26.9.23

Baseado meu amor...

 



O STF discute a descriminalização da maconha. Num momento em que as grandes cidades brasileiras vivem num clima de guerra civil por conta dos conflitos entre traficantes, policias e milicianos, é importante que seja feita essa descriminalização, pelo menos para que os consumidores deixem de ser considerados criminosos. O que se espera com isso é que diminua a tensão nesse ambiente sombrio que envolve o comércio e o consumo de drogas. É algo que precisa ser resolvido com urgência, mas o juiz terrivelmente evangélico decidiu “pedir vistas” com a intenção de protelar a decisão sobre um assunto que precisa ser resolvido com urgência. Enquanto isso balas perdidas pipocam por toda a cidade, atingindo seus alvos preferenciais de jovens cidadãos pobres e pretos. Não precisa ser nenhum cientista, sociólogo ou profundo conhecedor das questões ligadas a segurança pública para perceber que o combate as drogas através de ações policiais é um projeto fracassado. O comércio de drogas envolve muito dinheiro e a corrupção dos agentes da lei acaba se tornando inevitável. É preciso criar alternativas para lidar com a questão das drogas. Legalizar a maconha, como já fizeram o Uruguai, o Canadá e a Holanda parece uma possibilidade convincente. Algo que o Brasil já devia ter sido feito faz muito tempo. O país é um grande produtor de maconha e não podemos esquecer o lado financeiro da questão. A maconha  é uma atividade econômica lucrativa e pode render bons dividendos, inclusive para o sertão brasileiro, região pobre do país, conhecida por produzir uma planta de excelente qualidade.

Mas, quando falamos no aspecto financeiro da maconha, devemos lembrar que o comércio dessa planta herbácea da família das canabiaceas é uma atividade econômica altamente lucrativa. E não apenas para os traficantes. A maconha também é um grande negócio para a polícia e o poder judiciário. 

Descriminalizar significa tirar algo do âmbito criminal. Deixar de ser crime. Sendo assim é o caso de se perguntar se a justiça tem interesse de tirar do âmbito criminal um produto que é tão lucrativo para ela própria. Ora, vejamos. Muita gente vende e consome maconha. Isso é crime. Sendo assim muita gente é presa e/ou processada pela venda e pelo consumo. A prisão ou processo por esse crime movimenta o poder judiciário. Advogados, policiais, procuradores, juizes, cartórios: todo o circo do meio jurídico é mobilizado para prender, julgar, processar, soltar, absolver ou condenar aqueles envolvidos nessa atividade ainda considerada criminosa. E sabemos que os profissionais do poder judiciário costumam cobrar caro pelos seus serviços.    A pergunta que deve ser feita é a seguinte: será que o judiciário vai querer abrir mão dos lucros que obtém tendo a maconha como um crime? Será que o poder judiciário vai querer perder essa boca?



26.8.23

Nos embalos do tatame

 


Com uma exibição apenas para convidados num confortável cinema da UCI, na Barra, foi lançada a série televisiva “Dos samurais ao MMA. 500 anos de luta”.  A apresentação juntou os cinco capítulos da série concedendo um ar de documentário de longa-metragem ao projeto, algo que foi reforçado pelo fato de ter sido exibido numa sala de cinema.

A série é uma tentativa bem sucedida de contar a história das artes marciais desde o surgimento no Japão dos samurais, até os dias de hoje, quando adquiriu um status de um esporte refinado. Para isso a produção se utiliza de ótimos depoimentos de pesquisadores, estudiosos e praticantes de diversas artes marciais que discorrem sobre os vários aspectos históricos, filosóficos e existenciais que levam o homem a lutar. Uma compilação de filmes, vídeos, fotos, ilustrações, trucagens, desenhos animados e efeitos especiais compõem a narrativa dessa história de força e beleza. E uma elaborada trilha sonora impõe um ritmo épico a narrativa.

