Amaral, a partir de uma trama original de Cassiano Gabus Mendes. A novela é muito divertida. Tem um texto inteligente, ágil e sofisticado. Claro que é mais fácil para Maria Adelaide escrever sua novela tendo como base uma história já produzida e bem estruturada. Uma novela que já deu certo. Mas isso não invalida de modo algum o mérito de Maria Adelaide. O Cassiano Gabus Mendes escreveu uma trama inteligente e bem elaborada. Mas os seus diálogos estavam longe de ter o nível de sofisticação dos diálogos com que Maria Adelaide vem brindando o público da novela das sete.
Merecem elogios tanto a direção de Jorge Fernando, quanto a atuação dos atores e o trabalho da produção. É tudo muito equilibrado em termos de talento e competência técnica. Os atores, tanto os veteranos quanto os novos talentos, vêm apresentado atuações marcantes. Um elenco vibrante e talentoso que tem oferecido diversão inteligente e culta ao telespectador. Além disso, há um toque de transgressão que considero fundamental para o sucesso de qualquer novela.
Há alguns aspectos da novela que merecem ser destacados. Para começo de conversa Ti Ti Ti é a novela mais gay já produzida pela televisão brasileira. Não precisa que os personagens sejam homossexuais para que a trama seja gay. O melhor exemplo disso é o personagem da adorável Cláudia Raia, que parece um travesti que deu certo. O ambiente da novela, os figurinos, as tiradas inteligentes, o universo da alta moda, a afetação dos protagonistas... Tudo nos remete ao universo GLS. E isso é ótimo!
Uma coisa que chama minha atenção nos diálogos da novela é o modo como, o tempo inteiro, os personagens citam ícones da moda, nomes de costureiros e celebridades, gente da música e da cultura pop. O texto da novela cita Valentino, Givenchy, Saint Laurent, Lady Gaga, Paris Hilton e até Sidney Sheldon, entre tantos outros. Isso chama minha atenção por que esses nomes são grifes, são marcas, e os departamentos comerciais das redes de TV sempre censuram os autores que citam marcas e nomes de celebridades em seus textos. E citar marcas e celebridades acontece todo o tempo em Ti Ti Ti.
Quando trabalhei com o meu querido Antônio Calmon na minissérie Sex-Appeal, por exemplo, aconteceu um episódio que vale a pena ser citado. Sex-Appeal era uma minissérie que, a exemplo de Ti Ti Ti, se passava no mundo da moda, com modelos, estilistas, grifes e tudo o mais. Foi a minissérie que lançou estrelas como Camila Pitanga, Carolina Dieckman, Danielle Winnits, Luana Piovani e atores como Lui Mendes e Felipe Folgosi. Pois bem. Na minissérie havia um personagem chamado Mauricinho, interpretado pelo belo e saudoso Rômulo Arantes. Mauricinho era filho do dono de uma agência de modelos. Seu nome traduzia o que era o caráter do personagem: um autêntico mauricinho. Ele era um rapaz rico, deslumbrado, que gostava de impressionar as jovens modelos da agência dos seus pais. Por causa das características desse personagem Antônio Calmon criou falas em que ele vivia citando grifes. Mauricinho adorava dizer que seu relógio era Rolex, que sua gravata era Hermès, que seu perfume era Dior, que sua camisa era Lacoste, que seu terno era Armani, que seu jeans era Dolce & Gabanna, etc e tal. A minissérie foi gravada e Rômulo Arantes deu show como Mauricinho, atuando com as falas que Calmon com tanto esmero escreveu para seu personagem.
