9.3.03




COPACABANA ME ENGANA – Foi um sábado muito especial. Dia de decisão do campeonato de futebol de praia. Um clássico da areia. Lá Vai Bola, o tradicional time do posto seis, versus Copagalo, que reúne os rapazes do morro do Cantagalo. Mais carioca impossível. No campo, em frente a rua Bolívar, o clima era de total excitação. A final do campeonato seria em duas partidas. A primeira o Lá Vai Bola havia ganhado de 2 x 0, portanto, tinha a vantagem na segunda partida. Podia perder de 1 X 0 que seria campeão.


Começa a disputa. Os dois times fazem um primeiro tempo equilibrado, até que, no último minuto o Copagalo faz um gol. Clima tenso no intervalo. O Copagalo excitado com a possibilidade de virar o jogo, que para eles seria uma questão de honra. E o Lá Vai Bola desconcertado ao perceber que as coisas não seriam tão fáceis como imaginavam. Começa o segundo tempo. A bola rola na areia. Fora de campo, as torcidas dos dois times incentivam suas equipes, quando alguém aponta para o céu. Nuvens assustadoramente negras se aproximam, vindas do Leme. De repente, começa uma ventania desconcertante. Guarda-sóis começam a voar, enquanto banhistas fogem correndo. No calçadão, cadeiras e mesas são reviradas. O vento forma uma camada de areia que flutua sobre o solo. O mesmo vento que faz a bola desviar do seu destino cada vez que é chutada. Num desses desvios ela vai balançar a rede do Lá Vai Bola. Segundo gol do Copagalo.


Começa a chover torrencialmente em Copacabana. A praia, o calçadão. Tudo fica deserto. Naquela chuva torrencial, com uma ventania que poderia tranqüilamente ser chamada de vendaval, os dois times continuam impassíveis, como se nada tivesse acontecendo. Estavam disputando uma final e era isso o que importava. Não ia ser uma tempestade que ia faze-los parar. De um lado o desespero surdo do Lá Vai Bola, que a essa altura já tinha perdido a vantagem. Do outro lado o Copagalo, vendo surgir à sua frente a possibilidade da vitória. No Lá Vai Bola alguns dos maiores nomes do futebol de praia da atualidade: Bruninho, Pedrinho, Jorge Zen, Jamaica e Batata. No Copagalo apenas uma estrela. Um garoto de 23 anos chamado Iury.


A tempestade continua caindo sobre Copa. A partida fica confusa pois a água e o vento atrapalham a visão dos jogadores e mudam o destino de suas jogadas. Mas os rapazes continuam jogando, obcecados pelo futebol. Dominados pela disputa. Cinco minutos antes de acabar a partida, num lance absolutamente genial, o Copagalo faz o terceiro gol. Festa para um lado, desespero para outro. Final da partida. A entrega das medalhas foi debaixo de muita chuva, vento e frio. Mesmo assim o Copagalo fez questão de dar a volta olímpica, carregando o bonito troféu, carregando em seus rostos uma comovente mistura de chuva, suor e lágrimas.


Meia hora depois do final do jogo a chuva cessou. O Copagalo se reuniu para comemorar a vitória num botequim da rua Miguel Lemos. Os jogadores ainda vestidos com o uniforme do time, carregando uma medalha no pescoço. Nem eles mesmos pareciam acreditar na vitória. Quando cheguei no bar Iury me abraçou, a voz já meio bêbada: “Agora os caras do Lá Vai Bola vão ter que me aturar. Sou campeão! Campeão do futebol de praia de Copacabana”. Encheu meu copo de cerveja. A expressão do seu rosto era de pura felicidade. Uma felicidade que o deixava ainda mais bonito. Mais sexy. O sorriso franco. Os olhos brilhando. Ele não tinha feito nenhum dos gols mas tinha participado de todas as jogadas. No intervalo da partida, os jogadores do Lá Vai Bola comentaram: “Iury está muito solto. Alguém tem que ficar marcando ele o tempo inteiro.” No bar Iury festejava, bebendo doses cavalares de uísque com energético: ”Os caras ficaram no maior recalque, não é?” Depois encheu mais uma vez meu copo de cerveja. “Vamos beber, cara. Vamos comemorar essa vitória, que hoje eu tô para o que der e vier!


Enquanto isso, no botequim do Lá Vai Bola, no posto seis, o clima era de desolação. Alguns jogadores nem apareceram para beber. Os que apareceram lá estavam decepcionados e frustrados. Quando cheguei PC me deu um abraço e com os olhos cheio de lágrimas colocou uma medalha de vice-campeão no meu pescoço. “A gente não foi campeão dessa vez mais vai ser da próxima. Futebol é assim mesmo. Um dia a gente ganha. Outro dia a gente perde.” A vida também é assim.

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