Não condene um suicida
Não condene um suicida
Como taxar de covarde aquele que
Resolveu regar as azaleias no céu?
Será Deus tão injusto e cruel
A ponto de expurgar do Paraíso
O homem cansado de hostilidade
Que decidiu se dar o tiro de misericórdia?
Será egoísmo da bela moça
Apressar a sua liberdade
Diante do casamento do seu
Ex-marido com a sua ex-confidente fiel?
Digerir nossas angústias
Nossos sofrimentos e aflições
É digno de louvor?
Saber viver é conservar-se triste
Feito a atriz resignada com o fracasso
Cheirando éter no camarim?
Que moral é esta
Que joga flores em túmulos
E comida na lata do lixo?
Nossos desatinos não são
Menos oportunos
Que nossos suplícios.
Sou pelos que ardem de febre à meia-luz
Pelos que clamam por selvagens orgias
Diante de práticas hiperfagias
E um saco de pipoca em frente à tela de um computador .
Mas se um dia faltar-me o vigor
Uma bala de prata ao meu crânio oferecerei
Então em minha lápide escrevam, por favor:
Bravamente se foi e viveu feito um rei!