5.11.10



Algumas das maiores dádivas de Deus são preces não atendidas.



EU VI DEUS E ELA É NEGRA – Essa é uma frase que aparece escrita num dos cartazes que os personagens da peça Hair seguram durante uma passeata. Sem dúvida o musical Hair é um belo espetáculo. Tem um elenco habilidoso que canta, dança e representa. Uma direção profissional, antenada com os valores dos musicais da Broadway. E uma produção caprichada. Apesar de ter sido um espetáculo que ficou muito associado a uma época, a virada dos anos de 1960 para 1970, nos dias de hoje Hair continua um espetáculo jovem, alto astral e comovente. Uma peça que as novas gerações podem assistir como uma aula de história, já que mostra com muita propriedade o que foi o movimento hippie, um estilo de vida que se evaporou com a história.


A dramaturgia de Hair não foi enfraquecida com o tempo. A trama ainda comove o público, já que é ambientada num período histórico muito específico. Entretanto, é fundamental ressaltar o seguinte: o ponto forte do espetáculo é a música. A música de Hair continua vibrante, moderna, envolvente. A trilha sonora não envelheceu em nada. Pelo contrário. São as músicas que conduzem a emoção do espetáculo. E é a excelência da música que torna Hair um grande musical.


Charles Moeller e Cláudio Botelho, os magos do musical no Brasil, responsáveis pela montagem de Hair, estão de parabéns. Mais uma vez eles conseguiram acertar e montar um espetáculo com as mesmas características dos musicais de Londres e Nova York. Mas eu tenho uma única restrição ao espetáculo. Acho um absurdo que Aquarius, a música mais famosa da trilha de Hair, que dá início ao espetáculo, seja cantada numa versão em português. Aquilo ficou estranhíssimo. A música é um hit há mais de quarenta anos, todo mundo conhece a versão em inglês. Quando o elenco começa a cantar a música em português soa estranho. Fica esquisito quando eles pronunciam “aquário” em vez de “aquarius”. Hoje em dia quase todo mundo sabe inglês e a música é tão incrível que ninguém precisa saber a letra para entender a música. Pena que Charles e Cláudio não tenham percebido isso. De qualquer modo, é apenas um detalhe diante da beleza que é a montagem brasileira do musical.


A sessão de estréia no Teatro Casa Grande foi frenética e badalada. O teatro lotado, a platéia vibrando com o espetáculo. Tinha Sergio Brito, Gloria Pires, Ingrid Guimarães, Tiago Lacerda, Paulo Próspero, Danielle Winnits, Denis Carvalho, Elba Ramalho, Ciro Barcelos, Totia Meirelles, Sabrina Korgut, Bruno Chateubriand, André Ramos, Zeca Camargo, Antonio Cícero, Tuca Andrada, Claudia Jimenez... e a poderosa Bárbara Heliodora. No coquetel que se seguiu a estréia muita gente comparou a atual versão com a histórica montagem do final dos anos de 1960. Denis Carvalho, por exemplo disse que adorou a montagem de Charles e Cláudio, “mas que não chega nem aos pés da primeira versão”. “É muito Broadway, muito showbizz. Falta rebeldia, contestação”, disse o coreógrafo Ciro Barcelos que, como Denis, também atuou na primeira versão.


Quem também ficou decepcionado com o espetáculo foi o psicanalista Paulo Próspero. “A questão é que a primeira versão do espetáculo montada no Brasil era absolutamente genial. A montagem brasileira era, por exemplo, mil vezes melhor do que a versão inglesa. Eu assisti no Rio e assisti em Londres e a montagem do Rio era muito melhor”, dizia Próspero, sem tirar os olhos do Tiago Lacerda. “Hair é um espetáculo que pede ousadia e transgressão e falta isso nessa nova montagem. É bem feito, tudo certinho, mas falta rebeldia. O problema é que o Charles Moeller e o Cláudio Botelho são muito caretas e só viram o lado Broadway da peça”, continuou Próspero, hipnotizado pela beleza do Tiago Lacerda.


Um dos grandes momentos do espetáculo é a famosa cena em que o elenco tira toda a roupa e fica todo mundo nu em cena. É um elenco jovem. Rapazes e moças no frescor da juventude. É uma coisa linda a nudez do elenco de Hair. Mas Paulo Próspero, ainda sem tirar os olhos de Tiago Lacerda, criticou esse momento mágico do espetáculo. “Na versão original o elenco ficava nu, descia do palco e ficava circulando no meio da platéia. Em 1968 isso era ousadíssimo. Hoje em pleno século 21 a gente vê essa nudez contida”.


Veja um trecho de Hair na Broadway:

Veja a sensacional abertura do filme Hair, de Milos Forman:

(Fotos de Waldir Leite)

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