Waldir Leite
18.4.24
26.9.23
Baseado meu amor...
O
STF discute a descriminalização da maconha. Num momento em que as grandes
cidades brasileiras vivem num clima de guerra civil por conta dos conflitos
entre traficantes, policias e milicianos, é importante que seja feita essa
descriminalização, pelo menos para que os consumidores deixem de ser considerados
criminosos. O que se espera com isso é que diminua a tensão nesse ambiente
sombrio que envolve o comércio e o consumo de drogas. É algo que precisa ser
resolvido com urgência, mas o juiz terrivelmente evangélico decidiu “pedir
vistas” com a intenção de protelar a decisão sobre um assunto que precisa ser
resolvido com urgência. Enquanto isso balas perdidas pipocam por toda a cidade,
atingindo seus alvos preferenciais de jovens cidadãos pobres e pretos. Não
precisa ser nenhum cientista, sociólogo ou profundo conhecedor das questões
ligadas a segurança pública para perceber que o combate as drogas através de
ações policiais é um projeto fracassado. O comércio de drogas envolve muito
dinheiro e a corrupção dos agentes da lei acaba se tornando inevitável. É
preciso criar alternativas para lidar com a questão das drogas. Legalizar a
maconha, como já fizeram o Uruguai, o Canadá e a Holanda parece uma possibilidade
convincente. Algo que o Brasil já devia ter sido feito faz muito tempo. O país
é um grande produtor de maconha e não podemos esquecer o lado financeiro da
questão. A maconha é uma atividade
econômica lucrativa e pode render bons dividendos, inclusive para o sertão
brasileiro, região pobre do país, conhecida por produzir uma planta de
excelente qualidade.
Mas,
quando falamos no aspecto financeiro da maconha, devemos lembrar que o comércio
dessa planta herbácea da família das canabiaceas é uma atividade econômica
altamente lucrativa. E não apenas para os traficantes. A maconha também é um grande
negócio para a polícia e o poder judiciário.
Descriminalizar
significa tirar algo do âmbito criminal. Deixar de ser crime. Sendo assim é o
caso de se perguntar se a justiça tem interesse de tirar do âmbito criminal um
produto que é tão lucrativo para ela própria. Ora, vejamos. Muita gente vende e
consome maconha. Isso é crime. Sendo assim muita gente é presa e/ou processada
pela venda e pelo consumo. A prisão ou processo por esse crime movimenta o
poder judiciário. Advogados, policiais, procuradores, juizes, cartórios: todo o
circo do meio jurídico é mobilizado para prender, julgar, processar, soltar,
absolver ou condenar aqueles envolvidos nessa atividade ainda considerada
criminosa. E sabemos que os profissionais do poder judiciário costumam cobrar
caro pelos seus serviços. A pergunta
que deve ser feita é a seguinte: será que o judiciário vai querer abrir mão dos
lucros que obtém tendo a maconha como um crime? Será que o poder judiciário vai
querer perder essa boca?
26.8.23
Nos embalos do tatame
Com
uma exibição apenas para convidados num confortável cinema da UCI, na Barra, foi
lançada a série televisiva “Dos samurais ao MMA. 500 anos de luta”. A apresentação juntou os cinco capítulos da série
concedendo um ar de documentário de longa-metragem ao projeto, algo que foi
reforçado pelo fato de ter sido exibido numa sala de cinema.
A
série é uma tentativa bem sucedida de contar a história das artes marciais
desde o surgimento no Japão dos samurais, até os dias de hoje, quando adquiriu
um status de um esporte refinado. Para isso a produção se utiliza de ótimos
depoimentos de pesquisadores, estudiosos e praticantes de diversas artes
marciais que discorrem sobre os vários aspectos históricos, filosóficos e existenciais
que levam o homem a lutar. Uma compilação de filmes, vídeos, fotos,
ilustrações, trucagens, desenhos animados e efeitos especiais compõem a
narrativa dessa história de força e beleza. E uma elaborada trilha sonora impõe
um ritmo épico a narrativa.
Assim
o espectador descobre que tudo começou com os samurais do Japão medieval. Enquanto
tornavam mais refinados seus estilos de combate esses guerreiros descobriram
que a luta entre dois homens poderia significar um processo de aprendizado e equilíbrio
mental e não apenas uma simples exibição leviana de força e violência. Com o passar
do tempo os lutadores japoneses foram levando seus conhecimentos sobre lutas, adquiridos
de seus ancestrais, para outros continentes, como a América do Norte e a
Europa. Mas foi a chegada ao Brasil, através do jiu-jitsu, que fez toda a diferença
no crescimento da luta como arte, esporte e estilo de vida. E a série é muito feliz ao mostrar como a
cultura brasileira, o jeito de ser do homem brasileiro foi fundamental para uma
compreensão mais aprimorada do que foram as dúvidas e dádivas dos samurais do
Japão medieval. A chegada ao Brasil significa a entrada em cena da família Gracie,
cujos integrantes se estruturaram como uma dinastia e dedicaram suas vidas à
prática e ao exercício do jiu-jitsu. Assim como a promoção e projeção dessa
arte marcial que deu origem ao judô, mas que naquele momento histórico era
pouco praticada, por estar sendo vista como ultrapassada. Os Gracies recriaram o jiu-jitsu à moda
brasileira, injetando alma, vigor e paixão. E conquistaram o mundo com essa
prática que hoje está muito mais associada ao Brasil do que ao próprio Japão.
