14.11.05

A LINHA DA BELEZA – Foi com grande prazer que li as quase quinhentas páginas do aclamado livro do escritor inglês Alan Hollinghurst, A linha da beleza, que chega às livrarias de todo Brasil esta semana. O que eu poderia dizer do livro? Encantador? Mágico? Belo? Surpreendente? Eu não saberia exatamente como defini-lo. Mas diria que foram muito especiais os momentos que passei debruçado sobre cada uma de suas páginas.


A linha da beleza se passa nos anos 80. Conta a história de Nick Guest, um garoto do subúrbio de Londres, que estudou em Oxford onde ficou amigo de Toby, um garoto rico, de família influente nos meios políticos da Inglaterra, já que o pai, Gerald Fedden, é membro do Parlamento. A história começa em 1983 quando, aos 20 anos, Nick sai do subúrbio e vai morar na mansão da família Fedden, em Notting Hill, a pretexto de ficar mais perto da universidade.


Nick é homossexual. Quando se muda para Londres, aproveitando que está longe da família, o jovem se envolve com Leo, um rapaz negro que conhece através de uma revista de encontros. É com Leo que Nick tem a sua primeira relação homossexual de fato. Em Oxford, Nick havia se apaixonado por Toby, mas desistira do rapaz ao perceber que ele era heterossexual. Isso não impediu que eles ficassem amigos e que Toby o convidasse para ir morar com sua família, que trata Nick como se fosse um filho.


O livro acompanha os quatro anos em que Nick foi hóspede da família Fedden e mostra como o garoto do subúrbio acabou freqüentando as altas rodas da aristocracia política, social e econômica da Inglaterra. Com o requinte de um Oscar Wilde Alan Hollinghurst descreve as festas, os climas, os jantares, as modas, a cultura, os hábitos e os valores de uma Inglaterra que, sob a égide da primeira-ministra Margareth Thatcher, acabara de sair vitoriosa de uma guerra contra a Argentina nas ilhas Falklands. E o pano de fundo desse universo é o devastador surgimento da AIDS.


A narrativa culta e elegante reforça o comportamento do mundo que o romance se propõe a descrever. Num dos grandes momentos do livro Gerald Fedden oferece um jantar na sua casa para a primeira-ministra Margareth Tatcher. O autor descreve a excitação dos personagens com a visita da Dama de Ferro, assim como os preparativos para a chegada da poderosa. Durante a festa Nick é apresentado a mais importante autoridade política da Inglaterra. Num ato de coragem, a convida para dançar e, para surpresa de todos, ela aceita. O rapaz tem um grande momento de glória social.


Quando a Dama de Ferro começa a conversar com o anfitrião e outras autoridades, Nick sobe as escadas da mansão e vai cheirar cocaína com Wani, um descendente de libanês milionário e bonitão, filho de uma familia de amigos dos Fedden, com quem ele acaba tendo um caso. Juntos com eles está um garçom que haviam seduzido numa outra festa, num castelo que a família possui no campo. Depois de várias fileiras de pó, Nick, Wani e o garçom fazem uma suruba no banheiro do seu quarto, enquanto lá embaixo a primeira-ministra é recepcionada pela família Fedden.


Na primeira metade do livro tudo parece correr bem para Nick e seus amigos ricos. Seu caso secreto com Wani o deixa muito satisfeito já que o rapaz é muito bonito e esportista, um tipo que lhe atrai muito. Wani namora uma garota, mas é só fachada para satisfazer sua tradicional família libanesa. A carreira política de Gerald Fedden vai de vento em popa e todos parecem muito felizes. Um belo dia a família está passando férias num castelo na França quando a mulher de Gerald recebe um telefonema de Londres, avisando que o tio dela havia morrido de pneumonia. Fica um clima estranho com a notícia até que a filha rebelde explode: “Ora bolas, mamãe. Ele morreu de AIDS!”. É o primeiro sinal de que as coisas estão começando a mudar.


Um ano depois Nick está esperando por Wani num restaurante chique, acompanhado de dois americanos, com quem o jovem milionário está negociando a produção de um filme. Quando Wani chega os americanos tomam um susto com a figura do rapaz. Ele está magro, esquelético, com dificuldade para andar. O jovem e belo Wani de um ano atrás se transformou naquilo que o livro descreve como “um mau ator imitando um velho”. O namorado de Nick foi contaminado pela doença. Nesse trecho o livro descreve o físico debilitado de Wani e a reação das pessoas à sua figura e ao seu estado de saúde. É amargo o momento em que Fabio, o dono do restaurante se mostra incomodado com a presença de Wani, deixando claro que isso não seria bom para o seu estabelecimento. Logo ele que, um ano antes, tratava Wani e seus amigos com tanta receptividade.