Assim o espectador descobre que tudo começou com os samurais do Japão medieval. Enquanto tornavam mais refinados seus estilos de combate esses guerreiros descobriram que a luta entre dois homens poderia significar um processo de aprendizado e equilíbrio mental e não apenas uma simples exibição leviana de força e violência. Com o passar do tempo os lutadores japoneses foram levando seus conhecimentos sobre lutas, adquiridos de seus ancestrais, para outros continentes, como a América do Norte e a Europa. Mas foi a chegada ao Brasil, através do jiu-jitsu, que fez toda a diferença no crescimento da luta como arte, esporte e estilo de vida.  E a série é muito feliz ao mostrar como a cultura brasileira, o jeito de ser do homem brasileiro foi fundamental para uma compreensão mais aprimorada do que foram as dúvidas e dádivas dos samurais do Japão medieval. A chegada ao Brasil significa a entrada em cena da família Gracie, cujos integrantes se estruturaram como uma dinastia e dedicaram suas vidas à prática e ao exercício do jiu-jitsu. Assim como a promoção e projeção dessa arte marcial que deu origem ao judô, mas que naquele momento histórico era pouco praticada, por estar sendo vista como ultrapassada.  Os Gracies recriaram o jiu-jitsu à moda brasileira, injetando alma, vigor e paixão. E conquistaram o mundo com essa prática que hoje está muito mais associada ao Brasil do que ao próprio Japão. Por isso os lutadores no exterior gostam de afirmar que praticam o “brazilian jiu-jitsu”.

A série é um programa de TV atraente, mesmo para quem não é adepto das artes marciais. É um espetáculo fascinante para qualquer tipo de público.  Os personagens que ilustram a história são interessantíssimos: impetuosos, arrojados, aguerridos, despojados, corajosos, românticos e apaixonados.  A história tem tramas, dramas, ação, aventura, amor, ódio, paixão e compaixão. E comédia. Muita comédia. Tem momentos muito comoventes sobre dramas humanos e tragédias pessoais de alguns personagens. Mas noutras ocasiões são narrados episódios tão divertidos que poderiam estar num programa de humor.

A série é um projeto do jornalista e fotógrafo Marcelo Alonso, um dos personagens mais interessantes do universo das artes marciais. Sendo ele mesmo, desde muito jovem, praticante do jiu-jitsu, decidiu dedicar sua vida a promover e divulgar as artes marciais. Durante 15 anos foi editor da revista Tatame, considerada a bíblia das artes marciais no Brasil. Nos bons tempos em que o jornalismo impresso ainda não tinha sido destruído pela internet, a revista Tatame fazia sucesso nas bancas com edições luxuosas, bem editadas, bem fotografadas e textos primorosos. E por trás de tudo isso estava o talento desse visionário. Exímio fotógrafo, ele tem um impressionante acervo com fotos dos principais atletas do Brasil e do mundo, além de imagens de todos os grandes torneios e campeonatos. Dedicado e perseverante, tem um profundo conhecimento sobre tudo o que diz respeito ao seu esporte. É uma verdadeira enciclopédia sobre o assunto. E isso faz dele um dos jornalistas mais originais do Brasil.

“Dos samurais ao MMA. 500 anos de luta” é uma produção da Ciranda Filmes e do Combate, canal do YouTube dedicado a exibição, promoção e divulgação de todos os tipos de lutas de competição. Apesar de ter sido exibida para convidados no formato de um longa-metragem, a série será exibida a partir do dia 21 de agosto no Canal Combate em cinco capítulos. Vale a pena conferir.

 

 

Quem vai fazer a reforma política?

 




Os eventos que marcaram a aprovação da reforma fiscal nos lembram que o Brasil precisa urgente de uma outra reforma: a reforma política. Vamos combinar: nenhum país precisa de 513 deputados federais, cada um com direito a pelo menos 25 assessores. E esse é apenas um exemplo do festival de excessos do ambiente político nacional. A câmara poderia ter apenas 50 deputados. Já seria mais do que suficiente para a realização das quase sempre desnecessárias atribuições dos parlamentares.

Na maior parte do tempo o que o contribuinte vê é parlamentar defendendo seus próprios interesses e usando sua posição no parlamento para se promover, sempre visando futuras eleições. É quase uma regra da realidade dos políticos: depois de eleitos todos usam seus cargos como trampolim para futuras eleições. É sempre bom lembrar que esse modelo de governança praticado no Brasil foi elaborado numa época em que não havia nenhuma dessas maravilhas da tecnologia do século 21: nada de telefone celular, nem internet, nem redes sociais, nem whatsapp. Ao serem incorporadas a vida política, essas novas tecnologias deixaram desnecessárias a presença de tantos atravessadores. Afinal o político é apenas isso: um atravessador, um intermediário entre o cidadão e o estado.

A indústria do disco, com seus LP´s e CD´s, por exemplo, se tornou obsoleta por conta do surgimento das novas tecnologias. O mesmo aconteceu com o jornalismo impresso: jornais e revistas, praticamente deixaram de existir graças as novas formas de comunicação que surgiram a partir da virada do século. As novas tecnologias deixaram o cidadão mais perto do poder central. O cidadão não precisa mais de tantos atravessadores para propor ideias e opinar sobre o que considera melhor para seu município, seu estado ou seu país.