Por isso os lutadores no exterior gostam de afirmar que praticam o “brazilian
jiu-jitsu”.
A
série é um programa de TV atraente, mesmo para quem não é adepto das artes
marciais. É um espetáculo fascinante para qualquer tipo de público. Os personagens que ilustram a história são
interessantíssimos: impetuosos, arrojados, aguerridos, despojados, corajosos,
românticos e apaixonados. A história tem
tramas, dramas, ação, aventura, amor, ódio, paixão e compaixão. E comédia.
Muita comédia. Tem momentos muito comoventes sobre dramas humanos e tragédias
pessoais de alguns personagens. Mas noutras ocasiões são narrados episódios tão
divertidos que poderiam estar num programa de humor.
A
série é um projeto do jornalista e fotógrafo Marcelo Alonso, um dos personagens
mais interessantes do universo das artes marciais. Sendo ele mesmo, desde muito
jovem, praticante do jiu-jitsu, decidiu dedicar sua vida a promover e divulgar
as artes marciais. Durante 15 anos foi editor da revista Tatame, considerada a
bíblia das artes marciais no Brasil. Nos bons tempos em que o jornalismo
impresso ainda não tinha sido destruído pela internet, a revista Tatame fazia
sucesso nas bancas com edições luxuosas, bem editadas, bem fotografadas e
textos primorosos. E por trás de tudo isso estava o talento desse visionário. Exímio
fotógrafo, ele tem um impressionante acervo com fotos dos principais atletas do
Brasil e do mundo, além de imagens de todos os grandes torneios e campeonatos.
Dedicado e perseverante, tem um profundo conhecimento sobre tudo o que diz
respeito ao seu esporte. É uma verdadeira enciclopédia sobre o assunto. E isso
faz dele um dos jornalistas mais originais do Brasil.
“Dos
samurais ao MMA. 500 anos de luta” é uma produção da Ciranda Filmes e do
Combate, canal do YouTube dedicado a exibição, promoção e divulgação de todos
os tipos de lutas de competição. Apesar de ter sido exibida para convidados no
formato de um longa-metragem, a série será exibida a partir do dia 21 de agosto
no Canal Combate em cinco capítulos. Vale a pena conferir.
Quem vai fazer a reforma política?
Cinema é a maior diversão
Muitos
filmes já foram produzidos tendo o próprio cinema como tema principal.
Clássicos como Crepúsculo dos Deuses, de Billy Wilder, O dia do gafanhoto, de
John Schlesinger ou mesmo A noite americana, de François Truffaut. Retratos
Fantasmas é um desses filmes. Um mergulho nas peculiaridades do próprio cinema
tendo como resultado um filme comovente e definitivo.
Crepúsculo
dos deuses mostra a decadência de uma grande estrela de Hollywood. O dia do gafanhoto
narra a vida dura dos figurantes que sonham com um personagem que tenha pelo
menos uma fala. A noite americana mostra os bastidores da realização de um
filme. Retratos Fantasmas trata das antigas salas de cinema onde filmes de cineastas
como Wilder, Schlesinger e Truffaut foram exibidos num passado nem tão distante,
encantando e fazendo sonhar multidões de apaixonados por filmes em todo o
mundo. Numa época em que não havia videocassete,
nem DVD, nem internet, nem cinemas de shopping, os filmes eram exibidos em
grandes salas de exibição construídas especialmente para essa finalidade. As
salas eram verdadeiros templos. E curiosamente, muitas delas hoje se transformaram
em igrejas.
Os
novos tempos, a TV e a tecnologia criaram novas formas de assistir filmes, que
acabaram deixando as grandes salas obsoletas. Com o advento das TV´s de alta
definição, qualquer um pode ter um cinema no conforto de sua casa. Mas o imenso
prazer de sair de casa e se dirigir a um templo para assistir uma película na
sala escura, ao lado de pessoas desconhecidas, está ficando cada vez mais raro.
Os
chamados “cinemas de rua” faziam parte do apreço pela sétima arte nos idos do
século 20, algo que acabou com a chegada do admirável mundo novo que é o século
21.
