TRIBUTO A MANUEL PUIG – A
terceira noite de festa do Teatro Ipanema foi uma celebração, uma homenagem a
Manuel Puig. O escritor argentino teve uma ligação muito forte com o teatro. Ali
foi encenada a adaptação teatral do seu livro mais famoso, O Beijo da Mulher
Aranha. Foi um grande sucesso de público
e crítica. Rubens Correa e José de Abreu deram vida aos personagens Molina e
Valentin, dois prisioneiros encarcerados pela ditadura militar argentina. Molina
era uma bichona desvairada que adorava filmes dos anos 40 e 50. Tinha sido
preso por que os militares consideravam sua bichice uma ameaça a moral e aos
bons costumes. Valentin era um guerrilheiro, envolvido com um grupo que
combatia a ditadura. Presos na mesma cela esses personagens viviam uma história
de conflitos, divergências, solidariedade e paixão.
O Beijo da Mulher Aranha foi
adaptado para o teatro por Paulo José e Dina Sfat. A direção foi de Ivan de
Albuquerque. A peça era sensacional. Os atores davam um show. Um rigor cênico
impressionante. Foi, sem dúvida, um momento mágico do teatro brasileiro. Uma
peça inesquecível.
Depois de ler um trecho da peça,
José de Abreu contou um pouco de suas lembranças da convivência com Rubens
Correa e com Manuel Puig. Na época Puig morava no Leblon e, todos os dias, ia ao
teatro pegar o seu percentual da bilheteria. “Ele saía do teatro com os bolsos
cheios de dinheiro e voltava para casa de ônibus. Dizia que táxi era muito
caro. Puig era um pão duro”, disse Abreu.
O sucesso da versão teatral de O
Beijo da Mulher Aranha deixou o autor feliz e realizado. Então ele escreveu um
texto originalmente para o palco e encarregou o pessoal do Teatro Ipanema de
encená-lo. A peça chamava-se Quero, um drama familiar que tinha o clima e a
linguagem de sua principal obsessão: o cinema americano dos anos 30 e 40, que
ele adorava. Mais uma vez Ivan de Albuquerque dirigiu e Rubens Correa atuou ao
lado de Leila Ribeiro, Vanda Lacerda, Edson Celulari e Maria Padilha. Foi mais
um acerto do Teatro Ipanema. Uma linda montagem, com rigorosa direção cênica e
atuações primorosas. Um grande espetáculo.
Na festa de reinauguração do
Teatro Ipanema Maria Padilha subiu ao palco para representar um monólogo que
faz parte dessa peça. Foi emocionante vê-la recitando o texto de Puig. “O
grande Manuel Puig”, como ela se referiu, depois da sua atuação, quando contou
ao público a sua história com aquele palco, aquela peça e todos os que fizeram a
história do Teatro Ipanema.