No dia da estréia da minissérie, seguindo orientação do Departamento Comercial da Globo, o Boni (naquela época ainda havia o Boni) mandou cortar todas as falas em que o Rômulo Arantes citava as grifes. O Calmon teve o cuidado de só citar grifes estrangeiras exatamente para não ter problemas com o Departamento Comercial. Mas mesmo assim as falas foram cortadas. O Departamento Comercial alegou que as falas do personagem faziam propagandas gratuitas. Calmon fez mil alegações, argumentou que as citações eram importantes para demonstrar o deslumbramento do personagem, lembrou que a grife Dolce & Gabanna nem tinha representação no Brasil, mas não houve jeito. A participação do Rômulo Arantes ficou toda picotada. Ficou parecendo que ele fazia um personagem secundário, uma figuração de luxo, quando na verdade seu personagem foi criado para ser um dos destaques da minissérie. O pior é que tudo aconteceu depois que a minissérie já havia sido gravada e não havia mais como dar novas falas para o Rômulo, que acabou vendo seu personagem sumir da história.
(Um parêntesis: Eu amava Rômulo Arantes! Um cara muito legal. Um homem belíssimo. Um sujeito de bom coração, apaixonado pelo seu trabalho. Um artista batalhador e disciplinado. E exatamente quando ele estava começando a acontecer como ator, houve aquele acidente fatal. Que tristeza! Não consigo me conformar. Fico emocionado sempre que lembro dele com seu sorriso que era ao mesmo tempo sexy e pueril.)
Um instante, pois preciso enxugar as lágrimas!
Pois bem. Tudo o que foi negado ao Mauricinho de Rômulo Arantes na minissérie Sex-Appeal é amplamente utilizado por quase todos os personagens de Ti Ti Ti. Será que o Departamento Comercial da Globo concedeu uma autorização especial para que as marcas e as celebridades sejam citadas? Será que em tempos de internet eles conseguem faturar com todo aquele festival de citações? Não entendo o que aconteceu. Mas acho ótimo que os personagens da novela de Maria Adelaide Amaral usem e abusem de citações da cultura pop. É original quando Claudia Raia, com seu hilariante tom afetado, diz algo como: “Esse vestido nem chega aos pés de um Valentino!” Tem tudo a ver com o texto e com a novela. Adoro quando os personagens dizem que Lady Gaga ou Paris Hilton estavam em algum lugar usando um vestido do costureiro Victor Valentim.
(Um outro parêntesis: Recentemente, quando eu trabalhava na equipe da novela Os Mutantes, na Rede Record, aconteceu um episódio semelhante. Um dos redatores da equipe do Tiago Santiago, não lembro exatamente quem, escreveu uma fala em que a Irma, personagem da Patrycia Travassos, dizia que iria usar um vestido Chanel, em determinada ocasião. E o querido Tiago Santiago, preocupado com o Departamento Comercial, gentilmente pediu que a fala fosse reescrita. Achou que citar Chanel era fazer propaganda gratuita. “Citar Mademoiselle Chanel só vai acrescentar estilo, charme e elegância a Record”, disse eu, com uma gotinha de veneno...)
Outra coisa que eu adoro em Ti Ti Ti é que a novela fala em blogs o tempo inteiro. Todo mundo tem blog. As últimas notícias do mundo da moda são sempre lidas nos blogs. A palavra blog é repetida à exaustão no texto da novela. Eu, como sou um veterano do mundo blogueiro e tenho blog desde a época em que ninguém sabia o significado dessa palavra, me sinto homenageado. Essa semana, inclusive, surgiu toda uma trama na história envolvendo uma blogueira misteriosa chamada Beatrice M., que está agitando os conflitos da novela com seus posts envenenados.
Beatrice M, na verdade, é o codinome de Maria Beatriz Spina, a filha de Jaques Leclair (Alexandre Borges), personagem de uma atriz fantástica chamada Clara Tiezzi. É uma jovem atriz genial, melhor que a Tatum O´Neil quando fez Lua de Papel. Através do seu blog Maria Beatriz Spina, ou melhor, Beatrice M, está criando conflitos entre vários personagens que estão dando fôlego e provocando um tremendo ti ti ti na saborosa novela das sete.
