31.12.07





A paciência é a mais proveitosa virtude.


Quem teve a idéia de cortar o tempo em fatias, a que se deu o nome de ano, foi um indivíduo genial. Industrializou a esperança, fazendo-a funcionar no limite da exaustão. Doze meses dão para qualquer ser humano se cansar e entregar os pontos. Aí entra o milagre da renovação e tudo começa outra vez, Com outro número e outra vontade de acreditar, que daqui para diante vai ser diferente.

Carlos Drummond de Andrade





Receita de Ano Novo

Para você ganhar belíssimo Ano Novo
cor do arco-íris, ou da cor da sua paz,
Ano Novo sem comparação com todo o tempo já vivido
(mal vivido talvez ou sem sentido)
para você ganhar um ano
não apenas pintado de novo, remendado às carreiras,
mas novo nas sementinhas do vir-a-ser;
novo
até no coração das coisas menos percebidas
(a começar pelo seu interior)
novo, espontâneo, que de tão perfeito nem se nota,
mas com ele se come, se passeia,
se ama, se compreende, se trabalha,
você não precisa beber champanha ou qualquer outra birita,
não precisa expedir nem receber mensagens
(planta recebe mensagens?
passa telegramas?)

Não precisa
fazer lista de boas intenções
para arquivá-las na gaveta.
Não precisa chorar arrependido
pelas besteiras consumidas
nem parvamente acreditar
que por decreto de esperança
a partir de janeiro as coisas mudem
e seja tudo claridade, recompensa,
justiça entre os homens e as nações,
liberdade com cheiro e gosto de pão matinal,
direitos respeitados, começando
pelo direito augusto de viver.

Para ganhar um Ano Novo
que mereça este nome,
você, meu caro, tem de merecê-lo,
tem de fazê-lo novo, eu sei que não é fácil,
mas tente, experimente, consciente.
É dentro de você que o Ano Novo
cochila e espera desde sempre.

(Carlos Drummond de Andrade)








OS GAYS MAIS DE 2007 - Quem foram os gays mais influentes do ano? Aqueles que deram muita pinta. Que foram criativos, inteligentes, divertidos. Os que fizeram de 2007 um ano mais cor de rosa. A lista, que é pura comédia, foi publicada AQUI


28.12.07




A gratidão não somente é a maior das virtudes, mas é a origem de todas as outras.


DEIXEM O RIO SÃO FRANCISCO EM PAZ – Eu apoio Letícia Sabatella e o Bispo Dom Luiz Cappio. Sou totalmente contra a transposição do Rio São Francisco para irrigar as terras do sertão nordestino. Se Deus quisesse que o sertão tivesse água teria feito um rio na região. Simples assim, como diz aquele anúncio da OI. Acho que a transposição não vai acabar com a seca no nordeste. Vai acabar secando o rio que já tem muitos problemas correndo no seu curso natural.


É um absurdo que, em pleno século 21, políticos brasileiros ainda usem a seca do nordeste como argumento para seus projetos megalomaníacos na região. Por causa da seca já foi criada a Sudene, que despejou milhões de dólares na região desde os anos 60 e nunca resolveu o problema por que os recursos sempre foram embolsados pelo podersoso da região. Também por causa da seca foi criado o Banco do Nordeste do Brasil. Milhões de dólares já foram gastos pelo Banco e os problemas derivados da seca nunca são resolvidos.


Do ponto de vista político o problema da seca é um assunto velho, antigo, ultrapassado. Os problemas da seca do nordeste é assunto dos anos 50 do século passado. A região nordeste tem condições de compensar os problemas da seca com seus próprios recursos. A região tem um litoral belíssimo, praias paradisíacas, uma cultura fantástica, gastronomia própria e riquezas naturais. Os prejuízos que os estados do nordeste têm com a seca podem muito bem ser recuperados pelo turismo. Até porque a região nordeste fica mais perto da Europa e dos Estados Unidos, e podem atrair com mais facilidade turistas endinheirados do chamado primeiro mundo.


É inadmissível que, em pleno século 21, o governo brasileiro ainda se utilize da seca do sertão nordestino como plataforma para delírios políticos. Isso só mostra como o governo brasileiro, os políticos e os partidos são agarrados ao passado. Eles insistem em ignorar a existência da internet, do telefone celular, da moderna medicina. Eles se comportam como se o tempo não tivessem passado. Gostam de manter as coisas no atraso, pois isso é vantajoso para eles. As questões de segurança pública, os projetos sociais, as obras faraônicas. Tudo é administrado como se nós ainda estívessemos em meados do século 20.


A seca é uma característica da região nordeste e deve ser assumida como tal. Mas os políticos nordestinos não perdem a oportunidade de usar esse aspecto da região para angariar recursos do governo federal para seus delírios de grandeza. Por trás da transposição das águas do São Francisco está mais um esquema de interesses escusos de políticos pilantras do nordeste.




CIRO GOMES É UM JECA – Um dos articuladores do projeto da transposição das águas do São Francisco junto ao governo é o deputado Ciro Gomes. Apesar de ter nascido em Pindamonhangaba, em São Paulo, Ciro foi criado e fez carreira política no Ceará, onde é considerado um exemplo de político moderno. Kakakaka! Aquele seu ar pedante e aquela jequice disfarçada em erudição impressionam os eleitores cearenses que votam nele massissamente. Foram capazes até de, por osmose, elegerem o irmão de Ciro governador do estado. Mas, por trás daquela pretensão de ser moderno, está um político antigo, conservador, neo-oligarca, que quer fazer história no seu curral eleitoral como o homem que levou água ao sertão. Com uma obra faraônica Ciro Gomes pretende não só mudar o destino do povo cearense como resolver o seu complexo por ter um pau pequeno.


O cearense é o povo mais recalcado do Brasil. Meus amigos que nasceram no Ceará que me perdoem, mas é verdade. O cearense é cheio de complexo com relação ao restante do povo brasileiro. Ele se acha feio, baixo, de cabeça grande, burro e atrasado. E fica querendo compensar esse complexo acreditando que é melhor, mais inteligente, mais esperto, mais gostoso. O cearense quer tudo para ele. O Ciro Gomes é um homem que traduz muito bem esse jeito de ser do povo do Ceará.


18.10.07




O sonho é o domingo do pensamento.


A CRUCIFICAÇÃO DE JEAN CHARLES – Pobre Jean Charles. Teve uma morte brutal. Sete tiros na cabeça. Agora os advogados de defesa dos agentes da polícia inglesa que o mataram, tentam difamá-lo. Para justificar que o brasileiro estava tendo um comportamento suspeito foi apresentada a versão, confirmada por um médico, de que o jovem tinha traços de cocaína na urina. Como se isso, de alguma forma, pudesse justificar o comportamento criminoso dos policiais ingleses. A família de Jean Charles deveria processar a polícia da Inglaterra por danos morais. Calúnia e difamação. O mais impressionante no infortúnio desse rapaz, é a omissão do governo brasileiro. A gangue do PT lavou as mãos para a tragédia que atingiu esse pobre trabalhador, que foi tentar uma vida melhor na Europa. Se Lula fosse realmente um grande estadista teria no infortúnio desse rapaz uma excelente plataforma para se colocar no cenário político internacional. Mas, não adianta, o Lula é um jeca e ponto final.

Jean Charles é uma vítima inocente da guerra do Iraque. Uma vítima da política fascista de George W. Bush e Tony Blair. Os anglo-saxões invadiram o Iraque e, por conta disso, trouxeram a guerra para o ocidente. Os militares, policiais e agentes de segurança desses países estão todos paranóicos com as conseqüências da guerra perpetrada por seus governantes. E foi essa paranóia que fez com que eles matassem o pobre do Jean Charles. Que gente cruel. Mataram o pobre rapaz com sete tiros na cabeça e ainda tentam inocentar os criminosos. A rainha da Inglaterra é uma puta!



GUSTAVO XIMÚ VAI AOS STATES – O niteroiense Gustavo Lindgren Machado da Silva ficou famoso no circuito internacional de lutas com o nome artístico de Gustavo Ximú. Ele já era campeão carioca de luta livre quando, em 2.000, se consagrou vencendo o Rings Vale Tudo, no Japão. Numa disputa sensacional, em apenas um minuto e meio o atleta derrotou o japonês Wataru Sakata. Na seqüência outros japoneses foram beijar o tatame depois de nocauteados pelo destemido de Niterói: Yuki Sasaki, Keiichiro Yamamiya e Kiyoshi Tamura. A próxima luta internacional de Ximú será no próximo dia 26 de Outubro, em Denver, Colorado. Seu adversário será John Cronk, um americano feioso conhecido como O Exterminador.


13.10.07




Quando alguém o abraçar não seja você o primeiro a soltar os braços.


SE EU FOSSE MARADONA – O verão brasileiro, que começa esse fim de semana com a entrada em cena do horário de verão, já tem uma trilha sonora. La Radiolina , o novo disco do músico francês Manu Chao, tem as canções definitivas para embalar a lerdeza dos dias de calor que estão por vir. O disco é belíssimo. Com um ritmo caliente e dengoso o músico concede uma comovente honestidade ao seu sentimental pop globalizado. O suingue, a malemolência e a sensualidade dos trópicos pululam a cada uma das faixas. Manu Chao faz uma música que nos convida a dança, mesmo nos momentos em que ela nos parece triste. Entretanto, a tristeza dos acordes é permeada por tamanha beleza sonora que não há como não se deixar embalar pela música e tudo o que ela promete em termos de prazer sonoro. Parece que o artista quer nos levar ao êxtase com a verdade de suas cantigas.

O CD é uma sucessão de belas canções: Me llaman calle, Otro mundo, Mala fama, Besoin de la lune, Picola Radiolina... É cada uma melhor que a outra. Mas a música fetiche do álbum chama-se La Vida Tômbola, uma balada existencialista onde o artista presta uma original homenagem ao craque Maradona. É uma canção que gruda no ouvido graças ao seu ritmo. Versos pungentes descrevem a impotência do ser humano diante do destino ao comentar o temperamento do jogador argentino, para quem a vida é um jogo de azar. Tômbola é uma espécie de jogo de azar, víspora, loto. É pouco provável que outra música toque mais fundo o verão 2008 que a singela La vida tômbola.

Si yo fuera Maradona
viviría como él
si yo fuera Maradona
frente a cualquier portería
si yo fuera Maradona
nunca m’equivocaría
si yo fuera Maradona
perdido en cualquier lugar.

La vida es una tómbola…
de noche y de día…
la vida es una tómbola
y arriba y arriba….

Si yo fuera Maradona
viviría con él…
mil cohetes… mil amigos
y lo que venga a mil por cien…
si yo fuera Maradona
saldría en mondovision
para gritarle a la FIFA
¡Que ellos son el gran ladrón!

La vida es una tómbola…
de noche y de día…
la vida es una tómbola
y arriba y arriba….

Si yo fuera Maradona
viviría como él
porque el mundo es una bola
que se vive a flor de piel

Si yo fuera Maradona
frente a cualquier porquería
nunca me equivocaría…

Si yo fuera Maradona
y un partido que llamar
si yo fuera Maradona
perdido en cualquier lugar…



12.10.07




Procure ser um homem de valor em vez de procurar ser um homem de sucesso.