Retratos
Fantasmas se debruça sobre esse fenômeno, que é internacional, a partir dos
cinemas que existiam em Recife, cidade natal do diretor. O filme comove e
emociona ao fazer uma investigação apaixonada sobre o processo de decadência
dos grandes cinemas de rua, ao mesmo tempo em que exerce a função primordial de
qualquer filme que é encantar e divertir a plateia. Com um saboroso clima de
nostalgia, mas sem ressentimento, o filme mostra o que restou e em que se tornaram
alguns dos melhores cinemas do Recife. Salas imensas que lotaram multidões numa
época em que os grandes campeões de bilheteria tinham títulos como Doutor
Jivago, Ben Hur, Um homem uma mulher, Inferno na Torre, Os brutos também amam,
Perdidos na noite, Love Story, O exorcista, Casablanca e tantos outros. No lugar
de cinemas como o Trianon, Veneza, Moderno, Art-Palácio, Ritz, Pathé, Astor,
Eldorado e Coliseu entre outros, o que existe são igrejas, farmácias, depósitos
e supermercados. Ou então prédios deteriorados, abandonados e caindo aos pedaços.
Esse é o caso do Art Palácio, que marcou época exibindo El Cid, Barbarella e Os
girassois da Rússia. O interior dessa sala é mostrado já em decadência, mas
onde ainda é possível observar o luxo que foi no passado. Numa entrevista
comovente o encarregado de projetar os filmes durante décadas se queixa que
alguns filmes ficavam muito tempo em cartaz. Ele faz rir quando lembra que foi
um sacrifício ter que ficar projetando cinco sessões diárias de O poderoso
chefão durante quatro meses.
Outro
grande momento são as cenas da inauguração do luxuoso cine Veneza, em dezembro
de 1970, com uma badalada sessão do filme Aeroporto. O dono do cinema, Luiz
Severiano Ribeiro, criador da máxima de que “cinema é a melhor diversão”,
aparece recebendo todo o high society
recifense, incluindo o então governador de Pernambuco Nilo Coelho, acompanhado
da primeira-dama. Com seus lustres
imensos, escadarias, tapetes vermelhos e uma suntuosa sala de espera, o Veneza
marcou época exibindo campeões de bilheteria como O outro lado da meia noite, Sissi,
a imperatriz, O grande Gatsby, A dama do lotação, Ainda agarro essa vizinha e
Hair. Na seqüência vemos a sala nos dias de hoje, apenas um galpão abandonado
que parece um lugar mal assombrado, como se fantasmas da velha Hollywood
andassem por ali, em busca do aplauso de algum cinéfilo desesperado.
Retratos
Fantasmas é o filme de uma vida dedicada ao cinema. A vida do diretor Kleber
Mendonça Filho, um gênio do cinema brasileiro. Na primeira parte ele mostra as
imagens que fazia quando garoto, do apartamento onde morava com a família, na
praia de Boa Viagem. E quem viu seus filmes vai perceber de onde saíram os
personagens e as tramas de clássicos como O som ao redor e Aquarius. Ele exibe
cenas antigas do lugar, inclusive quando a cidade recebeu a visita de Tony
Curtis e Janet Leigh com o intuito de promover o cinema de Hollywood no
nordeste. Era um lugar charmoso e quase paradisíaco. Na seqüência o filme nos
revela como Boa Viagem está nos dias de hoje, dominada por arranha-céus
assustadores. Essa introdução serve para preparar o espírito do espectador para
o que ele vai ver, e para lembrar que as mudanças são inevitáveis e não há nada
que possamos fazer a esse respeito.
Em
Retratos Fantasmas tudo é assim: belo e mágico. Tudo é cinema. E o cinema é
mesmo a maior diversão.
12.5.23
Julia de Nunez: a nova Brigitte Bardot
E DEUS CRIOU BRIGITTE - Foi lançada na França a cinebiografia de Brigitte Bardot, a estrela que causou uma revolução sexual quando estreou no filme "E Deus criou a mulher". E a mídia francesa está encantada com Julia de Nunez, atriz escolhida para o papel. A revista Paris Match a chama de sublime. Os críticos a aprovam como atriz, mas reclamam que ela não conseguiu reproduzir a voz de BB que, segundo eles, foi fundamental para o sucesso retumbante.
25.4.23
The lost room
A MÚSICA NÃO PODE PARAR - Que tal uma nova canção da dupla Pet Shop Boys? "The lost room" acabou de ser lançada. A música é ótima, naquele estilo inconfundível dos Pets. Para embalar seu novo hit os rapazes criaram um videoclipe exótico, todo feito com cenas do filme "O jovem Torless", lançado em 1966 pelo diretor alemão Volker Schlondorff. Uma adaptação para o cinema do livro de estreia do escritor Roberto Musil, autor de O homem sem qualidades. Segundo eles, a música e as imagens retratam quão confuso está o mundo em que estamos vivendo.
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