6.2.03

CELEBRIDADES – Não consigo parar de ler O Desfiladeiro do Medo . Aliás, não estou apenas lendo mas saboreando o novo romance de Clive Barker que a Editora Bertrand Brasil acabou de publicar. Já li um terço do romance que tem setecentas páginas. E pelo que eu estou percebendo, setecentas maravilhosas páginas.


O protagonista é Todd Pickett, um astro de Hollywood no auge do sucesso. Milionário, famoso, adulado, bajulado. A fim de arrasar no seu próximo filme Mr. Pickett decide fazer uma operação plástica. Dar uns retoques nas rugas que começam a aparecer. Esticar um pouco a pele a fim de ficar ainda mais sedutor na sua próxima produção. Ocorre que algo deu errado durante a cirurgia, seu organismo reage mal aos procedimentos cirúrgicos. Resultado: o super astro de Hollywood sai da mesa de operação com o rosto deformado.


O capítulo do livro que descreve o astro de Hollywood acordando depois de ter ficado três dias em estado de coma é impressionante. A angústia dele sentindo-se sufocado com as gazes em volta do rosto. A voz emocionada do irmão dizendo que apesar de tudo ele está vivo. O seu desespero quando começa a perceber que algo não saiu como planejado. “Apesar de tudo, o quê?” Suas lágrimas quando pela primeira vez vê o rosto no espelho.


Antes da tragédia o livro mostra a premiére do novo mega sucesso de Todd Pickett no Chinese Theatre e todos os bastidores de um evento como esse. As fãs contratadas pelo estúdio para gritarem seu nome, misturadas às fãs autênticas. O nervosismo dos produtores, em dúvida quanto ao possível sucesso do filme. O livro descreve com muito charme a chegada de Sigourney Weaver, uma das estrelas da produção. Ela desce da limusine e olha para a multidão com o cuidado de não fitar os olhos de ninguém, como lhe recomendou a equipe de segurança do estúdio. Nem mesmo quando um fã a chama de Ripley, o personagem do filme Alien, pelo qual ela será eternamente identificada.


Quando se confronta com o rosto deformado Todd Pickett decide sumir de Hollywood, para que ninguém descubra o que aconteceu. E vai se esconder numa imensa casa que sua agente aluga, fora da cidade, num desfiladeiro localizado numa região quase deserta. Todd não sabe disso mas a mansão foi construída por uma misteriosa atriz dos anos 20, que aparentemente fez um pacto sinistro com criaturas do mal que ficam rondando os imensos jardins da casa.


Quando Todd some de Hollywood os boatos começam a circular pela cidade. Maxine, a agente do super astro tenta acalmar os jornalistas, inventando justificativas para o seu sumiço. Os jornalistas continuam desconfiados. Afinal, Todd adorava freqüentar os restaurantes caros da cidade e circular com novas namoradas. Algo deve ter acontecido com o astro para ele ter sumido da cidade logo após o lançamento do seu último filme. É nesse momento que surge Tammy Lauper, a dirigente da Sociedade Internacional de Admiradores de Todd Pickett, a maior fã do ator. Intrigada com o sumiço do seu ídolo ela decide investigar o que aconteceu e acaba localizando a casa no desfiladeiro. Invade a casa de Todd e se esconde no jardim, depois de vê-lo no terraço com o rosto todo enfaixado.


Na tentativa de se esconder para descobrir o que está realmente acontecendo Tammy se perde nos labirintos do gigantesco jardim, onde acaba sendo tragada pelas sinistras criaturas que habitam aquele local. É nesse ponto da história que ocorre a noite do Oscar. Todd fica abatido por saber que está acabado para o cinema. Da mansão, vê ao longe os holofotes iluminando o céu de Los Angeles. No dia seguinte sua agente vai visita-lo e conta tudo. Os bastidores, os climas, as festas, as falsidades e os boatos sobre o seu sumiço. Maxine também diz que foi procurada pela polícia, por causa do desaparecimento de Tammy Lauper, da Sociedade Internacional de Admiradores de Todd Picket.


Depois de contar sobre a noite do Oscar Maxine diz que vai abandona-lo. Ela sabe que ele está acabado para o cinema e decide abandona-lo no momento em que ele mais precisaria dela. “Você ganhou muito dinheiro graças a mim”, diz o ator. “Não, Todd. Você é que ganhou muito dinheiro graças a mim. Fui eu quem te fiz Todd Pickett. Fui eu quem convenceu os chefões da Paramount a te dar uma chance no teu primeiro filme... “ Sem nenhuma piedade Maxine arrasa com Todd. “Eu posso chegar no aeroporto de Los Angeles e encher várias limusines de jovens que chegam a Los Angeles na esperança de ser um novo Tom Cruise. Um novo Leonardo Di Caprio. E sou eu quem vai decidir qual deles vai chegar lá. Os outros vão acabar vendendo o rabo nas ruas do Santa Mônica Boulevard. Se tiverem sorte, vão acabar trabalhando como garçons.


Eu adoro histórias sobre os bastidores de Hollywood. Mas uma coisa me intriga. Porque será que as histórias sobre os bastidores da indústria do cinema são sempre tão cruéis? Por que será que o mundo do cinema inspira histórias tão cruéis a seu respeito? Talvez seja simplesmente porque a vida é cruel e o cinema é a recriação da vida.


Não consigo imaginar a vida sem o cinema. Ou melhor, consigo sim. A vida sem o cinema seria uma vida chata, insossa e sem graça. Como viver sem Richard Gere? Sem James Dean? Sem Brigitte Bardot? Como viver sem a noite da entrega do Oscar? Como viver sem a magia dos filmes de Scorsese, Coppola, Tarantino, Spielberg, Bertolucci, Capra, Fellini, Woody Allen... Não importa se eles são maus, cínicos, drogados, pervertidos, falsos, inescrupulosos, corruptos, cretinos.. (Ou seja, humanos...) O que importa são os filmes. Apenas os filmes. Não existe magia e encanto maior do que sentar numa sala escura e ver Leonardo Di Caprio abrir os braços de Kate Winsllet na proa do transatlântico e desfrutar com o casal apaixonado a brisa suave do oceano antes da tragédia acontecer.

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