TROPICÁLIA - Um dos personagens mais interessantes do Festival do Rio é o produtor Lincoln Phipps, que veio trazer para o festival Hollywood Não Surfa, um documentário sobre a relação da indústria do cinema com o surf. Com depoimentos de Quentin Tarantino, Steven Spielberg e John Millius o filme faz um apanhado de tudo o que Hollywood produziu tendo o surf como tema. As grandes ondas, os corpos bronzeados, a cultura do surf, a música, as roupas, o fascínio do Havaí... O documentário investiga com humor e paixão a relação do cinema americano com o surf. É imperdível.
Lincoln Phipps também está envolvido com outro importante filme do festival. Ele é produtor associado do filme brasileiro Corações Sujos, dirigido por Vicente Amorim. "A wonderful film", diz ele com orgulho do longa que é uma adaptação do livro homônimo do escritor Fernando Morais. Realmente, como disse o produtor, Corações Sujos é um filme maravilhoso. É quase todo falado em japonês, apesar da história ser ambientada no Brasil durante o final da Segunda Guerra. Com uma direção visivelmente influenciada por Sergio Leone e Bertolucci, Corações Sujos tem a estrutura e o charme de um bom filme de cowboy americano. "O que eu mais gosto no filme é que ele parece um bom filme americano, meio thriller, meio filme de cowboy", foi o que me disse o pai do diretor, o Ministro da Defesa Celso Amorim, que estava na platéia quando da exibição de gala, no Cine Odeon.
O preconceito contra os japoneses que vieram para o Brasil, fugindo da guerra, é o tema central de Corações Sujos. Aqui eles eram vistos como inimigos, já que lutavam contra os americanos, considerados aliados do Brasil. Não podiam cultivar sua bandeira, nem demonstrar sentimentos de patriotismo. Eram vistos com desconfiança pelos brasileiros. Ao mesmo tempo, existiam conflitos dentro da própria comunidade, já que muitos japoneses não admitiam a rendição do Japão perante os EUA. É a partir desse conflito que se densenrola a trama de Corações Sujos. Ação, suspense, amor, violência e redenção são os ingredientes narrados por uma direção culta e técnica, com uma bela fotografia e um impressionante elenco de atores japoneses, mais a participação especial de Eduardo Moscovis. As cenas, por vezes quase operísticas, como gostava de filmar Sergio Leone, são pontuadas por uma belíssima trilha sonora composta pelo maestro japonês Akihiko Matsumoto. A música, que às vezes nos remete a Phillipe Glass, Vangelis e Ennio Moricone, é praticamente um personagem da trama. E um personagem fantástico.
Lincoln Phipps já sabe o filme que vai trazer para o Festival do Rio em 2012. Seu próximo trabalho é um documentário sobre um dos mais relevantes movimentos artísticos brasileiros: a tropicália. "Sou louco pela música brasileira, por isso decidi fazer esse documentário sobre Caetano, Gal e todos os outros", me disse ele, na sede do festival, diante da bela vista do cais do porto. O filme já está sendo rodado e vai contar com depoimentos e cenas de filmes, anúncios e programas de TV do Brasil, entre 1968 e 1970, época em que eclodiu o movimento.
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