LULA É MINHA ANTA - Está chegando às livrarias neste fim de semana o novo livro do jornalista Diogo Mainardi que tem o sugestivo título de Lula é minha anta. Kakakakaka. Em Lula é minha anta, Mainardi, um dos mais polêmicos e conhecidos comentaristas da cena política brasileira, reúne uma coletânea de crônicas sobre o escândalo do mensalão publicadas pelo autor na revista Veja, da qual é colunista. Mas não se trata de uma reunião pura e simples dos primorosos textos de Mainardi sobre os escândalos de Brasília. No livro, as crônicas são alinhavadas com comentários inéditos revelando os bastidores da construção de cada texto.


O texto de orelha de Lula é minha anta, escrito pelo próprio autor, é um prenúncio da leitura inteligente e prazerosa que se encontrará no livro: Lula é meu. Eu vi primeiro. Agora todo mundo quer tirar uma lasca dele. Até os jornalistas que sempre o apoiaram. Chamam-no de ignorante. Chamam-no de autoritário. Como assim? Lula tem dono. Só eu posso chamá-lo de ignorante e autoritário. O resto é roubo. Roubaram Lula de mim. Então tá, Diogo. Então tá!


Mainardi também é uma das estrelas da última edição da revista Playboy, que tem a arrivista Mônica Veloso, a amante de Renan Calheiros, na capa. Ele é o entrevistado do mês, mas a entrevista não tem nada demais. O afilhado de Gore Vidal apenas repete todo aquele blá-bla-blá que o público está cansado de ouvir no Manhattan Connection. O gostoso no livro do Mainardi é que ele é implacável com Lula. Ainda sobre o chato do presidente Mainardi escreve:

Falei tanto de Lula nos últimos anos que quase me sinto seu amigo. Tão amigo quanto Roberto Teixeira, acusado de favorecer uma empresa que fraudava as prefeituras petistas. Tão amigo quanto Mauro Dutra, acusado de desviar verbas do programa Primeiro Emprego. Tão amigo quanto Francisco Baltazar, acusado de negociar com o doleiro Toninho da Barcelona. Tão amigo quanto Paulo Okamoto, acusado de montar o esquema de arrecadação paralela do PT. Duvido que todas essas denúncias sejam verdadeiras. José Dirceu garantiu que os petistas não roubam. Ou melhor, ele garantiu que os petistas não "róbam", roubando, inadvertidamente, a língua portuguesa.

Quem melhor definiu Lula foi o próprio Lula. Ele disse: "Não fui eleito presidente por méritos pessoais ou como resultado da minha inteligência". Eu, que sempre falei mal dele, fui obrigado a aplaudir. Ele realmente não foi eleito por méritos pessoais ou como resultado de sua inteligência. Há quem me acuse de ter motivos pessoais para amolar Lula. Bobagem. Tenho tanto interesse por Lula quanto pelo zelador do meu prédio. O motivo de minha implicância é público. Acho que os brasileiros, por falta de experiência democrática, atribuem uma importância exagerada ao presidente da República. Um presidente é só um burocrata medíocre que a gente contrata por quatro anos para desempenhar uma tarefa que nenhuma pessoa minimamente sensata estaria disposta a desempenhar. Ele não é nosso chefe: nós é que somos chefes dele.






A MULHER QUE ABALOU A REPÚBLICA - A presença de Mônica Veloso nas páginas da Playboy é uma das coisas mais imorais da história da República. Não pelo fato dela estar nua, obviamente. Mas pela desfaçatez com que a edição dessa revista celebra a presença dela na vida brasileira. Mônica Veloso é uma puta, no sentido mais baixo do termo. A mulher foi amante de um dos maiores gangsters da política brasileira, um sujeito mafioso que durante anos saqueou o Brasil. E depois é celebrada como um simbolo sexual? Eu, caso fosse heterossexual, jamais me daria ao trabalho de tocar uma punheta pensando numa buceta que foi comida pelo Renan Calheiros. Será que os milhares de brasileiros punheteiros, leitores da revista, vão gastar sua porra com essa puta? Não posso acreditar...


A Playboy é uma revista muito escrota. Ao ver as fotos dessa ordinária espalhadas nas bancas de toda a cidade, a primeira coisa que me vem a cabeça é isso: a Playboy é uma revista muito escrota. Parece um deboche. Com tanta puta bacana dando sopa nesse país, com tanta mulher bonita querendo sair nas páginas da revista, por que logo essa meretriz? Essa vagabunda que chupava o pau daquele canalha? Além de sermos roubados e feitos de otários, ainda somos obrigados a aturar isso? Mônica Veloso como simbolo sexual? Só no conceito de uma revista escrota como a Playboy.


O mais incrível é que a piranha se apresenta como jornalista. Puta que pariu! Já não bastava a Miriam Dutra, aquela outra "jornalista" que teve um filho com FHC? Eu ando impressionado com a quantidade de putas que existe na imprensa brasileira. Como tem puta no meio jornalístico! Hoje em dia, de certa forma, a palavra prostituta já está quase virando sinônimo de jornalista. As chamadas buceteiras, mulheres que fazem das suas bucetas uma espécie de passaporte para o progresso, descobriram que o jornalismo é uma excelente ferramenta para suas aspirações. Elas se formam jornalistas por que a profissão permite o acesso a homens importantes: empresários, políticos, esportistas, artistas... Daí elas marcam uma entrevista com um senador, por exemplo, e na hora aparecem sem calcinha.


A prostituição dentro do jornalismo é um escândalo do tamanho daqueles que costumam pipocar na capital federal. Brasília é uma cidade cheia de jornalistas piranhas. E não só lá. As redações estão cheias de putas que fizeram carreira na profissão fodendo com os editores, ou com os donos de jornais. As piranhas dão suas bucetas para seus chefes em troca de colunas assinadas, editorias ou para serem apresentadoras dos telejornais. O curioso é que, quanto mais piranhas, mais metidas elas são. Todas as maiores putas da nossa imprensa se acham grandes jornalistas. Como se elas tivessem chegado até ali por competência profissional. Whal... Isso depende do critério de avaliação...


9.10.07




O futebol não é o fim de mundo. É algo muito maior do que isso.


TRICOLOR DE CORAÇÃO – A vitória do Fluminense no jogo contra o Flamengo encheu o meu coração de alegria. Fazia tempo que eu não ia ao Maracanã, mas o retorno foi triunfal. 2 X 0 é um placar gratificante. E ganhar do arrogante Flamengo sempre dá um sabor a mais. Foi uma emoção rever o estádio lotado. Depois da reforma, a área onde ficava a geral do Maracanã ficou incrível, só com cadeiras numeradas. Não tem aquela bagunça gostosa da arquibancada, mas dá para ver o jogo bem mais perto. Cheguei cedo e pude circular entre os torcedores do time adversário. Encontrei meus queridos amigos Augusto e Rodrigo. Eles são flamenguistas convictos e estavam certos que iam vencer. Ficamos assistindo, no telão, cenas de antigos Fla x Flus, filmados pelo Canal 100. A galera vibrava com trechos de jogos que marcaram época. Jogos do tempo em que os jogadores usavam calções mais curtos, que mostravam mais as pernas, e os deixavam bem mais sexies.


Eu ainda nem tinha me concentrado no jogo e, logo no primeiro minuto, o Fluminense fez um gol. A festa na torcida tricolor me deixou com os olhos marejados. Sou tricolor de coração, sou do time tantas vezes campeão..., cantava a multidão, enquanto a bola rolava em campo. Um jogo muito bem disputado, afinal o adversário também jogou um bolão. O segundo gol foi logo no começo do segundo tempo. Eu estava bem localizado e vi toda a jogada de um ângulo privilegiado. Os flamenguistas foram guerreiros, mas não era o dia deles. O domingo foi do Fluminense, da torcida tricolor e do Renato Gaúcho, nosso glorioso treinador.

Adoro Renato Gaúcho. Eu não me conformava na época em que ele era treinador do Vasco. Nunca entendi porque o Flu abriu mão dele. Ainda bem que a diretoria tomou vergonha e o chamou de volta. Renato é a cara do Fluminense. Nos telões do Maracanã, foram exibidos trechos dos jogos do Campeonato Estadual de 1995. Inclusive o inesquecível gol da final, quando Renato marcou, aos 42 minutos do segundo tempo, o gol da vitória. O famoso gol de barriga. Enquanto o telão exibia as cenas da partida memorável a torcida tricolor gritava, provocando os adversários: de barriga, de barriga, de barriga...

Aos quarenta minutos do segundo tempo os torcedores rubro-negros começaram a abandonar o Maracanã. E enquanto eles saíam do estádio, a torcida tricolor cantava uma musiquinha de despedida, cuja letra, um primor do mau gosto, dizia assim: Tu és um time de otário cuzão, puta, veado e ladrão, adeus mengão






Canção do vento e da minha vida


O vento varria as folhas,
O vento varria os frutos,
O vento varria as flores...
E a minha vida ficava
Cada vez mais cheia
De frutos, de flores, de folhas.

O vento varria as luzes,
O vento varria as músicas,
O vento varria os aromas...
E a minha vida ficava
Cada vez mais cheia
De aromas, de estrelas, de cânticos.

O vento varria os sonhos
E varria as amizades...
O vento varria as mulheres...
E a minha vida ficava
Cada vez mais cheia
De afetos e de mulheres

O vento varria os meses
E varria os teus sorrisos...
O vento varria tudo!
E a minha vida ficava
Cada vez mais cheia
De tudo.

Manuel Bandeira

4.10.07




Se os homens soubessem tudo o que as mulheres pensam, seriam vinte vezes mais ousados.


EUCLYDES MARINHO E AS MULHERES – O roteirista de TV Euclydes Marinho estreou em grande estilo no cinema com Mulheres Sexo Verdades Mentiras. Muito mais que uma homenagem, o filme do Euclydes é uma celebração à mulher. É um canto de amor às mulheres e a maneira delas entenderem o mundo. Depois de ter visto o filme cheguei à conclusão que só o Euclydes poderia ter contado aquela história. Afinal, de todos os homens que já conheci na vida, Euclydes é o que, realmente, mais gosta das mulheres. E isso não tem nada a ver com o falto dele ser heterossexual. Tenho vários amigos que são heterossexuais e detestam as mulheres, apesar de se sentirem sexualmente atraídos por elas. O caso do Euclydes é diferente. Ele se sente sexualmente atraído pelas mulheres, mas, ao mesmo tempo, ele também gosta delas. Gosta da companhia, gosta de cuidar, gosta das coisas que elas fazem e, acima de tudo, tem muita paciência com elas. E paciência é a palavra chave para lidar com as mulheres.


O filme conta a história de uma cineasta que está dirigindo um documentário sobre o que as mulheres pensam do sexo. Ao mesmo tempo em que mostra os depoimentos reais encenado por atrizes, o filme conta a história da cineasta vivida por Júlia Lemmertz, e como a realização daquele trabalho está interferindo na sua vida pessoal. Tudo filmado com muita leveza, muita graça. Num tom que oscila entre o Trauffaut e o Almodóvar.


As mulheres dizem coisas geniais sobre sexo e sobre o que elas esperam do sexo. Falam sobre o que elas querem e o que consideram ideal. E falam sobre os homens, é claro. Falam muito de pau. Portanto, quem gosta de pau, não deve perder esse filme. Numa determinada cena o personagem da Priscilla Rozembaum diz para uma amiga: “Eu adoro saco. O saco tem vida própria...” O filme é muito divertido. Tem um humor saudável. E uma pureza impressionante. Acho que isso é o que é mais bacana do filme: fala de sexo com pureza.


