6.9.05

O ESCRITOR E A CIDADE - Simon Lane é um sujeito que adora o Rio, cidade que sempre visitou regularmente, até que se apaixonou pela carioca Betsy Monteiro de Carvalho, quando se conheceram em Paris. Começaram a namorar em 2001 e hoje são casados. Felizes e apaixonados, o casal escolheu morar no Rio apesar das constantes viagens à Europa. Discretos, eles não têm muita vida social e preferem ficar em casa curtindo um ao outro. São tão apaixonados que dividem até o mesmo e-mail. É no escritótio da linda casa onde mora com a mulher, em São Conrado, que ele escreve poemas e dá forma final a um novo romance. Além disso, Simon é correspondente free-lancer de revistas estrangeiras.


O poeta e romancista Simon Lane nasceu na Inglaterra em 1957, diplomou-se em artes em Londres, antes de viajar pelo mundo. Morou em Berlim, Nova York e Milão estabelecendo-se em Paris em 1988. Foi lá que conheceu o artista plástico Tunga, ficaram amigos e o escritor acabou descobrindo o Brasil.
O Brasil é um país que não tem explicação. É um país que não se explica com a razão e sim com a emoção. Os ingleses escondem seus sentimentos, os brasileiros não. Nisso eu me identifico com os brasileiros, pois sou extrovertido.


Da janela do seu escritório se descortina uma vista paradisíaca da cidade que ele descreve como magnífica. Mas, e os defeitos do Rio? A violência, os assaltos...
Eu já fui assaltado. Fiquei olhando para o cano de um revólver. Dei todo o dinheiro que eu tinha naquele momento, R$ 200, para o assaltante. Foi uma experiência assustadora, mas que não mudou em nada meu amor pelo Rio. Todas as cidades têm seus problemas. Em Londres, eu posso explodir no metrô com um homem-bomba. No Rio, pelo menos, eu dou meu dinheiro e o assaltante vai embora. Em Londres, eu não vou me livrar do homem-bomba com R$ 200.


Simon Lane sempre gostou de escrever. Na adolescência foi um jovem rebelde que gostava de contestar os valores conservadores da sociedade inglesa. Sofreu muito nessa época, até que descobriu a literatura como válvula de escape.
Quando escrevo fico calmo, sóbrio e sereno. Escrever é a minha maneira de reagir ao mundo.


O romancista já escreveu roteiros para TV, tentou a vida em Hollywood, mas gostou mesmo de Nova York onde conseguiu editar dois livros: Still Life with Books e Fear. Na Europa lançou Le Veilleur, escrito em fracês. Seu último livro Word of Mouth foi lançado no Brasil pela Record com o título de Boca a boca, traduzido por Bárbara Heliodora.
Esse livro foi escrito em 1999, logo depois que meu pai, Peter Lane, morreu. Ele era o meu melhor amigo, um homem por quem sempre tive muita admiração. A sua morte me deixou muito triste. Para conseguir superar a dor escrevi o livro pensando que estava contando a história para ele.


Boca a boca é ambientado em Paris e conta a história de um imigrante ilegal que trabalha como faxineiro para cinco pessoas. Um dia, ao chegar para trabalhar, encontra um de seus patrões assassinado. Com medo que pensem que ele é o criminoso, decide se livrar do corpo e isso dá início a uma trama de suspense e tragédia, temperada com muito humor.
O humor é a maneira mais eficaz de se expor idéias sérias. Por isso eu adoro comédias e procuro ter sempre o humor ao meu lado. Eu já passei momentos muito difíceis na minha vida. Nos anos 90 tive sérios problemas de saúde e, se sobrevivi a tudo isso, foi graças ao humor.


(texto de reportagem publicada no Jornal do Brasil)

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