Beatrice M, na verdade, me lembra Marina W, codinome da jornalista Adriana Rezende. Nos primórdios do mundo blogueiro, quando pouca gente tinha blog e essa ferramenta era uma novidade, Adriana criou várias personalidades, causando muita confusão na internet. Num blog ela era Marina W, no outro era Flávia Cintra, no outro era Jackie Miller, no outro era Meg. Ela criou tanto ti ti ti na web que teve gente que achava que até Waldir Leite era um personagem fictício criado por essa talentosa e criativa blogueira. Isso é que é ti ti ti!
Merecem elogios tanto a direção de Jorge Fernando, quanto a atuação dos atores e o trabalho da produção. É tudo muito equilibrado em termos de talento e competência técnica. Os atores, tanto os veteranos quanto os novos talentos, vêm apresentado atuações marcantes. Um elenco vibrante e talentoso que tem oferecido diversão inteligente e culta ao telespectador. Além disso, há um toque de transgressão que considero fundamental para o sucesso de qualquer novela.
Há alguns aspectos da novela que merecem ser destacados. Para começo de conversa Ti Ti Ti é a novela mais gay já produzida pela televisão brasileira. Não precisa que os personagens sejam homossexuais para que a trama seja gay. O melhor exemplo disso é o personagem da adorável Cláudia Raia, que parece um travesti que deu certo. O ambiente da novela, os figurinos, as tiradas inteligentes, o universo da alta moda, a afetação dos protagonistas... Tudo nos remete ao universo GLS. E isso é ótimo!
Uma coisa que chama minha atenção nos diálogos da novela é o modo como, o tempo inteiro, os personagens citam ícones da moda, nomes de costureiros e celebridades, gente da música e da cultura pop. O texto da novela cita Valentino, Givenchy, Saint Laurent, Lady Gaga, Paris Hilton e até Sidney Sheldon, entre tantos outros. Isso chama minha atenção por que esses nomes são grifes, são marcas, e os departamentos comerciais das redes de TV sempre censuram os autores que citam marcas e nomes de celebridades em seus textos. E citar marcas e celebridades acontece todo o tempo em Ti Ti Ti.
Quando trabalhei com o meu querido Antônio Calmon na minissérie Sex-Appeal, por exemplo, aconteceu um episódio que vale a pena ser citado. Sex-Appeal era uma minissérie que, a exemplo de Ti Ti Ti, se passava no mundo da moda, com modelos, estilistas, grifes e tudo o mais. Foi a minissérie que lançou estrelas como Camila Pitanga, Carolina Dieckman, Danielle Winnits, Luana Piovani e atores como Lui Mendes e Felipe Folgosi. Pois bem. Na minissérie havia um personagem chamado Mauricinho, interpretado pelo belo e saudoso Rômulo Arantes. Mauricinho era filho do dono de uma agência de modelos. Seu nome traduzia o que era o caráter do personagem: um autêntico mauricinho. Ele era um rapaz rico, deslumbrado, que gostava de impressionar as jovens modelos da agência dos seus pais. Por causa das características desse personagem Antônio Calmon criou falas em que ele vivia citando grifes. Mauricinho adorava dizer que seu relógio era Rolex, que sua gravata era Hermès, que seu perfume era Dior, que sua camisa era Lacoste, que seu terno era Armani, que seu jeans era Dolce & Gabanna, etc e tal. A minissérie foi gravada e Rômulo Arantes deu show como Mauricinho, atuando com as falas que Calmon com tanto esmero escreveu para seu personagem.
No dia da estréia da minissérie, seguindo orientação do Departamento Comercial da Globo, o Boni (naquela época ainda havia o Boni) mandou cortar todas as falas em que o Rômulo Arantes citava as grifes. O Calmon teve o cuidado de só citar grifes estrangeiras exatamente para não ter problemas com o Departamento Comercial. Mas mesmo assim as falas foram cortadas. O Departamento Comercial alegou que as falas do personagem faziam propagandas gratuitas. Calmon fez mil alegações, argumentou que as citações eram importantes para demonstrar o deslumbramento do personagem, lembrou que a grife Dolce & Gabanna nem tinha representação no Brasil, mas não houve jeito. A participação do Rômulo Arantes ficou toda picotada. Ficou parecendo que ele fazia um personagem secundário, uma figuração de luxo, quando na verdade seu personagem foi criado para ser um dos destaques da minissérie. O pior é que tudo aconteceu depois que a minissérie já havia sido gravada e não havia mais como dar novas falas para o Rômulo, que acabou vendo seu personagem sumir da história.