A paixão do Euclydes Marinho pelas mulheres é lendária. Ele já namorou algumas das mulheres mais interessantes do Rio de Janeiro. Quando eu o conheci ele era casado com Cristine Nazaré, uma mulher adorável, atriz e roteirista, que hoje mora em Los Angeles. A atriz Patrycia Travassos, que é uma mulher moderna, feminista no bom sentido, quando quis ter seu filho escolheu o Euclydes, a despeito dele ser casado com sua grande amiga Cristine. E isso não interferiu em nada na amizade das duas.


O fascínio de Euclydes pelas mulheres começou cedo. Quando tinha apenas dezesseis anos, um menino ainda, Euclydes largou sua vida hedonista na zona sul do Rio, para viver num sítio em Mauá com a atriz Odete Lara, na época uma deusa do sexo do cinema brasileiro. Ele já fez a felicidade de mulheres como Amora Mautner, Denise Bandeira e Graça Motta. Todas o amam de paixão e falam dele com carinho e ternura, mesmo depois dos casamentos já terem acabado. Até a mal humorada Maria Carmem Barbosa já namorou o Euclydes. Aliás, só o bondoso Euclydes para saciar a voracidade da ninfomaníaca Maria Carmem.

Renata Sorrah foi outra grande paixão do Euclydes Marinho. Ele não conseguiu resistir ao charme nem ao carisma da grande diva do teatro brasileiro. A doce e bela Renata viveu um romance com o escritor. A relação amorosa também rendeu uma parceria artística. Euclydes dirigiu Renata na peça Shirley Valentine, o único monólogo da carreira da atriz. Rainha dos palcos, ela esteve brilhante no papel de uma dona de casa comum, com marido e filhos, que um dia decide pirar e mandar o seu mundo certinho às favas. E o apaixonado diretor, tendo a atriz só para ele, soube tirar o máximo da estrela. Foi um espetáculo inesquecível.

Lilibeth Monteiro de Carvalho, a empresária, uma das diretoras do Grupo Monteiro Aranha, personalidade mágica do society carioca, também foi uma das paixões do Euclydes. Lilibeth estava na platéia do cine Estação Ipanema por ocasião da exibição do filme durante o Festival do Rio. “Eu não podia deixar de vir assistir ao seu filme”, disse ela carinhosa, depois de dar um beijo no diretor.






GUS VAN SANT E OS ADOLESCENTES – A exibição de Paranoid Park lotou a sala do Estação Ipanema de skatistas. A garotada estava excitada com a possibilidade de assistir ao filme que parece ter sido feita para sua tribo. Paranoid Park é sobre jovens que andam de skates. Por conta disso o filme é recheado de cenas com garotos bonitinhos mostrando suas habilidades em cima de suas pranchas sobre rodas. Tem cenas belíssimas das manobras radicais dos teens em câmera lenta, sublinhadas com as magníficas trilhas sonoras de filmes de Fellini. Acreditam que Gus Van Sant fez isso? Filmou garotos andando de skate ao som dos temas que Nino Rota compôs para clássicos como Amarcord e Julieta dos Espíritos. Talvez por isso o filme tenha sido premiado em Cannes.


O universo adolescente é uma obsessão na cinematografia do premiado Gus Van Sant. Seus filmes sempre mostram jovens mal saídos da infância, com aquele desabrochar da beleza que a idade induz, vivendo situações barra-pesada. O jovem protagonista de Paranoid Park mata um homem acidentalmente com seu skate perto do lugar que dá titulo ao filme. E sua vida entra num turbilhão por causa disso. O diretor se aproveita desse plot para praticar um exercício de paixão pela adolescência. E celebrar a eternidade que a juventude inspira.


Os personagens de Paranoid Park têm o mesmo distanciamento do mundo real que os personagens de My own private Idaho, o clássico com os meninos Keanu Reeves e River Phoenix se prostituindo para sobreviver. Todos vivem alheios ao mundo trágico que os cerca. Também são assim os adolescentes do filme Elefante, ganhador da Palma de Ouro, que conta o drama dos alunos fuzilados por dois colegas numa escola americana. Na cinematografia de Van Sant há uma nostalgia da juventude, como se ele estivesse sempre querendo viver naqueles tempos que não voltam mais.






RANDY COUTURE E OS ADVERSÁRIOS – Um documentário sobre lutas de Vale-Tudo foi uma das atrações do Festival do Rio. O personagem central do filme é o atleta Randy Couture, conhecido como “The natural”, campeão de lutas greco-romana dos EUA que se tornou um dos mais famosos lutadores de MMA-Mixed Martial Arts, que no Brasil é conhecida como Vale Tudo. Entrevistas de Randy e de seu treinador Rico Chiaparelli são intercaladas com sequências de lutas e cenas dos bastidores dos torneios. O depoimento de adversários, assim como da mulher e da filha de Randy complementam o filme. A participação do brasileiro Vitor Belfort é um dos momentos cruciais do documentário, já que a vitória de Randy sobre Vitor é o ponto alto da carreira do americano. O filme mostra várias seqüências da luta, com Randy explicando as técnicas que usou para desestabilizar o brasileiro. A luta entre Randy e Vitor foi tão voraz que, num determinado momento, o brasileiro rasgou o sungão do adversário. Ainda bem que ele estava usando uma sunga vermelha por baixo.


O filme é interessante para os fãs de torneios de artes marciais. Mas não é um filme definitivo sobre o tema. Pelo contrário. O mundo das artes marciais ainda tem muito a ser explorado pela mídia e pelo cinema. Nossos cineastas podiam aproveitar que alguns dos maiores nomes desse esporte são brasileiros e levar esse tema para as telas. O Vale tudo ainda pode render bons filmes.






O GENERAL MARCO AURÉLIO E OS PARAQUEDISTAS – O filme de Evaldo Morcazel, Brigada Pára-Quedista é bem produzido e mostra o cotidiano do Grupamento de Pára-quedistas do Exército. São cenas de treinamentos na selva, exercícios físicos e provas de resistência. Tudo a que se submetem os soldados que buscam a glória de ser um PQD. O filme também exibe belas seqüências de saltos de pára-quedas e o depoimentos de soldados contando da emoção que sentiram.

O filme é narrado pelo General Marco Aurélio, do Estado Maior da Forças Armadas. É ele que, como um Mestre de Cerimônias, apresenta ao espectador o quartel, os soldados e os valores cultivados pelo exército. Charmoso e carismático, o General Marco Aurélio dá um depoimento muito interessante sobre a vida brasileira. Fala dos objetivos específicos das Forças Armadas. E o quanto a instituição sofre com o preconceito e o revanchismo, conseqüências da ditadura militar. Ele dá ênfase ao fato que muitos ainda julgam o exército de hoje pelos militares da época da ditadura visando diminuir a importância dos militares. Fala com muita propriedade e serenidade das questões relativas a Segurança Pública. Demonstra ter muito mais entendimento dos problemas do país que a maioria dos políticos pilantras que andam saqueando o Brasil.

Viva Caxias!


28.9.07




Lembre-se de que um pontapé na bunda é sempre um passo pra frente.

A VERDADEIRA TROPA DE ELITE O Exército brasileiro, tão injustiçado, incompreendido e desvalorizado nos dias que correm, acaba de receber uma bela homenagem do cinema brasileiro. Trata-se do filme PQD, um documentário sobre jovens soldados do Grupamento de Pára-quedistas do Exército. Um filme divertido e comovente que revela um belo e original retrato do povo brasileiro. PQD, sigla da palavra pára-quedista, é uma jóia rara. Uma obra-prima. Um filme mágico, que merece figurar entre os melhores documentários do cinema brasileiro.



O filme

PQD acompanha, durante um ano e meio, o cotidiano de jovens que entram para o Exército na esperança de serem admitidos como pára-quedistas. O filme retrata a convivência dos jovens no quartel, os sonhos de cada um, os exercícios físicos, as crises, os momentos de alegria, as decepções e as vitórias. Ao mesmo tempo os soldados são filmados na sua vida privada: a casa, a família, a namorada. E, ao fazer isso, o filme exibe um inusitado painel do povo brasileiro, exatamente a camada mais pobre da população. O bacana é que PQD não os mostra como coitadinhos, sem perspectivas, abandonados pelo sistema como faz a maioria dos nossos filmes. PQD retrata pessoas pobres, de origem humilde, mas que sabem muito bem o que querem. Têm desejos, ambições e estão dispostos a batalhar por isso de forma honesta. E esse aspecto é que torna PQD um filme interessante e digno de nota.

PQD se detém mais profundamente na história de oito soldados. Eles mesmos contam suas histórias de vida, às vezes ao lado dos familiares, às vezes sozinhos. Tem o caso do soldado Leandro, um rapaz lindo, que é criado pela avó. A mulher conta que o pai do soldado estava se preparando para ser padre, quando uma garota muito assanhada invadiu seu quarto e o seduziu. “Ele queria ser padre, mas também era homem. Deu apenas uma e engravidou a moça”, diz a mulher, arrancando risadas do público. A garota engravidou e a mãe do seminarista pegou o rapaz para criar, enquanto o pai dele seguiu o sacerdócio. “Eu sou avó e mãe dele”, diz a mulher com doçura, recebendo o carinho do neto-filho, na humilde sala de sua casa.

Noutra seqüência muito bacana um soldado aparece chegando em casa, depois de uma semana de treinamentos. A câmera mostra a rua esburacada, a casa simples que ainda está sendo construída, os poucos móveis. No entanto, há uma dignidade naquele ambiente. Isso fica mais claro quando chega a mãe dele e a câmera flagra o encontro entre os dois. O orgulho dela ao ver o filho militar e a felicidade dele por estar fazendo a mãe feliz. Depois a mulher fala do filho e diz que foi por causa dele que ela largou a bebida e a prostituição. Que desde garoto ele dava conselhos para ela, dizendo que a vida deles ia melhorar. E que agora ela via que estava melhorando. É impossível conter as lágrimas nesse momento.

Há também o caso do soldado Jhoseph Ferreira. O nome dele se escreve assim mesmo: Jhoseph. Um rapaz lindo. Uma coisa deslumbrante. Um galã do subúrbio que parece ter saído de um filme do Visconti. É o Alain Delon da Baixada. Seu semblante tem uma aura de ternura, de bondade. Ao mesmo tempo sua expressão denota firmeza, masculinidade. Eu seria capaz de escrever um blog inteiro só falando do charme irresistível do soldado Jhoseph. Poucas vezes o cinema brasileiro teve um galã com o carisma e o charme viril desse pára-quedista do nosso Exército. Quando surge na tela ele é puro cinema. É sonho, fantasia e desejo.

No filme Jhoseph é o soldado que dá certo. As cenas em que aparece em casa, ao lado do pai, são muito engraçadas. Ele é o sujeito que batalha pelo seu sonho, participa dos treinamentos, dá um duro danado, mas consegue vencer. São muito bonitas as sequências em que eles dão os primeiros saltos de pára-quedas gritando mamãe. No final do filme o belo Jhoseph aparece como um vencedor, recebendo uma nova turma de soldados. E isso é que é interessante. O filme acompanha a trajetória de todos os soldados. Alguns, por razões diversas, são dispensados pelo Exército ao final de um ano e meio. Um deles, que não teve muita sorte, dá um depoimento emocionado: “Eu nunca vou esquecer tudo o que eu vivi no quartel. Eu posso até ter deixado de ser soldado, mas eu nunca vou deixar de ser um PQD”.

Lágrimas, lágrimas, lágrimas...