Claro que os políticos não querem perder espaço nem poder. Afinal, é disso que se alimentam. A política se tornou um grande negócio, na sua premissa fundamental de se apropriar do dinheiro público. Os partidos, no passado, já venderam a ilusão de que tinham princípios, valores e ideologias. Mas a tecnologia fez essa máscara cair. Agora todos já sabem que os partidos políticos são apenas grupos empresariais que, através de eleições, disputam o privilégio de terem acesso aos cofres públicos. Tudo o que querem, desejam e anseiam é isso: terem acesso aos cofres públicos, para usarem a seu próprio favor. Antigamente os partidos até tentavam se esconder através de uma aura de princípios éticos e morais.

Mas os partidos modernos, os políticos de hoje, perderam totalmente a compostura. Partidos reivindicam ministérios e setores específicos da sociedade não porque tenham projetos ou ideias para aquele setor, mas simplesmente porque desejam monetizar aquela área para privilegiar seus próprios grupos.

Ao agir com esse alto nível de desvio ideológico as casas legislativas se comportam como milícias: criam dificuldades para cobrar facilidades. Seja na câmara federal ou no senado, assim como nas câmaras estaduais e municipais, a palavra de ordem é aquela máxima que orienta grupos milicianos em todo o Brasil: criar dificuldade para cobrar facilidade.

Agindo como um grupo privilegiado dentro da sociedade, os políticos tentam convencer os brasileiros que democracia é algo que custa caro. Que os brasileiros, se quiserem manter a democracia no país, precisam pagar caro. Pagar caro para eles, que se comportam como se fossem os “donos” dessa entidade chamada democracia. Por causa disso os salários dos políticos tem que ser exorbitantes e o cidadão precisa financiar aberrações como o fundo partidário e o fundo eleitoral. Privilégios para um grupo que se julga integrante de uma casta superior e acredita ser dono do país.

É disso que estamos tratando. Da necessidade do contribuinte parar de se deixar explorar pela máquina cruel da política brasileira. Uma atividade econômica perversa e insana, cujo sucesso financeiro depende do fracasso do Brasil no seu propósito de se tornar um país civilizado. E qualquer mudança nesse sentido tem que começar com uma reforma política que seja capaz de diminuir os custos excessivos da administração pública no Brasil.


Cinema é a maior diversão

 






O acontecimento do ano no cinema brasileiro. Assim é Retratos Fantasmas, de Kleber Mendonça Filho, diretor dos aclamados O som ao redor, Aquarius e Bacurau, sucessos de público e crítica. Kleber surpreende ao lançar um documentário que é uma declaração de amor ao cinema.

Muitos filmes já foram produzidos tendo o próprio cinema como tema principal. Clássicos como Crepúsculo dos Deuses, de Billy Wilder, O dia do gafanhoto, de John Schlesinger ou mesmo A noite americana, de François Truffaut. Retratos Fantasmas é um desses filmes. Um mergulho nas peculiaridades do próprio cinema tendo como resultado um filme comovente e definitivo.

Crepúsculo dos deuses mostra a decadência de uma grande estrela de Hollywood. O dia do gafanhoto narra a vida dura dos figurantes que sonham com um personagem que tenha pelo menos uma fala. A noite americana mostra os bastidores da realização de um filme. Retratos Fantasmas trata das antigas salas de cinema onde filmes de cineastas como Wilder, Schlesinger e Truffaut foram exibidos num passado nem tão distante, encantando e fazendo sonhar multidões de apaixonados por filmes em todo o mundo.  Numa época em que não havia videocassete, nem DVD, nem internet, nem cinemas de shopping, os filmes eram exibidos em grandes salas de exibição construídas especialmente para essa finalidade. As salas eram verdadeiros templos. E curiosamente, muitas delas hoje se transformaram em igrejas.

Os novos tempos, a TV e a tecnologia criaram novas formas de assistir filmes, que acabaram deixando as grandes salas obsoletas. Com o advento das TV´s de alta definição, qualquer um pode ter um cinema no conforto de sua casa. Mas o imenso prazer de sair de casa e se dirigir a um templo para assistir uma película na sala escura, ao lado de pessoas desconhecidas, está ficando cada vez mais raro.

Os chamados “cinemas de rua” faziam parte do apreço pela sétima arte nos idos do século 20, algo que acabou com a chegada do admirável mundo novo que é o século 21.

