A audácia sem juízo é perigosa, e o juízo sem audácia, inútil.
SOU UM FEIXE DE NERVOS EXPOSTOS - Wilma Lessa foi uma mulher incrível. Inteligente, culta, elegante, guerreira. Era uma feminista com muita convicção e sofria muito por viver num mundo muito machista. Ela não aceitava a idéia da mulher existir para atender aos interesses dos homens. Houve um período da minha vida que tivemos uma convivência muito próxima. Tivemos noitadas memoráveis em festas, bares e boates. Passeios inesquecíveis em praias distantes. E também compartilhamos momentos bacanas em seu apartamento cheio de livros. A literatura era uma paixão comum. Ela escrevia contos e poemas e era louca por Juan Rulfo, um incrível escritor mexicano. Os latinoamericanos eram seus escritores favoritos. Sentada no sofá da sua casa, bebericando uma taça de San Raphael, sacudindo as enormes pulseiras em seu pulso de pele imaculadamente alva, ela lia trechos de livros de Vargas Lhosa, Garcia Marquez e Manuel Puig. E a trilha sonora era sempre com Ornella Vanone, Astor Piazzolla e Belchior. Wilma era uma pessoa muito intensa. Vivia a vida com muita verdade, com muita paixão. Quando ela morreu, em pleno carnaval, fiquei muito triste. Outro dia sua irmã Noemi me mandou alguns dos seus poemas. Fazem parte do projeto de um livro que teria por nome "Sou um feixe de nervos expostos". Já os li tantas vezes e sempre imagino estar ouvindo sua voz os recitando em voz alta.
Hoje minha pele reagiu
A teu cheiro
estes costados largos
o calor intermitente
A história se repete
mas a gosma da boca
saliva grossa
é outra
única
porque tua
mas a gosma da boca
saliva grossa
é outra
única
porque tua
E me alimenta
No âmago
Aquela coisa interna
invisível aos olhos
Mas que habita
Aquela coisa interna
invisível aos olhos
Mas que habita
Cada poro
Centímetro de pele
Cabelos
Arrepios.
Qual vento bravio
Mas que aquece
E acalma
DESCOBERTA
Constatei em pânico
Que intrincheirada
Nas barreiras intelectivas
Sondava-me a paixão.
Nas barreiras intelectivas
Sondava-me a paixão.
Hesitei,
Perplexamente não senti
Recuei frente ao óbvio:
E como um heterossomo
Mantive-me ao fundo
Deitada sobre os olhos
Que não vêem
Porque amar dói
Perplexamente não senti
Recuei frente ao óbvio:
E como um heterossomo
Mantive-me ao fundo
Deitada sobre os olhos
Que não vêem
Porque amar dói
Preferi ficar mofando
Da paixão que te guiava
E fazer pirraça
Para não admitir
Estou lhe amando, homem
Nenhum comentário:
Postar um comentário