A noite de estréia

Os soldados do Grupamento de Paraquedista foram a grande atração da festa de lançamento do filme PQD no Festival do Rio. Os astros do filme compareceram ao Cine Odeon au grand complet, ou seja, fardados. Os soldados Jhoseph Ferreira e Tiago Santana, os galãs do batalhão, estavam arrasadores com suas fardas de gala. Wagner Moura? Marcelo Anthony? Fabio Assunção? Esqueçam essa gente. Eles não significam nada diante da beleza expressionista e do talento natural dos soldados Jhoseph Ferreira e Tiago Santana. Se vivos, Visconti e Pasolini me dariam razão...

O público que lotou o Cine Odeon foi recebido pela Banda do 25. Batalhão de Infantaria que tocava desde temas militares, canções como Lili Marlene, até o tema do seriado Bonanza. Aqueles jovens soldados, rapazes simples do subúrbio, nunca vão esquecer essa noite. A noite em que eles foram os astros. Os artistas de cinema. As figuras mais importantes. Os protagonistas. Afinal os flashes dos fotógrafos eram apenas para eles. Havia uma fila enorme de espectadores ansiosos para vê-los na tela. E os curiosos da turma do gargarejo, atrás das grades que formavam o cercadinho em frente ao Odeon, sem entender a presença de tantos militares por ali. Alguns soldados foram acompanhados da mãe, do pai, ou da namorada, que não conseguiam disfarçar o orgulho. Dentro da sala escura a emoção foi grande. Afinal, o público vibrou o tempo inteiro com o filme. Sorriu e deu gargalhada quando os rapazes se fizeram comediantes. E se comoveu quando o filme os flagrou sentimentais, vivendo a vida de peito aberto.

PQD, dirigido por Guilherme Coelho, com roteiro de Nathaniel Leclery, estréia nos cinemas dia 23 de Novembro. E para provar que os pára-quedistas estão mesmo na ordem do dia, na próxima semana será exibido, também no Festival do Rio, Brigada Pára-Quedista, do cineasta Evaldo Morcazel, um outro documentário sobre os pára-quedistas militares. Pois é. Parece que o cinema brasileiro está redescobrindo o Exército.

Viva Caxias!

26.9.07




A adversidade é um trampolim para a maturidade.


FESTIVAL DO RIO Duas cantoras têm suas vidas contadas em filmes exibidos no Festival do Rio. Edith Piaf, a diva da canção francesa, emociona o público com sua vida trágica e com o poder de sua voz. Dulce Veiga, personagem fictício criado pelo escritor gaúcho Caio Fernando Abreu, ganha vida no imaginoso filme de Guilherme de Almeida Prado. O filme sobre Piaf é uma obra-prima do cinema francês. O filme sobre Dulce Veiga uma jóia rara do cinema brasileiro.




PIAF – UM HINO AO AMOR – O diretor Olivier Dahan transformou a vida e a arte de Edith Piaf num filme encantador. Através de um roteiro correto e uma direção eficiente o público assiste hipnotizado as reviravoltas da curta e sofrida vida da artista. Entretanto, o eixo central do filme, o que o diretor achou mais importante ressaltar, foi o quanto visceral o canto significava para aquela mulher. A voz, a música, o jeito de cantar era algo como a sua respiração. Sem aquilo ela não conseguiria viver mais do que alguns segundos.


O filme começa com Piaf já célebre e famosa cantando nos Estados Unidos. No meio do show ela desmaia. Enquanto médicos tentam reanimá-la, um flash-back mostra cenas dramáticas da sua infância. O abandono da mãe alcoólatra; o pai, um pobre artista de circo, que a deixa para ser criada num bordel; a doença nos olhos, que quase a deixa cega, e o milagre que faz com que ela volte a enxergar; a primeira vez que cantou em público aos nove anos de idade; a vida boêmia nos subúrbios de Paris durante a adolescência. Esses fatos são entrecortados com cenas da Piaf adulta, sendo descoberta por um empresário que logo é misteriosamente assassinado. Seu envolvimento com drogas e bebidas, assim como sua carência afetiva.


O crítico do New York Times, acostumado com o academicismo do cinema americano, estranhou a narrativa que mistura vários períodos da vida da cantora. Mas, a inventividade do roteiro resulta num filme fascinante e belo como a interpretação de Piaf para a canção Non, je ne regrette rien. Marion Cotillard, a atriz que interpreta a Piaf adulta é uma danadinha. Seu desempenho é algo de muito especial. Ela tem carisma, graça e força dramática. Os números musicais reforçam a magia contida na voz e na música de Piaf e se transformam em deleite para os antigos e novos fãs da artista.



Há muito sofrimento na vida de Piaf. Há muito que chorar acompanhando o desenrolar dos dramas e das reviravoltas da curta vida da cantora. Mas no filme Piaf – Um hino ao amor, o drama que mais toca o coração da platéia é a história do seu romance com Marcel Cerdan, personagem do ator e músico francês Jean-Pierre Martins. Marcel é um homem belíssimo, um lutador de boxe charmoso, encantador. O sonho de toda mulher. Ela se apaixona por ele e o filme, maquiavélico, faz com que a platéia também caia de amores pelo rapaz. No auge do romance Marcel morre num acidente de avião. O modo como o filme conta esse episódio da vida de Piaf é de cortar o coração. É compreensível que nunca mais ela tenha conseguido ser feliz. Ninguém nesse mundo seria capaz de superar a perda de um homem como Marcel. Ninguém...






ONDE ANDARÁ DULCE VEIGA? – Público brasileiro: esqueça o machismo démodé do filme Tropa de Elite. Existe vida inteligente no cinema nacional. Existe um cinema que está mais interessado no talento que no sensacionalismo. E vale registrar: finalmente o cinema brasileiro tem um filme realmente gay. O diretor Guilherme de Almeida Prado foi ovacionado no cinema Leblon pelo público que se deleitou com a sua versão para as telas do romance de Caio Fernando Abreu Onde andará Dulce Veiga?


O romance que deu origem ao livro foi publicado em 1990. Conta a história de um jornalista que busca uma cantora muito famosa no passado, mas que abandonou a carreira no auge do sucesso e sumiu sem deixar rastros. A Dulce Veiga do titulo é uma personagem inspirada na atriz Odete Lara que abandonou a carreira ainda no auge e foi viver num sítio numa cidade do interior, longe de tudo e de todos. O romance, uma jóia da literatura brasileira, tem um clima de filme noir e parece ter sido escrito na esperança de ser filmado.


Guilherme de Almeida Prado sempre teve o filme noir como inspiração para os seus filmes. Não é por acaso que o mais famoso de seus títulos chama-se A dama do cine Shangai, uma quase paródia de A dama do Shangai, clássico do cinema americano dirigido por Orson Welles. Sendo assim o livro de Caio Fernando se tornou um prato cheio para a o talento e a imaginação desse que é um dos grandes cineastas brasileiros.


Um escritor em crise existencial, depois de conseguir emprego como repórter de um jornal, resolve fazer uma reportagem sobre a desaparecida cantora Dulce Veiga que, no passado, tinha sido amante do dono do jornal. Ele não sabe que, ao tentar descobrir o paradeiro da artista, terá que mergulhar num mundo sombrio, cheio de verdades e mentiras, personagens dúbios e tragédias pessoais. E que, ao buscar o paradeiro de Dulce Veiga, ele está à procura de si mesmo e da razão da sua própria existência.


A história se passa em meados dos anos 80 e a ditadura militar ainda é uma sombra muito forte na vida dos personagens. É nesse contexto que ele encontra o personagem de Carolina Dieckman, a filha lésbica e drogada que Dulce Veiga abandonou quando criança, e que hoje se inspira na mãe cantando numa banda de rock que tem o imaginoso nome de Vaginas Dentadas. Vale lembrar que Dulce Veiga, magistralmente interpretada por Maitê Proença, é uma cantora de bossa-nova. Em várias sequências Maitê aparece cantando (dublada) Meditação, canção fetiche da bossa-nova, sucesso de Tom Jobim e Newton Mendonça.


Outro personagem importante na vida de Dulce Veiga é o diretor de teatro homossexual interpretado por Oscar Magrini. Logo na primeira cena em que aparece ele está deitado na cama ao lado de um bofe de tirar o fôlego. Enquanto o diretor fala ao telefone com o jornalista que quer entrevistá-lo sobre a cantora com quem fora casado no passado, o bofe se levanta da cama e a câmera dá um close fenomenal na sua rôla. Quem gosta de ver pau não pode deixar de assistir a essa película. Noutra seqüência magistral Oscar Magrini, muito afetado, está dirigindo uma peça revolucionária, onde dois rapazes nus recriam a Pietá. Para deleite do público, o filme não economiza closes no corpo dos marmanjos. Valei-me Almodovar!


Mas o babado não para por aí. Quando era casado com Dulce Veiga, o personagem de Oscar Magrini viveu um triângulo amoroso com um guerrilheiro que foi preso e torturado pela ditadura. Com o sumiço da cantora, o guerrilheiro, grande atuação de Carmo Dalla Vechia, pira, enlouquece, e assume a personalidade da cantora enquanto se injeta com fartas doses de heroínas. O filme tem muita droga. A roqueira lésbica cheira o tempo inteiro. A bicha guerrilheira, meio travesti, toma muito pico na veia. É uma loucura! Os personagens submergem no fundo do poço. Mas voltam à tona para um glorioso final feliz.


O roteiro inteligente possui diálogos criativos. Além disso, Almeida Prado caprichou na direção e recheou seu filme com cenas idílicas, quase surreais, que dão charme e sabor ao que se vê na tela. Exemplo: Numa seqüência em que o jornalista está em crise, a personagem chega na janela do seu apartamento e a paisagem vai mudando rapidamente; noutro momento ele vê no edifício ao lado, uma academia onde alguns rapazes fazem musculação e dois deles dançam um tango de modo provocante e sensual; em determinado momento Dulce Veiga surge, como uma miragem, cantando na areia da praia de Copacabana, ao lado de um pianista. Na seqüência final os personagens se encontram cantando na chuva. Sem falar nas magníficas sequências em preto-e-branco que lembram cenas de velhos filmes americanos.


Onde andará Dulce Veiga? é gostoso de assistir e surpreende a platéia com criatividade e cenas bem dirigidas. É um filme que demonstra uma compreensão muito particular do que seja cinema, ao deixar bem claro que o conceito de arte deve ser priorizado ante o conceito de indústria.