Retratos Fantasmas se debruça sobre esse fenômeno, que é internacional, a partir dos cinemas que existiam em Recife, cidade natal do diretor. O filme comove e emociona ao fazer uma investigação apaixonada sobre o processo de decadência dos grandes cinemas de rua, ao mesmo tempo em que exerce a função primordial de qualquer filme que é encantar e divertir a plateia. Com um saboroso clima de nostalgia, mas sem ressentimento, o filme mostra o que restou e em que se tornaram alguns dos melhores cinemas do Recife. Salas imensas que lotaram multidões numa época em que os grandes campeões de bilheteria tinham títulos como Doutor Jivago, Ben Hur, Um homem uma mulher, Inferno na Torre, Os brutos também amam, Perdidos na noite, Love Story, O exorcista, Casablanca e tantos outros. No lugar de cinemas como o Trianon, Veneza, Moderno, Art-Palácio, Ritz, Pathé, Astor, Eldorado e Coliseu entre outros, o que existe são igrejas, farmácias, depósitos e supermercados. Ou então prédios deteriorados, abandonados e caindo aos pedaços. Esse é o caso do Art Palácio, que marcou época exibindo El Cid, Barbarella e Os girassois da Rússia. O interior dessa sala é mostrado já em decadência, mas onde ainda é possível observar o luxo que foi no passado. Numa entrevista comovente o encarregado de projetar os filmes durante décadas se queixa que alguns filmes ficavam muito tempo em cartaz. Ele faz rir quando lembra que foi um sacrifício ter que ficar projetando cinco sessões diárias de O poderoso chefão durante quatro meses.

Outro grande momento são as cenas da inauguração do luxuoso cine Veneza, em dezembro de 1970, com uma badalada sessão do filme Aeroporto. O dono do cinema, Luiz Severiano Ribeiro, criador da máxima de que “cinema é a melhor diversão”, aparece recebendo todo o high society recifense, incluindo o então governador de Pernambuco Nilo Coelho, acompanhado da primeira-dama.  Com seus lustres imensos, escadarias, tapetes vermelhos e uma suntuosa sala de espera, o Veneza marcou época exibindo campeões de bilheteria como O outro lado da meia noite, Sissi, a imperatriz, O grande Gatsby, A dama do lotação, Ainda agarro essa vizinha e Hair. Na seqüência vemos a sala nos dias de hoje, apenas um galpão abandonado que parece um lugar mal assombrado, como se fantasmas da velha Hollywood andassem por ali, em busca do aplauso de algum cinéfilo desesperado.

Retratos Fantasmas é o filme de uma vida dedicada ao cinema. A vida do diretor Kleber Mendonça Filho, um gênio do cinema brasileiro. Na primeira parte ele mostra as imagens que fazia quando garoto, do apartamento onde morava com a família, na praia de Boa Viagem. E quem viu seus filmes vai perceber de onde saíram os personagens e as tramas de clássicos como O som ao redor e Aquarius. Ele exibe cenas antigas do lugar, inclusive quando a cidade recebeu a visita de Tony Curtis e Janet Leigh com o intuito de promover o cinema de Hollywood no nordeste. Era um lugar charmoso e quase paradisíaco. Na seqüência o filme nos revela como Boa Viagem está nos dias de hoje, dominada por arranha-céus assustadores. Essa introdução serve para preparar o espírito do espectador para o que ele vai ver, e para lembrar que as mudanças são inevitáveis e não há nada que possamos fazer a esse respeito.

Em Retratos Fantasmas tudo é assim: belo e mágico. Tudo é cinema. E o cinema é mesmo a maior diversão.  

 


12.5.23

Julia de Nunez: a nova Brigitte Bardot








 


E DEUS CRIOU BRIGITTE - Foi lançada na França a cinebiografia de Brigitte Bardot, a estrela que causou uma revolução sexual quando estreou no filme "E Deus criou a mulher". E a mídia francesa está encantada com Julia de Nunez, atriz escolhida para o papel. A revista Paris Match a chama de sublime. Os críticos a aprovam como atriz, mas reclamam que ela não conseguiu reproduzir a voz de BB que, segundo eles, foi fundamental para o sucesso retumbante.







25.4.23

The lost room


A MÚSICA NÃO PODE PARAR - Que tal uma nova canção da dupla Pet Shop Boys? "The lost room" acabou de ser lançada. A música é ótima, naquele estilo inconfundível dos Pets. Para embalar seu novo hit os rapazes criaram um videoclipe exótico, todo feito com cenas do filme "O jovem Torless", lançado em 1966 pelo diretor alemão Volker Schlondorff. Uma adaptação para o cinema do livro de estreia do escritor Roberto Musil, autor de O homem sem qualidades. Segundo eles, a música e as imagens retratam quão confuso está o mundo em que estamos vivendo.





Madonna vem aí...

 

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