20.5.15


O impossível reside nas mãos inertes daqueles que não tentam.


A CINZA DAS HORAS - Adoro ir na Livraria da Travessa e ficar fuçando os livros. Leio as primeiras páginas dos lançamentos para ter uma ideia do que está sendo publicado. E acabo gostando de tudo. Tenho paixão pela leitura. Sinto vontade de ler todos os livros. Outro dia, lá mesmo na Travessa li o conto "Axilas", num volume do Rubem Fonseca. O conto é sensacional. É absolutamente preciso no seu objetivo de contar uma história e envolver o leitor. E dentre todos os contos que havia no livro, eu escolhi ler "Axilas" por conta de um episódio curioso. A primeira vez que eu ouvi falar do Rubem Fonseca, quando adolescente, foi através de uma amiga muito querida, Wilma Lessa. Ela estava lendo o primeiro livro do Rubem, O Cobrador. Na época ele era apenas um autor brasileiro que estava sendo bem recebido pela crítica após o lançamento do seu primeiro livro. Não era o monstro sagrado da literatura que é nos dias de hoje. Um autor que, há muito, já devia ter recebido o Prêmio Nobel de literatura. Pois bem. Wilma Lessa me recomendou o livro e, com seu sorriso largo e seu braço cheio de pulseiras me mostrou um trecho do livro. "Olha que coisa incrível que ele escreveu", me disse ela. Era um trecho em que o escritor dizia que nos bailes de carnaval, as mulheres dançavam com os braços levantados, exibindo os suvacos como se fossem as próprias bocetas. Sempre que leio um livro do Rubem lembro dessa história. Por isso não resisti quando vi seu conto "Axilas".

A exemplo do escritor, eu também adoro suvacos e axilas... 

Mas, voltando à Livraria da Travessa, ontem mesmo li várias páginas de um livro chamado "Sono", do japonês Haruki Murakami. Uma escrita curiosa e envolvente. Um texto, ao mesmo tempo suave e contundente. Além disso, o livro foi lançado numa edição super luxuosa, com capa dura e páginas ilustradas. Fiquei tentado a comprar o livro, mas acontece que em casa eu já tenho uma pilha de livros para ler e resisti à tentação. Se eu pudesse largava tudo nessa vida e me dedicava apenas aos livros. A editora Amarilys acabou de lançar uma incrível biografia do czar Pedro, o Grande. Um volume com 1.084 páginas. Pelos trechos que li, acredito que devem ser 1.084 magníficas páginas.

Outro dia fuçando a seção de poesia encontrei um volume de "A cinza das horas", um clássico da literatura brasileira, publicado pela primeira vez em 1917. Devorei os poemas de Manuel Bandeira com encanto e.paixão. Já tinha lido o livro quando garoto, mas foi como se o tivesse lendo pela primeira vez, depois de percorrer uma longa e tortuosa estrada da vida. Foi um encontro mágico e emocionante: sentir o livro nas mãos e sorver os poemas como o néctar de uma flor rara. Por conta desse meu encontro com o livro do Bandeira, reproduzi um dos poemas no meu Facebook. Quis compartilhar com meus amigos aquele deleite. E a reação das pessoas foi muito boa, com comentários que mostravam o quanto aquele poema publicado em 1917 tinha tocado o coração delas.




Epígrafe 

Sou bem-nascido. Menino, 
Fui, como os demais, feliz. 
Depois, veio o mau destino 
E fez de mim o que quis. 

Veio o mau gênio da vida, 
Rompeu em meu coração, 
Levou tudo de vencida, 
Rugiu como um furacão, 

Turbou, partiu, abateu, 
Queimou sem razão nem dó – 
Ah, que dor! 
Magoado e só, 
– Só! – meu coração ardeu: 

Ardeu em gritos dementes 
Na sua paixão sombria... 
E dessas horas ardentes 
Ficou esta cinza fria. 

– Esta pouca cinza fria...


Desencanto 

Eu faço versos como quem chora 
De desalento... de desencanto...
 Fecha o meu livro, se por agora 
Não tens motivo nenhum de pranto. 

Meu verso é sangue. Volúpia ardente... 
Tristeza esparsa... remorso vão... 
Dói-me nas veias. Amargo e quente, 
Cai, gota a gota, do coração. 

E nestes versos de angústia rouca 
Assim dos lábios a vida corre, 
Deixando um acre sabor na boca. 

– Eu faço versos como quem morre



Imagem 

És como um lírio alvo e franzino, 
Nascido ao pôr do sol, à beira d’água, 
Numa paisagem erma onde cantava um sino 
A de nascer inconsolável mágoa... 

A vida é amarga. O amor, um pobre gozo... 
Hás de amar e sofrer incompreendido, 
Triste lírio franzino, inquieto, ansioso, 
Frágil e dolorido...



                      

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