Meditação (Tom Jobim & Newton Mendonça))
Quem acreditou
No amor, no sorriso, na flor
Entao sonhou, sonhou...
E perdeu a paz
O amor, o sorriso e a flor
Se transformam depressa demais

Quem, no coraçao
Abrigou a tristeza de ver tudo isto se perder
E, na solidao
Procurou um caminho e seguiu,
Já descrente de um dia feliz

Quem chorou, chorou
E tanto que seu pranto já secou
Quem depois voltou
Ao amor, ao sorriso e à flor
Então tudo encontrou
E a própria dor
Revelou o caminho do amor
E a tristeza acabou


BABADO FORTE – O presidente do Irã Mahmoud Ahmadinejad causou polêmica na ONU ao afirmar que não existem homossexuais no Irã. Well... Acho que vou me mudar para lá. O fato é que o assunto gerou muita discussão. O psicanalista Paulo Próspero, inspirado em Sigmund Freud, até escreveu um texto sobre o assunto que esse blog reproduz a seguir.
O Armadinejad acabou de dizer que não há homossexulaismo no Irã. Certamente a declaração caiu como uma bomba, já que a atômica ainda não está pronta e outra ele não a tem. Na melhor das hipóteses dirão que é homofóbico, mentiroso, idiota, nazi, sei lá mais o que...
Agora vamos pensar juntos, já que o Brecht dizia que pensar pode ser a maior diversão do ser humano. É claro que "abestado" o homem não é, e sabe muito bem que há milhões de pessoas do mesmo sexo que lá, como cá, têm o habito e o gosto (ou gozo) de relarem entre si, sendo bem provável que, como tantos, um dia ele já o tenha feito. Brincadeirinha que talvez para os de lá (ou quiçá só para ele), seja tão inocentezinha que não precisa vir pejada com esta qualificação "médica" e recente na história. Foi só a partir do século 19 que surgiu o conceito de homossexulaismo. Talvez seja o Irã a terra do Marlboro, a terra do vale tudo, onde nada é nomeado. Estaria então o Irã atrás do filão do turismo gay, do pink-dollar? Vamos ficar de olho no tal do Armadinejad! Como já se dizia nessas plagas, desde os tempos da finada UDN, "o preço da liberdade é a eterna vigilância".
Lembro-me que também Lula nos tempos de antanho disse mais ou menos o mesmo quando declarou que homossexualismo seria uma atividade burguesa e que, portanto isto não ocorria entre metalúrgicos. Já o Comandante Fidel, adepto de outra linha, não só acreditava que lá existia o tal do homossexualismo, como criminalizava, prendia e perseguia. Menos ao seu irmão e a curriola de amiguinhos íntimos. Melhorzinho um pouco que Hitler que também matava.
Peçamos então melhores esclarecimentos a ambos: Lula e a Armadinejad. Como psicanalista estou bastante interessado nesta questão. Talvez possam nos ajudar em nossas investigações teóricas, ou práticas, para quem assim o desejar.
(Paulo Próspero)

21.9.07




A liberdade é o oxigênio da alma.

CINEMA É A MAIOR DIVERSÃO – O Festival do Rio de 2007 mal começou e já tem uma obra-prima incontestável. Trata-se do filme 20,13 – Purgatório, do cineasta português Joaquim Leitão. A produção reúne com harmonia os elementos que fazem de um filme uma obra de arte: bom roteiro, direção segura, bela fotografia e um elenco de grandes atores. 20,13 – Purgatório traz consigo a aura do talento português para as artes. Há algo de Fernando Pessoa no sentimento dos personagens. Há algo do fado nas lindas canções que dão clima a história. Há algo de Camões, de Eugênio de Andrade e de Eça de Queiroz nos diálogos passionais e nas tramas do roteiro. Há algo de Cristiano Ronaldo na beleza dos atores. E, mais que tudo, há algo do grande cinema europeu dos anos 70 na direção de Joaquim Leitão.


O universo retratado pelo filme é algo de fascinante: o exército de Portugal. Num quartel localizado numa zona de conflito em Moçambique é retratado o cotidiano dos soldados portugueses, prestes a serem atacados por gerrilheiros. A tensão com a presença dos inimigos à espreita é que norteia as relações entre homens viris acuados pela guerra. Entre um tiroteio aqui e uma guerrilha acolá, os militares lusos convivem intensamente com sentimentos díspares como admiração, despeito, desconfiança, medo, covardia, coragem, inveja, paixão e desejo.


O número 20,13, que aparece no título, é uma referência bíblica. Levítico 20, versículo 13 é aquela famosa citação bíblica que diz:

Quando também um homem se deitar com outro homem, como com mulher, ambos fizeram abominação; certamente morrerão; o seu sangue será sobre eles.


O filme começa com a prisão de um guerrilheiro inimigo. O Alferes Gaio - um oficial bonitão, cheio de principios éticos e morais - entra em conflito com seu superior hierárquico sobre o modo como o prisioneiro deve ser tratado. O superior, o Capitão, que alguns soldados fazem questão de chamar de meu Capitão, é um homem fechado no seu modo de entender a vida militar e a guerra. Ele é a favor que o prisioneiro seja torturado a fim de revelar os planos do inimigo. O Alferes Gaio discorda argumentando que eles não são criminosos covardes e sim soldados. Essa divergência entre os militares cria uma tensão que é valorizada pelo talento dos atores.


A maior parte da história ocorre na véspera de natal que, não por acaso, é o dia 24 de dezembro. E o número 24 do calendário aparece bem marcado numa das cenas. Por uma concessão especial do exército, a mulher do Capitão vai passar o natal com ele no quartel. Surpreso com a presença da esposa, o Capitão a trata friamente. A presença dela o desagrada e ele a deixa isolada no alojamento. Ao remexer em objetos pessoais do Capitão a mulher encontra uma foto do marido abraçado com outro soldado. Atrás da foto uma única palavra: Forever.


Confiantes de que naquela noite haverá a tradicional trégua natalina os militares promovem uma festa de confraternização. Durante a comemoração a mulher identifica Vicente, o soldado que estava abraçado com seu marido na foto. A tensão entre ela e o Capitão aumenta, mas, antes que possa haver qualquer coisa, uma bomba explode. Os guerrilheiros desrespeitam a trégua de natal e atacam o quartel. Os soldados saem da festa direto para o campo de batalha. Tiros, explosões, bombardeios. A noite promete ser longa. Quando os inimigos dão uma trégua no bombardeio e os soldados vão checar as baixas, encontram Vicente, o namorado do Capitão, baleado dentro de um alojamento. O Alferes Gaio logo observa que o lugar não foi atingido pelo tiroteio e chega a conclusão que o soldado foi assassinado por alguém do próprio quartel.


A tensão aumenta no quartel e o filme se transforma numa história policial. Quem teria matado Vicente enquanto o quartel era atacado pelos guerrilheiros? Aproveitando a trégua da batalha o Alferes Gaio investiga o crime. Ao fazer buscas no armário da vítima encontra uma foto do Capitão. É a mesma foto encontrada pela mulher, só que está rasgada ao meio. A outra metade, em que aparece apenas o soldado Vicente, foi deixada pelo assassino em cima da mesa do Capitão. Um novo bombardeio dos guerrilheiros provoca pânico no quartel. Sentindo-se acuado pela descoberta do seu segredo e achando que sua mulher foi a autora do crime contra o seu amante, o Capitão se lança numa operação suicida contra os inimigos. Deixa uma carta reveladora para o Alferes e, munido com um lança-bombas invade o campo do inimigo atirando sem parar. Antes de ser morto acaba salvando a vida de todos os seus soldados.


Quando o Comandante do Exército de Portugal chega ao quartel no dia seguinte para fazer um levantamento dos mortos e feridos é informado pelo Alferes Gaio dos acontecimentos que envolveram o Capitão e o seu amante. Diante de todas as evidências a ele expostas o Comandante contesta o Alferes. “Não existem maricas no Exército”. Diante da insistência do Alferes de que a verdade deve ser apurada o Camandante retruca. “Você quer que o Capitão seja lembrado como um maricas? Ele foi um herói que salvou a vida de todos vocês. Essa é que é a verdade.”


Essa história fascinante é contada com lirismo, poesia, densidade dramática e muito talento. Os diálogos, falados com o saboroso sotaque português, são primorosos. Marco D´Almeida, Adriano Carvalho, Ivo Canelas, Nuno Nunes, Pedro Varela e Angélico Vieira, os atores principais, são lindos, másculos e viris, o que contibui para alavancar a tensão sexual dos personagens, homens cujos valores masculinos são colocados à prova pela crueza da guerra. 20,13 - Purgatório estreou em dezembro do ano passado em Portugal e Moçambique. Agora o diretor espera lançar o filme no Brasil e conquistar o público com sua comovente história.


12.9.07




Só os que tem segurança de si mesmos conseguem ser modestos.


100 ANOS DE DONA CANÔ – A mãe de Caetano e Bethânia completa 100 anos em setembro. Sábado a Bahia vai parar na comemoração da data. Taí uma boa razão para o Brasil também parar: comemorar o centenário dessa grande brasileira. A existência de dona Canô é algo que dignifica o Brasil. É bom poder pensar nisso quando a gente sente vontade de jogar uma bomba atômica em Brasília. De sua casa, numa cidade que tem o singelo nome de Santo Amaro da Purificação essa senhora, através de seus filhos, revolucionou a cultura brasileira. Em comemoração ao centenário de Dona Canô a revista TRIP publica uma entrevista com a matriarca da família Veloso. Um texto primoroso de Renata Leão resume os cem anos e nos faz entender onde a sua personalidade influenciou o pendor artístico de seus filhos. Clique AQUI e leia a entrevista.






JÚNIOR MAGAZINE – Uma entrevista com o ator Cláudio Heinrich é uma das atrações da revista Júnior, publicação voltada para o público GLS que está chegando as bancas esta semana. Heinrich fala sobre Danilinho, seu personagem na novela Caminhos do Coração. Júnior tem a chancela do jornalista André Fischer, criador do site Mix Brasil, o mais influente na comunidade gay. Júnior se propõe a ser uma revista gay família. Ou seja, nada de fotos de nus. Júnior quer ser um magazine que possa ser lido no ônibus ou ser oferecido na sala de espera dos dentistas sem provocar constrangimento aos heteros. A idéia é que a publicação seja para os gays o que a revista Nova é para as mulheres. Veja o site da revista clicando AQUI






A DITADURA DOS PARTIDOS – Com a absolvição de Renan Calheiros ficou claro que o Brasil está precisando urgentemente de uma nova revolução. Os políticos não representam a vontade da população e sentem orgulho disso. Os desejos do eleitor são ignorados ostensivamente. Com o que se tem visto na política brasileira, ninguém pode afirmar que aqui existe democracia. O que temos é uma ditadura dos partidos, que governa o país de acordo com seus próprios interesses mafiosos. Aos brasileiros resta apenas a obrigação de pagar a conta, através de impostos cada vez maiores. É bizarro que o próprio governo federal tenha participado dos conchavos para absolver o presidente do Senado. Lula é uma mentira! No recente congresso do PT o sujeito teve a petulância de defender os mensaleiros do seu partido que tinham acabado de serem indiciados pelo Supremo Tribunal Federal. Agora participa de um complô contra o eleitor, ao trabalhar pela permanência de um gangster na presidência do Senado. Que tipo de homem é o Presidente da República? Um Al Capone revisitado? Whaal! Está na hora de aparecer um Elliot Ness no Brasil.

Revolução Já!





E A VIDA VAI – O mais interessante no filme Bubble é a exibição do cotidiano e do estilo de vida dos jovens em Tel Aviv. Eles fumam maconha, tem ídolos como George Michal, Robbie Williams, Take That e Morrissey, tomam êcstase nas raves, curtem a vida, amam, se apaixonam, fazem sexo com prazer e, ao mesmo tempo, vivem bem perto da extrema violência. A vida deles é igual a vida de quem mora no Rio. Os judeus de Tel Aviv têm um cotidiano bem parecido com o cotidiano do carioca que vive em Ipanema, por exemplo. Observando a vida daqueles personagens que moram tão longe dá para perceber que eles são idênticos aos cariocas que vão à praia no Posto Nove, dançam na Bunker e frequentam shows nas casas noturnas da Lapa. São as mesmas pessoas, com as mesmas alegrias e tristezas, vivendo os mesmos momentos de vida equilibrados entre o terror e êxtase.


