27.9.03

OS BOFES MERECEM O PARAÍSO O homem carioca sempre foi uma das maiores riquezas do Rio de Janeiro. Eu diria até, sem nenhum receio de estar exagerando, que o homem carioca é a MAIOR riqueza do Rio de Janeiro. Eles são maravilhosos. Mesmo quando são péssimos eles são maravilhosos. O jeito de ser. O estilo. A maneira como os rapazes da cidade exercitam sua masculinidade bronzeada. A sensualidade temperada com o salgado do mar. Tudo isso faz do bofe carioca um tipo exótico muito especial.


Pois bem. A exposição CORPUS do fotógrafo Alair Gomes é a maior celebração já feita ao homem carioca, desde que Caetano Veloso compôs a música Menino do Rio. Com a mesma verdade existencial com que Tchaikovski compôs suas sinfonias, Alair Gomes fotografou a doçura, a grandeza e a alma dos meninos do Rio. É comovente a sua dedicação ao masculino e a tudo o que isso representa como referência à existência humana. Suas fotos são verdadeiros poemas que exaltam e reverenciam a virilidade como parte integrante da cidade de São Sebastião.


Dêem um tempo em Sebastião Salgado e suas imagens da miséria e se liguem nas fotos de Alair Gomes que, com essa exposição, se eleva à condição de maior fotógrafo brasileiro de todos os tempos. Suas imagens têm o movimento da cidade. A cor. A música. O doce balanço a caminho do mar. O charme do subúrbio. O ritmo do bloco Cacique de Ramos. Através das fotos dos bofes, Alair fotografou a alma da cidade com uma pureza e uma precisão que nenhum fotógrafo jamais conseguiu captar.


As fotos são absolutamente belas. E exalam ternura e sensualidade. Mas, se não fosse assim, não estariam traduzindo a cidade. Diante de algumas fotos senti vontade de chorar. Precisei fazer um esforço para evitar que as lágrimas me enchessem os olhos e me impedissem de ver nitidamente imagens de tão precisas belezas. Mas a emoção se fez presente em cada uma das imagens expostas no Museu de Arte Moderna. Diante daquelas fotos pude perceber, comovido, que eu estava diante de um artista com a mesma grandeza de um Tchaikovsky, um Visconti, um Balzac.


Alguns trechos da exposição me tocaram com mais intensidade. Tem uma seqüência de oito fotos que mostra um lindo rapaz saindo da praia, com uma sunga preta, calçando o tênis no calçadão, subindo numa moto e indo embora. Alair flagrou a seqüência com tanta precisão e com tanto senso de oportunidade, que suas fotos contam toda uma história daquele homem e sua relação com a cidade, com o mar, com a vida. É belo e perturbador na sua beleza. Em outro momento da exposição, uma série de fotos tiradas da janela do seu apartamento em Ipanema, mostram os meninos do Rio indo ou voltando da praia. Nas fotos podemos sentir o perfume do mar e conseguimos distinguir os sonhos, desejos e aspirações dos nativos da cidade.


Noutra seqüência, doze fotos mostram apenas dois rapazes conversando distraídos na praia. A seqüência de fotos mostra apenas isso. Dois rapazes conversando. Eles são jovens, lindos, corpos perfeitos. Mas as fotos captam muito mais do que as imagens traduzem. As fotos captam um momento mágico na vida daqueles dois. Um momento em que a juventude e a beleza estavam brotando como uma explosão da natureza querendo confirmar a existência de Deus. E o grande mérito de Alair Gomes é exatamente esse. Com sua câmera ele soube captar algo como um segredo mágico sobre os mistérios da existência humana.


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