Algumas páginas depois Nick recebe a visita da irmã lésbica de Leo, o rapaz negro com quem teve seu primeiro caso amoroso. O namoro já havia acabado há muito tempo e eles não se viam mais. A irmã de Leo foi avisar a Nick que o rapaz tinha acabado de morrer. E ela estava procurando todos os ex-namorados do irmão para que soubessem a causa da sua morte.


Enquanto isso Gerald Fedden se vê envolvido num escândalo político. Ele é acusado de desvio de dinheiro público que parece ter sido misturado com o dinheiro de suas empresas. A imprensa começa a investigar a vida de Fedden e chega até Nick. Descobre que o rapaz é homossexual e faz um escândalo com o fato. Pederastia na casa de um membro do Parlamento, é a manchete de um dos tablóides sensacionalistas daqueles anos 80.


O escândalo provoca uma crise no governo. E a família Fedden, que nunca deu importância ao comportamento sexual de Nick, acaba expulsando-o de sua mansão. “Eu quero que você saia da minha casa agora mesmo”, diz Gerald Fedden, que sempre o tratara como um filho. Nick fica arrasado por ter perdido o carinho da família. Quando sai da casa dos Fedden, o livro descreve a angústia de Nick que, antes de ir para sua nova residência, com apenas 24 anos, precisa passar numa clínica e pegar o resultado do seu exame de HIV.


Lágrimas...


A linha da beleza se utiliza de acontecimentos sociais e políticos dos anos 80 para descrever o impacto da AIDS nas relações humanas. E faz isso com muita classe e profundidade, mesmo que muitas vezes pareça ser uma história sobre um mundo fútil e superficial. O autor revela-se um grande observador, já que o livro demonstra nos diálogos, ou em pequenas observações, ou nas reações e comportamento dos seus diversos personagens, como a AIDS foi cruel com toda uma geração. Ao mesmo tempo, deixa bem claro para os seus leitores que aqueles tempos terríveis e cruéis não destruíram os homossexuais. Ao contrário. Os deixaram mais fortes.


A linha da beleza é um livro belíssimo, ganhador do Booker Prize, o mais importante prêmio literário da Inglaterra.





A LINHA DA BELEZA (Trecho do livro)

Wani estava de joelhos, tentando desajeitadamente fazer justiça à coisa que sempre queria. Suas calças estavam arriadas, mas o pênis pequeno, diminuído pelo efeito devastador da cocaína, continuava enrugado, quase escondido. Ele se sentia perdido, mais que humilhado – e tinha pago por isso. Fungava enquanto lambia e chupava o pau, e o muco brilhante, salpicado de sangue e pó não dissolvido escorreu do seu famoso nariz para o colo do garçom. Obviamente o garçom nunca tinha ficado assim, aprendeu o perigo pelo exemplo de Wani. Passou a tagarelar, como se estivesse no meio de amigos. Baixou a cabeça e disse para Wani:
- Foi quando eu vi esse cara pela primeira vez. Na festa do sr. Toby. Ele me deu cocaína e eu comi o rabo dele.
- O rabo dele? – Nick sorriu com um misto de frieza e hilaridade, um certo respeito pela travessura, ainda que dolorosa. Viu Tristão passar as mãos no cabelo ondulado do seu amante, de uma forma cuidadosa, paciente, familiar, quase como se Wani não o estivesse chupando, como se ele fosse uma criança linda e mimada entre adultos, ansiosa por elogios. Tristão mexeu no cabelo dele, sorriu e o elogiou.
- Ele sempre paga melhor que os outros.
- Tenho certeza que sim! – disse Nick, tirando o preservativo do bolso.
- Lá vamos nós – disse Tristão.
No andar de baixo a primeira-ministra estava indo embora. Gerald havia dançado com ela durante quase dez minutos. Tinha o brilho da intimidade e a iluminação do sucesso ao acompanhá-la até o carro, apesar da chuva. Os últimos fogos ainda pipocavam como bombas e tiros de espingardas, e todos olharam para cima. Rachel ficou no portal, Penny atrás dela, enquanto Gerald assumindo o lugar do policial do Serviço Secreto, inclinou-se para frente e bateu a porta do carro com uma reverência involuntária e feliz.









ALICE NO PAÍS DAS MARAVILHAS

(Capitulo 12)

O que você sabe a respeito do caso? O Rei perguntou a Alice.
- Nada – respondeu Alice.
- Nada de nada? – Persistiu o Rei.
- Nada de nada – disse Alice.
- Isso é muito importante – disse o Rei, voltando-se para o júri. Os jurados começavam a escrever isso nas lousas quando o Coelho Branco os interrompeu
- Desimportante foi o que Vossa Majestade quis dizer, é claro – falou em tom respeitoso, mas franzindo as sobrancelhas e fazendo careta para o rei enquanto falava.
- Desimportante, é claro, foi o que eu quis dizer – retomou o Rei, e falando consigo mesmo baixinho – importante, desimportante, importante, desimportante – como se estivesse tentando ver qual seria a melhor palavra.


Madonna vem aí...

 

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