Quando eu estive em Paris, durante as comemorações do Ano do Brasil na França eu conheci uma mulher muito chique, que trabalhava no Itamaraty, e que gostava muito de Paris. Ela falava muito bem da cidade e de seus atrativos. Era uma mulher que conhecia muitas cidades, pois fazia parte do seu trabalho viajar, antecipadamente, para os lugares que são visitados pelo Presidente da República. Certa vez ela me disse que só existia no mundo uma cidade mais bacana que Paris: Tel Aviv! Tel Aviv? Perguntei. E ela me falou com tanto entusiasmo de Tel Aviv que eu acabei ficando com vontade de conhecer a cidade. Depois de ter assistido Bubble essa vontade só aumentou. Os personagens do filme são tão parecidos com meus amigos, meus vizinhos, meus colegas, minha turma de praia que fiquei com a impressão que vou me sentir em Ipanema quando conhecer esse lugar.



4.9.07




O melhor livro de moral é a nossa consciência. Temos que consultá-lo muito freqüentemente.


SALVE SETE DE SETEMBRO - Algumas pessoas aguardam ansiosamente a chegada do carnaval para assistirem aos desfiles das escolas de samba. Pois eu aguardo ansiosamente a chegada do sete de setembro para poder assistir a parada militar da independência. Para mim o desfile das Forças Armadas é que é o maior espetáculo da terra. Prefiro a harmonia melódica das marchas militares, ao baticum do samba enredo. Prefiro a Banda de Fuzileiros Navais à bateria da Mangueira. Prefiro a elegância dos rapazes fardados, às mulheres seminuas. Prefiro a evolução disciplinada dos soldados, aos gingados das cabrochas ao som dos tamborins.


Tenho um prazer infantil em assistir a parada de sete de setembro. É um programa que remete a minha infância, quando eu ia assistir ao desfile levado pelas minhas tias. Elas gostavam de ir ao desfile flertar com os militares e levavam a mim e a meus irmãos para disfarçar. E, mesmo criança, eu adorava aquilo tudo e já achava os militares lindos. Menino ainda eu ficava emocionado quando a banda dos fuzileiros atravessava a avenida tocando O Cisne Branco, o hino da Marinha. A música me impressionava pela beleza. E também pela tristeza existente nos acordes e na letra pungente. Sempre que escuto o hino da Marinha meus olhos ficam cheios d´água. Sinto uma mistura de melancolia, nostalgia de algo que não vivi e um imenso prazer pela beleza da sonoridade. Sendo assim, no próximo sete de setembro, a minha presença na festa da independência é mais certa do que a presença do Comandante do Exército.


CISNE BRANCO - Hino da Marinha de Guerra do Brasil




Qual cisne branco que em noite de lua
Vai deslizando no lago azul
O meu navio também flutua
Nos verdes mares de norte a sul

Linda galera que em noite apagada
Vai navegando no mar imenso
Nos traz saudades da terra amada
Da Pátria minha em que tanto penso

Quanta alegria nos traz a volta
À nossa pátria do coração
Estava cumprida a nossa derrota
Temos cumprido nossa missão

Linda galera que em noite apagada
Vai navegando no mar imenso
Nos traz saudades da terra amada
Da Pátria minha em que tanto penso

Qual linda garça
Que aí vai cruzando os ares
Vai navegando sob um belo céu de anil
Minha galera também vai cortando os mares
Os verdes mares, os mares verdes do Brasil

Quanta alegria nos traz a volta
À nossa pátria do coração
Estava cumprida a nossa derrota
Temos cumprido nossa missão

Linda galera que em noite apagada
Vai navegando no mar imenso
Nos traz saudades da terra amada
Da Pátria minha em que tanto penso.


COMO SÃO LINDOS OS MILITARES – Semana passada as Forças Armadas do Brasil foram alvo de uma provocação desnecessária por parte do governo, quando do lançamento do livro Direito à Memória e à Verdade - Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos, um balanço sobre o trabalho da Comissão de Direitos Humanos com um relatório sobre as cerca de 400 pessoas que foram vitimas da violência durante a ditadura militar. Nelson Jobim, o Ministro da Defesa, num tom arrogante e antipático, disse que os militares não vão poder reagir ao livro lançado pelo governo. E, em caso de reação, haverá resposta. Whaaal! Esse mesmo tom arrogante do Jobim já foi ouvido, em outras ocasiões, em declarações de José Dirceu e Renan Calheiros. Hoje, ambos estão encrencados em CPI´s. Será que o mesmo vai acontecer com o titular da Defesa?


É importante registrar que, enquanto o Governo Federal lançava o livro sobre as vítimas da ditadura, lá mesmo em Brasília, José Dirceu e José Genoíno, que sobreviveram à ditadura, estavam sendo julgadas por crimes contra o patrimônio público no Brasil. Roubo e corrupção. Ao mesmo tempo, o jornal O Globo publicava uma série de reportagens sobre brasileiros de hoje em dia vivendo dramas idênticos, senão maiores, que aqueles vividos pelos mortos e desaparecidos durante o regime militar. Tudo está interligado e nada acontece por acaso.


É importante a existência desse levantamento sobre mortos e desaprecidos durante a ditadura. Mas não tem cabimento transformar esse relatório num manifesto contra as Forças Armadas. As Forças Armadas não têm culpa se, num determinado período da história, pessoas despreparadas se apropriaram da Instituição para praticar atos covardes e criminosos. Era uma outra época. Eram outras pessoas. É preciso, nesse caso, separar as pessoas das Instituições. Hoje os tempos são outros. São outras pessoas que estão no comando. É o Presidente Lula o comandante das Forças Armadas. Mas parece que o próprio Lula esquece isso.


O fato é que existem, dentro do próprio governo, setores que estão empenhados em desautorizar os militares. São os gigolôs da ditadura. Grupos que, se arvorando vítimas do regime militar, realizam uma campanha maldosa e organizada para desqualificar o Exército, a Marinha e a Aeronáutica visando angariar vantagens em setores que, para o bem do Brasil, sempre estiveram sobre o controle das Forças Armadas. E isso não é de hoje. Começou no governo Fernando Henrique. Desde os anos FHC que existe uma campanha surda e sórdida, organizada por partidos políticos, para deixar os militares fracos, desprestigiados e sem direito à opinião. O governo Lula está apenas dando continuidade a um processo que começou no governo anterior.


Senão vejamos: a Marinha está sendo pressionada pela desnecessára Secretaria Especial de Políticas de Promoção e Igualdade Social, para abrir mão do controle sobre a Restinga da Marambaia, importante reserva ecológica do Rio; a Aeronáutica tem sido induzida a desistir de ser a controladora do espaço aéreo nacional; o Exército, apesar da guerra civil que ocorre em algumas regiões do Brasil, está proibido de se envolver em questões ligadas a Segurança Pública. São três exemplos gritantes de como o próprio governo trata suas Forças Armadas como orgãos do segundo escalão.


Os partidos políticos querem os militares fora da jogada. A elite política quer os militares cada vez mais fracos, pois assim eles se sentem mais livres para tomar de assalto o Estado brasileiro. A verdade é que o Brasil saiu da ditadura militar para cair nos braços da ditadura dos partidos políticos. Uma ditadura que já foi capitaneada pelo PSDB e hoje é comandada pelo PT. Os grupos políticos que governam o Brasil pós-ditadura não têm nada de democráticos. Eles querem ser os donos da ditadura.


É por isso que merece uma reflexão a publicação pelo governo do livro Direito à Memória e a Verdade. São muito tristes as histórias narradas no relatório. Mas, tudo o que acontecia naquela época sob a guarda do governo militar acontece hoje em dia, em muito maior escala, sob a guarda do governo civil. Assim como a alta hierarquia do governo militar ignorava os excessos e a tortura daqueles tempos, o governo Lula ignora os excessos e a tortura que acontecem no Brasil de hoje. Alguém se lembra que no reveillon desse ano um grupo de pessoas foi queimada viva dentro de um ônibus no Rio de Janeiro? A diferença é que na época da ditadura eram os (maus) militares quem faziam o serviço sujo. A ditadura dos partidos, que é muito mais profissional, terceirizou os excessos e a tortura e delegou o poder de realizar o serviço sujo para grupos criminosos.

Certamente o governo Lula acredita que as vítimas da ditadura militar são mais dignas do que as vítimas da ditadura dos partidos políticos.

Uma outra reflexão que se deve fazer no momento em que o governo publica o livro Direito à Memória e a Verdade é que, enquanto era realizada a cerimônia de lançamento, José Dirceu e José Genoíno, homens de confiança do presidente, estavam sendo enquadrados pelo STF por diversos crimes. E isso dá o que pensar. Se os mortos e desaparecidos listados no livro tivessem sobrevivido será que não estariam hoje envolvidos com o mensalão ou outros escândalos de corrupção? Afinal, Dirceu e Genoíno escaparam por pouco de serem personagens do livro.


O fato é o seguinte: Dirceu e Genoíno foram perseguidos pela ditadura, porque os militares acreditavam que eles eram um perigo para o Brasil. Quando chegaram ao poder, a reboque do presidente Lula, Dirceu e Genoíno deram razão aos militares e comprovaram que eles eram, realmente, um perigo para o nosso país. Ao serem enquadrados pelo STF Dirceu e Genoíno só fizeram confirmar ao povo brasileiro que os militares tinham toda razão em perseguí-los.

Champanhe, champanhe, champanhe...


29.8.07




Não há nada tão frágil quanto o sucesso.


CIDADE NUA - Existe um pequeno grupo de marginais que costumam assaltar turistas na praia de Ipanema e no Posto Seis, em Copa. Eles nunca assaltam os moradores. Suas vítimas são os turistas que, encantados com a beleza da cidade, se distraem, e são roubados pelos malandros. Como os covardes só atacam turistas eles circulam cheios de marra pela praia, como se sua atividade criminosa não estivesse sujeita a críticas das pessoas honestas que circulam no pedaço e se sentem incomodadas com isso. Muitos moradores ficam indignados com a presença dos ladrões circulando livremente no seu território. Vários já ligaram para a polícia, dando todas as informações sobre as atividades do grupo, mas não adianta. Reprimir ladrões de turistas não é uma prioridade para a polícia carioca.

Nesse grupo de bandidos existe um que se destaca. É o mais atuante. O mais presente nessa atividade deplorável. A primeira vez que vi esse sujeito eu estava no Posto Seis, conversando com um grupo de jogadores de futebol de praia, quando um deles apontou para o pilantra e disse: Tá vendo aquele cara ali? Ele é ladrão da favela. Fica rondando aqui na praia, roubando os turistas. Isso faz mais de dez anos. Depois disso, sempre que via esse sujeito na praia, eu ficava de olho nele e, invariavelmente, o flagrava roubando algum turista.

Esse ladrão é aquilo que o meu saudoso avô chamava de descuidista. O ladrão que se aproveita do descuido da vítima para roubar. O sujeito fica na praia, posando de banhista, e quando vê um turista distraído surrupia seus pertences e sai de fininho. Ou sai correndo em disparada. Geralmente tem um segundo que dá cobertura. O fato é que esse ladrão faz da sua atividade criminosa uma profissão. Os moradores que vão a praia nessa região já o conhecem e o detestam. Apesar de não roubar os locais ele não respeita os moradores e furta os turistas na frente de qualquer pessoa. Quando alguém esboça alguma atitude para proteger as vítimas ele faz ameaças. Fica olhando de cara feia. Intimidando as pessoas honestas.

