QUEM TEM MEDO DE BÁRBARA
HELIODORA? – A poderosa crítica teatral do jornal O Globo não poderia passar
despercebida nos festejos de reinauguração do Teatro Ipanema, o evento cultural
do ano. Em três dias, os festejos em torno do Teatro Ipanema proporcionaram
momentos de grande prazer para os fãs da arte de representar. E um desses momentos foi a performance
de Zé Celso Martinez Corrêa. Ele tentou recriar um trecho de Artaud, peça
encenada pelo saudoso Rubens Correa que, com seus parceiros Ivan de Albuquerque
e Leila Ribeiro, fundaram o teatro.
Em meio ao texto surrealista de
Artaud, Zé Celso improvisava fazendo pequenos discursos contra a hipocrisia, o
conservadorismo, o pensamento de direita, ao mesmo tempo em que celebrava a
anarquia e a liberdade política e sexual. Num dado momento o ator/encenador
desceu para a platéia e ficou circulando entre o público. Festejou os grandes
nomes do teatro brasileiro, lembrou que ali era um verdadeiro templo da arte
brasileira. Elogiou a Prefeitura por ter comprado o teatro antes que alguma
seita religiosa o fizesse.
Na platéia, sentada ao lado do
Secretário Municipal de Cultura, Emílio Kalil, Bárbara Heliodora a tudo
assistia, com cara de poucos amigos. Ela tinha adorado o monólogo de Maria
Padilha, texto da peça Quero, de Manuel Puig. E
também a participação de Xuxa Lopes, que mostrou lindamente um trecho da
peça Prometeu Acorrentado. Depois ainda teve Paulo José, Cláudio Tovar e José de
Abreu lendo trechos de O Beijo da Mulher Aranha, grande sucesso ali encenado. Qualquer
um podia ver a alegria e o prazer estampados no semblante de Madame Heliodora.
Quando Zé Celso entrou em cena,
ela fechou a cara. Não escondeu de ninguém o seu desconforto com a performance
do criador do Teatro Oficina. Num dado momento, Martinez Correia fumou um
cigarro de maconha em pleno palco. Disse que aquele era um ato de transgressão
para batizar o teatro. Depois de vários tragos, ele passou o baseado para a platéia.
“Alguém devia matar esse velho!”,
resmungou Bárbara Heliodora para Emílio Kalil, irritada com a performance do
ator. O secretário municipal de cultura ficou lívido. Depois, quando estava
circulando pela platéia, Zé Celso lembrou de seu irmão, o saudoso Luiz Antônio
Martinez Correia. Diante de Madame Heliodora ele gritou: “A crítica arrasou a
peça do meu irmão O Casamento do Pequeno Burguês, de Bertold Brecht. Isso é
inadmissível”.
Bárbara Heliodora não se dignou a
olhar para ele. Olhava para o vazio, como se estivesse em outro lugar do planeta. Depois,
quando Zé Celso voltou para o palco, ela virou-se para Emílio Kalil e, se referindo ao encenador, murmurou
entredentes: “Eu devia abatê-lo a tiros...”
É por essas e por outras que eu
a-d-o-r-o Bárbara Heliodora...