23.4.04

ANIVERSÁRIO DE IPANEMA - O escritor Lúcio Cardoso é um dos mais célebres personagens gays desses 110 anos de Ipanema. Até 1962 ele morou num apartamento na rua Joana Angélica, esquina com Alberto de Campos, onde realizava saraus que reunia artistas, intelectuais, boêmios e garotões. Era um tempo em que as pessoas viviam com a porta de suas casas abertas e recebia-se muito. E todos adoravam o escritor, que era um tipo exótico e sofisticado. O cineasta Luis Carlos Lacerda, ainda menino, freqüentava o apartamento. Assim como Marcos Konder Reis, Ferdi Carneiro e o cineasta Paulo César Saraceni que era um bofe deslumbrante, que jogava no Fluminense. Conta-se que certa vez Lúcio Cardoso se apaixonou por um empregado de um botequim que ficava em frente a Chaika. No final do expediente, o escritor ia ajudar o bofe a arrumar o botequim e lavar os ladrilhos. Não é lindo o amor? perguntaria as ondas do mar de Ipanema.


WALMIR AYALA - Quando Lúcio Cardoso mudou do apartamento de Ipanema, em 62, outro escritor foi morar no mesmo endereço: Walmir Ayala. Poeta, escritor, crítico de arte e gay. Ayala fez questão de manter a tradição ipanemense e continuou promovendo os saraus intelectuais, à moda doseu antecessor. Freqüentavam sua casa personalidades como o artista plástico Farnésio de Andrade, José de Freitas e Alex Nicolaiev. Foi dramaturgo e escreveu as peças Nosso filho vai ser mãe e Essa noite comeremos rosas. Em meados dos 70 Walmir adotou como seus os filhos de sua empregada e mudou-se para Saquarema onde viveu até sua morte.


AS WALQUIRIAS - Um grupo de lesbian chics marcou época na Ipanema dos anos 60. Era um grupo de mulheres densas, decididas e “colocadas” demais. Andavam sempre juntas e tinham uma particularidade: eram lindas. A presença forte fez com que o grupo ganhasse um apelido: As Walquirias. As Walquirias eram a aeromoça Florinda, a professora Valeriana, a jornalista Sonia, a fotografa Helga e Ledão. Elas freqüentavam os saraus de Walmir Ayala e o bar Pizzaiolo, onde bebiam muito e tinham crises existenciais. Por serem bonitas viviam sendo assediadas pelos homens. E quando demonstravam que não gostavam de rapazes, as moças eram hostilizadas. Elas reagiam e a história sempre acabava em socos e pontapés. Ficaram famosas, no Jangadeiros, as brigas em que Helga e Ledão pegavam as cadeiras do bar e botavam os homens para correr.


O VERNISSAGE - A Farme de Amoedo sempre foi um reduto do gay society. Durante a efervescência cultural dos anos 70 moravam na rua o ator Rubens Araújo e os escritores João Carlos Rodrigues e Luis Carlos Góes. Certa vez, na juventude, os três estavam no apartamento de Rubens puxando um fumo e pegaram algumas folhas de papel oficio e começaram a desenhar bobagens. Doidões, resolveram fazer um vernissage. Começaram a ligar para as pessoas avisando, enquanto Rubens encomendava alguns engradados de cerveja no Bofetada. À noite, toda a fauna artístico-intelectual do Rio de Janeiro apareceu no apartamento para ver os quadros, folhas de papel coloridas coladas a parede. Bárbara Heliodora, Odete Lara, Yan Michalski, Arnaldo Jabor, Maria Fernanda, Ney Matogrosso, Guilherme Araújo, etc. A viagem dos malucos-beleza se transformou num grande acontecimento social daqueles tempos.


OS MACHÕES - A Farme de Amoedo sempre foi reduto de machões. Gays que moraram na rua em outros tempos contam que desde sempre a Farme é um reduto de pitboys. “É uma coisa que passa de pai para filho”, diz o escritor João Carlos Rodrigues, que morou cinco anos na rua e já levou uns tabefes da turma. Certa vez um grupo de machões do pedaço chegou a invadir o apartamento de Poty, intelectual que hoje trabalha na cinemateca de Nova York. Eles ficaram indignados porque Poty estava tendo um caso com um dos rapazes da turma. Poty conseguiu escapar dos valentões e para se vingar escreveu uma peça chamada Lust on Farme Street (Luxúria na rua Farme), onde imortaliza os pitboys da rua. Pois é. Os pitboys da Farme, quem diria, acabaram em Nova York!

Madonna vem aí...

 

Postagens mais vistas