A cara de pau desse ladrão é tanta que, no último verão, junto com um comparsa, ele montou uma barraca para vender cervejas na praia gay de Ipanema, que estava lotada de estrangeiros. Era uma coisa bem rústica. Apenas um isopor cheio de latas de cerveja. Aquilo era apenas uma desculpa, um disfarce, para ficar ali, no meio dos banhistas. Quando algum estrangeiro se distraía, ou mergulhava na água, o canalha surrupiava objetos de valor, sumia algum tempo, depois voltava, já que havia um comparsa que lhe dava cobertura. Ou seja, o pilantra é um ladrão profissional.

Pois bem.

Para minha surpresa, semana passada, quando fui ao lançamento do livro Todos os dias, de Jorge Reis-Sá, na livraria da Travessa, no Shopping Leblon, eu dei de cara com o ladrão de turistas. De cara, levei um susto. "O que é que esse cara tá fazendo aqui no shopping?", pensei diante das fotos de Gisele Bundchen na vitrine da Colcci. Foi então que eu observei direito e percebi algo que naquele momento me deixou cabreiro: o sujeito estava trabalhando no Shopping Leblon. Isso mesmo, queridos leitores.

O maior ladrão de turistas de Ipanema está trabalhando no Shopping Leblon.

Vestido com um macacão branco onde estava escrito a palavra Quality, nome da empresa terceirizada que presta serviços de limpeza ao shopping, ele circulava pelos corredores empurrando um carrinho de limpeza, segurando uma vassoura na mão. O sujeito está trabalhando como faxineiro. Circulando com seu carrinho de limpeza por entre as vitrines de grifes elegantes como Blue Man, Sandpiper, Salvatore Ferragamo, Sara Jóias, Mont Blanc Maison, Villa Borghese, Aviator, Calvin Klein, Ermenegildo Zegna, Fruit de la Passion, Maria Bonita e Swarovski.

Waal!, diria o saudoso Paulo Francis. Diante da figura do maior ladrão de turistas de Ipanema refletido na vitrina da grife Lacoste eu pensei com os botões das elegantes camisas ali expostas: Será que esse sujeito se regenerou? Será que ele tomou vergonha na cara, arrumou um emprego e resolveu viver uma vida honesta? Será que esse canalha agora vai deixar os turistas de Ipanema em paz? Será que ele resolveu se tornar um homem bom? Um homem de bem?

Ao mesmo tempo a minha parabólica mental cogitou uma segunda possibilidade. Será que aquilo é só um disfarce? Será que os lojistas e clientes chiques do elegante shopping estão correndo sério perigo? Será que uma onda de furtos vai acontecer no sofisticado centro de compras? Acho bom a direção do centro comercial ficar de olho. Ontem à noite o escritor Doc Comparato me disse que, dias atrás, sua filha teve a bolsa furtada no Shopping Leblon.

Elementar, meu caro Warson!


23.8.07




Aprende a viver e saberás morrer bem.


A NOITE DA LÍNGUA PORTUGUESA - O escritor português Jorge Reis-Sá veio ao Brasil participar do lançamento do seu romance Todos os dias. Como um Pedro Alvares Cabral dos tempos modernos o jovem lusitano atravessou o oceano e chegou sábado ao Brasil. Volta para o Farmelicão, sua aldeia no norte do Portugal, na próximo domingo. Veio acompanhado da mulher, a jovem e doce Ana, uma bióloga que conheceu na Faculdade. Na terça ele deu autógrafos na Livraria da Travessa, no Shopping Leblon, onde participou de um debate sobre as relações Brasil-Portugal na literatura. Foi uma noite de papo inteligente e idéias saudáveis.

Um rapaz muito bonito. Foi essa a primeira impressão que tive de Reis-Sá. No seu charme lusitano havia algo do Primo Basilio, na descrição de Eça de Queiroz. Bonito como um príncipe, ele também escreve bonito. Sua figura nos remete a um poeta romântico. Algo que na verdade o é. Todos os dias é seu primeiro romance, mas o charmoso português já publicou livros de poesia. Mesmo quando escreve prosa Reis-Sá tem um texto lírico, poético. Uma narrativa é pungente. Delicada. Seu texto valoriza a língua portuguesa quando simplesmente descreve o cotidiano de uma família qualquer como um quadro de um grande artista. Uma simples réstia de sol que atravessa o postigo da janela adquire dimensão de epopéia quando narrada por Reis-Sá, com seu estilo gentil e educado de contar sua história para o leitor.

Na fila de autógrafos muitos escritores e admiradores da língua portuguesa como falada e escrita em Portugal, já que a edição brasileira manteve o texto original do livro. Não foram feitas correções para o português do Brasil. Um acerto da editora Luciana Villas Boas, entusiasta do livro. Antes da sessão de autógrafos, porém, houve um animado debate no elegante auditório da livraria do Shopping. Esse é um costume em Portugal. Sempre que ocorre o lançamento de um livro é promovido um debate entre o autor e convidados. Os convidados de Reis-Sá foram os poetas brasileiros Antônio Cícero e Eucanãa Ferraz, que os admiradores classificam como os novos drummonds. A apresentação do debate foi feita pela todo-poderosa diretora editorial da Record Luciana Villas Boas.

A unificação da lingua portuguesa nos oito paises do mundo que falam essa língua foi o palpitante assunto que norteou toda a discussão. Com a unificação Angola, Guiné-Bissau, Moçambique, Timor-Leste, Cabo Verde, São Tomé e Príncipe, Brasil e Portugal passarão a escrever da mesma maneira. A discussão foi muito interessante já que ali todos pareciam ser contra a unificação. Todos, menos Antônio Cícero que se revelou radicalmente a favor. Com seus argumentos e seu entusiasmo Cicero parecia um bravo guerreiro lutando contra um batalhão de adversários. Eucanãa Ferraz contemporizou lembrando que a unificação daria força política a língua portuguesa, subjugada ante o poder das línguas inglesa e francesa. Jorge Reis-Sá disse que prefere o português com suas particularidades e diferenças. Lembrou que Portugal, mesmo sendo um país de pequena extensão territorial, tem suas proóprias diferenças internas. Cicero contestou citando o inglês, que tem amplo domínio internacional, por ser uma língua falada de um jeito único em todos os países de influência anglo-saxônica. Com veemência Luciana interviu e afirmou convicta: existe sim diferenças entre as diversas línguas inglesas faladas no mundo.

Luciana Villas Boas é uma figura. A maior prova de que ela acredita no livro de Jorge Reis-Sá é que ela foi com tudo ao lançamento do livro. E quando eu digo com tudo, eu quero dizer que ela não foi lá apenas fazer um número. Foi brigar pelo livro num mercado editorial competitivo. Luciana é uma mulher muito inteligente e isso ficou claro nas suas intervenções durante o debate. Foi sensacional o momento em que ela contestou Cicero e defendeu com firmeza que sejam mantidas as diferenças regionais da língua portuguesa.

A presença de Luciana Villas Boas no lançamento de Jorge Reis-Sá não se limitou a uma participação incisiva no que diz respeito ao contexto intelecto-cultural da literatura. Antes de tudo, Luciana é fashion. E como é fashion ela foi à noite de autógrafos do gracioso português vestida para matar. Luciana sempre foi uma mulher bonita, mas nessa noite ela estava radiante. A maquiagem perfeita, o cabelo correto. A mulher estava linda com um vestido preto belíssimo que eu classificaria de fechativo e que poderia tanto ter a assinatura do Christian Lacroix como de John Galliano. Para arrematar chiquérimas botas negras até o joelho. Quando pegou o microfone e contou como descobriu o livro Todos os dias e falou sobre sua relação com os livros, os autores e a literatura a platéia ficou encantada. Sobre sua figura elegante e carismática parecia haver uma legenda de gibi que dizia: Sou linda, mas também sou inteligente!

E salve a língua portuguesa.

A seguir um poema de Jorge Reis-Sá, do livro A palavra no cimo das águas.








FADO TROPICAL - Circulando por entre escritores como Angela Dutra de Menezes, Antônio Torres, Bia e Pedro Correia do Lago estava o jornalista portugues João Pereira Coutinho. O rapaz é um bem sucedido colunista do jornal Expresso. O sucesso de sua coluna no mais popular jornal de seu país atravessou fronteiras e chegou ao Brasil. Sendo assim ele foi convidado para assinar uma coluna na Folha de São Paulo. Dias atrás um de seus textos recebeu uma consagração do leitor brasileiro ao ser transformado em corrente da internet. Com o título de Não existem homossexuais, seu texto deu o que falar, provocou discussões e lançou um novo olhar sobre um assunto que parecia esgotado. Coutinho veio ao Brasil passar uma temporada em Sâo Paulo e veio ao Rio prestigiar Jorge Reis-Sá que é seu amigo pessoal e seu editor em Portugal.

Leia a seguir o artigo Não existem homossexuais, do cronista portugues João Pereira Coutinho, publicado na Folha.

NÃO CONHEÇO homossexuais. Nem um para mostrar. Amigos meus dizem que existem. Outros dizem que são. Eu coço a cabeça e investigo: dois olhos, duas mãos, duas pernas. Um ser humano como outro qualquer. Mas eles recusam pertencer ao único gênero que interessa, o humano. E falam do "homossexual" como algumas crianças falam de fadas ou duendes. Mas os homossexuais existem?

A desconfiança deve ser atribuída a um insuspeito na matéria. Falo de Gore Vidal, que roubou o conceito a outro, Tennessee Williams: "homossexual" é adjetivo, não substantivo. Concordo, subscrevo. Não existe o "homossexual". Existem atos homossexuais. E atos heterossexuais. Eu próprio, confesso, sou culpado de praticar os segundos (menos do que gostaria, é certo). E parte da humanidade pratica os primeiros. Mas acreditar que um adjetivo se converte em substantivo é uma forma de moralismo pela via errada. É elevar o sexo a condição identitária. Sou como ser humano o que faço na minha cama. Aberrante, não?

Uns anos atrás, aliás, comprei brigas feias na imprensa portuguesa por afirmar o óbvio: ter orgulho da sexualidade é como ter orgulho da cor da pele. Ilógico. Se a orientação sexual é um fato tão natural como a pigmentação dermatológica, não há nada de que ter orgulho. Podemos sentir orgulho da carreira que fomos construindo: do livro que escrevemos, da música que compusemos. O orgulho pressupõe mérito. E o mérito pressupõe escolha. Na sexualidade, não há escolha.

Infelizmente, o mundo não concorda. Os homossexuais existem e, mais, existe uma forma de vida gay com sua literatura, sua arte. Seu cinema. O Festival de Veneza, por exemplo, pretende instituir um Leão Queer para o melhor filme gay em concurso. Não é caso único. Berlim já tem um prêmio semelhante há duas décadas. É o Teddy Award. Estranho. Olhando para a história da arte ocidental, é possível divisar obras que versaram sobre o amor entre pessoas do mesmo sexo. A arte greco-latina surge dominada por essa pulsão homoerótica. Mas só um analfabeto fala em "arte grega gay" ou "arte romana gay". E desconfio que o imperador Adriano se sentiria abismado se as estátuas de Antínoo, que mandou espalhar por Roma, fossem classificadas como exemplares de "estatuária gay". A arte não tem gênero. Tem talento ou falta de.

E, já agora, tem bom senso ou falta de. Definir uma obra de arte pela orientação sexual dos personagens retratados não é apenas um caso de filistinismo cultural. É encerrar um quadro, um livro ou um filme no gueto ideológico das patrulhas. Exatamente como acontece com as próprias patrulhas, que transformam um fato natural em programa de exclusão. De auto-exclusão. Eu, se fosse "homossexual", sentiria certa ofensa se reduzissem a minha personalidade à inclinação (simbólica) do meu pênis. Mas eu prometo perguntar a um "homossexual" verdadeiro o que ele pensa sobre o assunto, caso eu consiga encontrar um no planeta Terra.