(Um parêntesis: Eu amava Rômulo Arantes! Um cara muito legal. Um homem belíssimo. Um sujeito de bom coração, apaixonado pelo seu trabalho. Um artista batalhador e disciplinado. E exatamente quando ele estava começando a acontecer como ator, houve aquele acidente fatal. Que tristeza! Não consigo me conformar. Fico emocionado sempre que lembro dele com seu sorriso que era ao mesmo tempo sexy e pueril.)
Um instante, pois preciso enxugar as lágrimas!
Pois bem. Tudo o que foi negado ao Mauricinho de Rômulo Arantes na minissérie Sex-Appeal é amplamente utilizado por quase todos os personagens de Ti Ti Ti. Será que o Departamento Comercial da Globo concedeu uma autorização especial para que as marcas e as celebridades sejam citadas? Será que em tempos de internet eles conseguem faturar com todo aquele festival de citações? Não entendo o que aconteceu. Mas acho ótimo que os personagens da novela de Maria Adelaide Amaral usem e abusem de citações da cultura pop. É original quando Claudia Raia, com seu hilariante tom afetado, diz algo como: “Esse vestido nem chega aos pés de um Valentino!” Tem tudo a ver com o texto e com a novela. Adoro quando os personagens dizem que Lady Gaga ou Paris Hilton estavam em algum lugar usando um vestido do costureiro Victor Valentim.
(Um outro parêntesis: Recentemente, quando eu trabalhava na equipe da novela Os Mutantes, na Rede Record, aconteceu um episódio semelhante. Um dos redatores da equipe do Tiago Santiago, não lembro exatamente quem, escreveu uma fala em que a Irma, personagem da Patrycia Travassos, dizia que iria usar um vestido Chanel, em determinada ocasião. E o querido Tiago Santiago, preocupado com o Departamento Comercial, gentilmente pediu que a fala fosse reescrita. Achou que citar Chanel era fazer propaganda gratuita. “Citar Mademoiselle Chanel só vai acrescentar estilo, charme e elegância a Record”, disse eu, com uma gotinha de veneno...)
Outra coisa que eu adoro em Ti Ti Ti é que a novela fala em blogs o tempo inteiro. Todo mundo tem blog. As últimas notícias do mundo da moda são sempre lidas nos blogs. A palavra blog é repetida à exaustão no texto da novela. Eu, como sou um veterano do mundo blogueiro e tenho blog desde a época em que ninguém sabia o significado dessa palavra, me sinto homenageado. Essa semana, inclusive, surgiu toda uma trama na história envolvendo uma blogueira misteriosa chamada Beatrice M., que está agitando os conflitos da novela com seus posts envenenados.
Beatrice M, na verdade, é o codinome de Maria Beatriz Spina, a filha de Jaques Leclair (Alexandre Borges), personagem de uma atriz fantástica chamada Clara Tiezzi. É uma jovem atriz genial, melhor que a Tatum O´Neil quando fez Lua de Papel. Através do seu blog Maria Beatriz Spina, ou melhor, Beatrice M, está criando conflitos entre vários personagens que estão dando fôlego e provocando um tremendo ti ti ti na saborosa novela das sete.
Beatrice M, na verdade, me lembra Marina W, codinome da jornalista Adriana Rezende. Nos primórdios do mundo blogueiro, quando pouca gente tinha blog e essa ferramenta era uma novidade, Adriana criou várias personalidades, causando muita confusão na internet. Num blog ela era Marina W, no outro era Flávia Cintra, no outro era Jackie Miller, no outro era Meg. Ela criou tanto ti ti ti na web que teve gente que achava que até Waldir Leite era um personagem fictício criado por essa talentosa e criativa blogueira. Isso é que é ti ti ti!