Não devo perguntar o que fizeram de mim, e sim o que vou fazer com o que fizeram de mim.
TRISTES CAMELOS - Um pequeno romance existencialista. Assim é o livro Tristes Camelos, de Daniel Corrêa, que a Editora Faces acaba de lançar. Com um sensível uso das palavras o jovem autor narra uma intrigante paixão não correspondida. Há um frescor na narrativa de Tristes Camelos. E também uma suavidade na tristeza do personagem narrador ao reafirmar a prioridade da existência sobre a essência. Há um poema impregnado em cada parágrafo, como se o autor quisesse seduzir o leitor, da mesma forma em que busca seduzir a mulher alvo de sua paixão. É belo e consistente.
Um trecho de Tristes Camelos:
Quando mostrou o rosto , a voz e o sonho, não soube que era como espelho. Tudo parecia resto de outros rostos, pedaços de outros abraços e sonhos quebrados entre os dela. E eu era assim tão dela , e sabia, até mais que eu poderia, que moraria entre os dedos dela se soubesse ser ela. Não quero dizer agora que a amo ou justificar por que me escondi. Ou por que não notei ou pelo menos não demonstrei que senti o ar sumir quando ela chegou com aquele jeito, e andava como se anda com os dedos no piano, chovia dentro de mim e fazia tudo esmaecer. Lembro da voz, do rosto no ombro, do modo como se entregava à música. Tirou meu ar ao entrar. Queria ficar ali, me ajoelhar, beijar e lamber a barriga. Queria implorar de novo.
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