21.8.07




Ninguém jamais afundou em seu próprio suor.


A CAMINHO DA LIDERANÇA - Uma história de amor e suspense que mistura jovens mutantes, experiencias genéticas, artistas de circo, estudantes de filosofia, cientistas loucos, gays assumidos, lutadores de kung-fu, empresários ganaciosos e paixões avassaladoras. Assim é Caminhos do Coração, a novela de Tiago Santiago que estréia dia 28 de agosto na Rede Record. Para promover o lançamento da novela a emissora reuniu jornalistas, elenco e produção num café da manhã no estúdio G do Recnov, o luxuoso centro de produção da empresa.


Um clipe exibido num telão mostrou cenas da novela. Em belíssimas sequências filmadas na Flórida surge o ator americano Lance Henriksen, de Alien 4, contando ao herói, Leonardo Vieira, que misteriosas experiências genéticas foram feitas numa clínica de reprodução no litoral paulista. Corta para uma cena de perseguição nas ruas de Miami enquanto agentes da Policia Federal pulam de um helicóptero na cobertura de um edifício. As imagens se intercalam com performances de artistas de circo e cenas curtas com os principais personagens. Depois da exibição do clipe o autor, Tiago Santiago, muito emocionado, agradeceu ao elenco e a equipe e foi ovacionado.


Claudio Heinrich foi um dos atores mais celebrados da festa. É que seu personagem, Danilo, vem provocando expectativa na emissora. Danilo, um dos herdeiros da Progênese, uma milionária rede de hospitais, é gay. Por causa dessa caracteristica do seu personagem Claudio Heinrich vai aparecer dando pinta, tirando sobrancelhas com uma pinça, admirando seu corpo malhado só de cuecas em frente ao espelho, e last but not at least, falando de bofes. Tudo isso ao som de Robocop Gay, antigo sucesso dos Mamonas Assassinas. Danilinho não é o único gay da novela. Bené, personagem de Déo Garcez, também é do babado. Um estudante sensível que sonha encontrar o homem dos seus sonhos. No início ele acha que esse homem é o dr. Carvalho (que nome!), o advogado interpretado por Rocco Pitanga, irmão da Camila. Bené não resiste ao vê-lo de terno e gravata e lhe dá uma cantada. O advogado, que é um homem fino, recusa o assédio com elegância: "Desculpe, Bené, mas eu sou hetero".


Os personagens gays estão bem à vontade na trama por uma razão muito simples: a novela é um tratado sobre "ser diferente". Eles transitam por entre jovens que foram alvo de experiências genéticas numa clínica de reprodução e desenvolveram características especiais. Seus amigos também são diferentes. Um rapaz que ouve o pensamento dos outros. Uma menina que tem asas e pode voar. Uma garota paranormal que consegue mexer objetos. Um jovem super veloz que quer ser famoso por isso. Um menino pobre que tem o olfato de um cão. E um bebê que se desenvolve com muita rapidez e logo vai ficar adulto. Eles têm os mesmos sonhos e desejos de todo ser humano. Mas, ao mesmo tempo, são diferentes.


Fazem parte do elenco os atores Bianca Rinaldi, Walmor Chagas, André di Biase, Gabriel Braga Nunes, Eduardo Lago, Monica Carvalho, Angelo Paes Leme, Taumaturgo Ferreira, Cássio Scapin, Felipe Folgosi, Monica Carvalho, Jean Fercodini, Théo Becker, André Segatti, Maria Claúdia, Perfeito Fortuna, Marina Miranda, Angelina Muniz, Ana Rosa e muitos outros. Chama a atenção no elenco de Caminhos do Coração a presença de Fafá de Belém, fazendo sua estréia em novelas, interpretando Ana da Luz, a dona de um circo que protege os jovens mutantes. É uma mãezona no melhor estilo Ana Magnani. Outra curiosidade é Preta Gil vivendo uma vilã arrependida, que namora dois irmãos bandidos, os galãs Tuca Andrada e Alexandre Barilari.


Patrycia Travassos foi muito assediada pelos jornalistas que queriam saber se ela vai continuar apresentando seu programa no canal GNT. Quando confirmou que vai continuar fazendo o seu Alternativa Saúde e a novela ao mesmo tempo, seu colega de elenco André Segatti, um homenzarrão enorme que interpreta um agente da policia civil, se aproximou e lhe fez uma confissão. Disse que era fã da atriz desde criança. Irma, personagem da Patrycia, é uma típica vilã de novelas: ambiciosa, egoísta e cruel.


Em novembro a Record vai estrear a primeira novela da TV brasileira escolhida através de concurso público. Amor e Intrigas, da publicitária Gisele Joras ganhou, ano passado, o primeiro lugar num concurso de sinopses promovido pela emissora. No concurso cada um dos participantes deveria mandar uma sinopse e três capítulos. Foram mais de mil concorrentes. Agora a novela será produzida sob a supervisão de Luiz Carlos Maciel.


20.8.07




A simplicidade é o máximo da sofisticação.


MOVIMENTO DOS BARCOS - Renata Sorrah sabe tudo de teatro. A minha admiração pelo seu trabalho começa pelas peças que ela escolhe para encenar. Nessa escolha já é possível perceber a sua visão particular do teatro e da arte de representar. E a palavra "inteligente" sempre me ocorre duas horas depois de eu ter assistido uma peça com a atriz. Duas horas é o tempo que preciso para me recuperar da emoção de ter visto um belo espetáculo. E foi assim depois que assisti a encenação de Um dia, no verão, do noruegues Jon Fosse. Eu sai do teatro chapado. Com a certeza que os deuses do teatro tinham abençoado aquela peça que eu tinha acabado de assistir.


Ingmar Bergman não morreu, a peça parecia dizer nas entrelinhas. Na encenação em cartaz no Teatro Nelson Rodrigues existe algo de Interiores, o magnifico filme em que Woody Allen homenageia o cineasta sueco. E uma pitada de A mulher do tenente francês. Ao mesmo tempo o texto é absolutamente original. É um comovente ensaio sobre a solidão. Ou um discurso sobre o fim das coisas.


Num lindo dia de verão, em sua casa de frente para o mar, a mulher sem nome, personagem da Renata, recebe a visita de uma amiga que ela não vê faz anos. Enquanto a amiga sai para dar uma volta na praia, a mulher sem nome relembra o dia em que seu marido saiu para dar um passeio de barco e nunca mais retornou. Faz tanto tempo que ele se foi, mas ela ainda tem alguma esperança que o sujeito surja no horizonte e volte para casa. Enquanto ela fica parada olhando o mar pela janela, de costas para a platéia, com o rosto refletido no vidro, Silvia Buarque e Gabriel Braga Nunes encenam o último momento que o casal viveu junto. O último beijo, o último toque, a última briga. Tudo o que forma um casamento é vivido nesse dia em que ele foi pasear de barco e jamais voltou.


O cenário de Hélio Eichbauer merece ser descrito. É uma casa de praia. Poucos móveis. Alguns livros e um abajour. No lado direiro uma janela envidraçada onde a mulher sem nome fica olhando o mar. Do lado esquerdo quatro persianas grandes, que vão do teto ao chão, e que nem sempre estão abertas. Atrás das persianas o cenário sugere que existe uma varanda. Ao fundo uma projeção do oceano. Sendo asim, durante toda a peça, o público vê o mar ali atrás. Às vezes calmo e sereno. Às vezes revolto e ameaçador. O certo é que o mar ao fundo, de uma forma bem sutil, sublinha os climas da peça.


A direção de Monique Gardenberg optou pela suavidade, pela delicadeza. O texto pode ser encenado como uma história de suspense, mas a diretora ignorou esse aspecto da dramatrurgia. Eu não quero Hitchcock, eu quero Bergman, parecia ter dito Monique aos atores durante os ensaios. E ela conseguiu. Um dia, no verão é um Bergman com toques modernos. Vale registrar o bom gosto da trilha sonora escolhida pela diretora. As músicas funcionam à perfeição as intenções da peça. Só para se ter uma idéia, após o monólogo final da mulher sem nome, surge a voz de Toni Platão cantando Movimento dos barcos.

Bravo! Bravo! Bravo!

Renata Sorrah está perfeita como a mulher sem nome. Como já disse, ela sabe tudo de teatro. E, vamos combinar, ela sempre foi bergmaniana. Renata ama aquilo que faz. Quando está representando fica claro para a platéia que o palco é a sua vida. Em alguns momentos de Um dia, no verão, ela atua de costas para o público, que vê seu rosto apenas no reflexo da vidraça. Ela também anda pela palco, vagando, e o seu caminhar traduz a angústia e a solidão da personagem. Num dado momento, no centro do palco, ela recita um monólogo comovente, quando conta da agonia que viveu durante as buscas pelo marido, quando os bombeiros encontraram o barco à deriva. Enquanto narra os fatos o mar ao fundo fica extremamente revolto e cai uma tempestade. O efeito da chuva caindo é muito bem feito. Dá ao público a impressão que está caindo um dilúvio sobre a cidade. E Renata ali, no meio daquele turbilhão, narrando o drama da mulher sem nome. Uma atriz poderosa demonstrando controle absoluto sobre os eventos que fazem do teatro uma nobre arte.

Aplausos. Aplausos. Aplausos.

Silvia Buarque também impressiona como a mulher sem nome no dia em que o marido sumiu. Ela defende muito bem o papel da jovem esposa insegura na relação com o homem que ama, o belo e sexy cabeludo Gabriel Braga Nunes. Quando ele surge em cena de pés descalços e cabelos longos a platéia entende porque sua mulher fica mais de duas décadas esperando que ele volte do mar. A dupla Silvia e Gabriel se entende muito bem ao representar os altos e abixos do casal protagonista.


Certa vez, na praia de Ipanema, eu presenciei a Silvia Buarque contando para sua prima Bebel, que estava morando no exterior, como era a atuação da Renata Sorrah na novela Senhora do Destino. Ela falava com entusiasmo, imitava os trejeitos da vilã Nazaré e repetia várias vezes o quanto admirava a Renata como atriz. Ao assistir Um dia, no verão eu lembrei muito desse dia num verão e pude imaginar o quanto Silvia estava gostando de estar no mesmo palco que sua atriz favorita.


Malu Mader, que estava na platéia no último sábado, foi uma das pessoas mais entusiasmadas. Depois do espetáculo, diante do elenco, parecendo ainda sob o efeito embriagador da peça ela afirmou: Eu adorei tudo. O texto, a direção, a atuação dos atores e, principalmente, aquele mar enorme.


Aplausos. Aplausos. Aplausos.






MOVIMENTO DOS BARCOS

Estou cansado e você também
Vou sair sem abrir a porta
E não voltar nunca mais
Desculpe a paz que eu lhe roubei
E o futuro esperado que eu não dei
É impossível levar um barco sem temporais
E suportar a vida como um momento além do cais
Que passa ao largo do nosso corpo

Não quero ficar dando adeus
As coisas passando, eu quero
É passar com elas, eu quero
E não deixar nada mais
Do que as cinzas de um cigarro
E a marca de um abraço no seu corpo

Não, não sou eu quem vai ficar no porto
Chorando, não
Lamentando o eterno movimento
Movimento dos barcos, movimento


Madonna vem aí...

 

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