15.2.14



REVOLUÇÃO DE 64 COMPLETA 50 ANOS – As lembranças que tenho do governo militar são lembranças que estão atreladas a minha infância. Eu era menino quando os militares estavam no auge do poder político. Lembro que minhas tias Vasti e Virgínia me levavam para assistir a parada militar. Elas gostavam de ver o desfile e paquerar os soldados. E eu ia junto, menino, adorando tudo aquilo. Até hoje, todos os anos, eu vou à parada de 7 de Setembro. E aquele sentimento de infância me bate forte quando acontece o desfile, quando vejos os soldados marchando e a banda de música tocando o Cisne Branco, o hino da marinha, que é uma das músicas mais bonitas que eu já ouvi.

Minhas tias diziam que comunistas comiam criancinhas. Comiam no sentido alimentar, no sentido canibal. E isso marcou minha infância. E não eram só elas. Lembro de outros adultos comentando, sempre baixinho, em tom conspiratório, que os comunistas comiam criancinhas. Falavam outras coisas horríveis sobre os comunistas, mas, o que me atingia era essa história de que os comunistas comiam criancinhas. Eu ficava assustado e sempre me imaginava sendo assado num espeto. “Será que eles botam algum tempero? Sal, molho à campanha, pimenta do reino?”, eu me perguntava, nas minhas fantasias.

Havia muita ignorância sobre o que era realmente o comunismo e essa ignorância sobre algo que não se conhecia gerou muito conflito, muita dor, naqueles tempos. Lembro que certa vez carros do exército pararam em frente a casa de um vizinho da nossa rua. Eles ficaram o dia inteiro parado lá na porta, enquanto lá em casa se cochichava que eles estavam atrás do dono da casa, que era comunista. Daí eu e meus irmãos fomos proibidos de brincar com os filhos dele. E minhas tias pararam de falar com a mulher do vizinho. Mas eu me recusei a aceitar as determinações dos adultos. Eu era um menininho, mas já tinha personalidade. Continuei falando com meus vizinhos. Lembro de uma vez que minha tia Virginia, ao me ver falando com a vizinha, me puxou rude pelo braço e me disse no ouvido, entredentes. “Eles são comunistas e comunistas comem criancinhas”.

Essas lembranças da minha infância me serviram de inspiração para escrever o livro Ipanema em Lágrimas, que vai ser lançado no próximo dia 20 de Fevereiro, na Livraria da Travessa, em Ipanema. É, essencialmente, uma história de ficção sobre o governo militar, que em Março completa 50 anos. Mas os pilares que sustentam a história são as lembranças que tenho da minha infância, quando se dizia que comunistas comiam criancinhas.

Leia o livro no site da Editora Faces 

2 comentários:

osnumerosdaminhavida disse...

sempre arrasando,querido! muito sucesso!tertu

Patrícia disse...

Voltei ("aqui é o meu lugar"...rs) após um tempinho sem acessar o seu blog e já estou amando tudo! Próxima compra; seu livro. Beijos mis!

Madonna vem aí...

 

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