7.11.05

PARIS EM CHAMAS – Tenho sentido muitas saudades de Paris. Saudades das caminhadas em Saint-German-Des-Prés. Das noitadas na Rive Gauche. Dos passeios de barco no rio Sena. Das vitrines nas lojas dos grandes estilistas na rue Saint Honoré. Sinto, acima de tudo, uma saudade muito grande do espírito da cidade. Uma coisa que está no ar, que paira sobre as pessoas.


Na véspera do último 14 de julho eu peguei um táxi do Champs Elysées até Saint-Germain-Des-Prés. O motorista era muito simpático e fomos batendo um bom papo no caminho. Quando atravessamos a ponte de l´Alma eu comecei a elogiar a cidade, sua beleza, harmonia e civilidade. E o motorista então me disse: “Muito sangue foi derramado para que nós conseguíssemos isso”. Havia tristeza na sua voz.


Eu tenho lembrado muito desse motorista de táxi quando acompanho pelos jornais e pela TV os conflitos dos últimos dias nos subúrbios de Paris. As imagens de carros e prédios pegando fogo deixam o meu coração cheio de tristeza. E eu me lembro logo do espírito da cidade que já viu tanto sangue derramado e agora é obrigado assistir a mais esse espetáculo de terror.


Os incêndios provocados pelos rebeldes me trazem à mente o que para mim é o maior fetiche de Paris: os bombeiros. Les pompiers. Os mais bonitos rapazes da cidade estão no corpo de bombeiros. Foi tão emocionante vê-los desfilando no Champs Elysées durante a parada militar do 14 de julho. O público aplaudindo com entusiasmo e os belos desfilando orgulhosos de suas fardas. Certamente, nos últimos dias, os garotos devem estar trabalhando muito. Arriscando a vida entre labaredas. Tentando evitar que a tragédia seja ainda maior. Que Deus abençoe os bombeiros de Paris.






A VOZ E O SOM – Adoro uma cantora chamada FORTUNA. Quando vi o show dela pela primeira vez fiquei apaixonado. Afinada, bonita e exótica, ela cantava apenas músicas judaicas com uma voz celestial e arranjos belíssimos. Eu fiquei impressionado com o que ouvi e vi. Ela é charmosa, sensual e tem uma voz que me deixa inebriado.


FORTUNA acabou de lançar um novo CD que é absolutamente genial. Ela fez uma pesquisa sobre a influencia da música judaica nos ritmos brasileiros. E gravou um disco inteiro com canções que misturam com muita propriedade elementos do folclore judaico com a música nordestina como o frevo e a ciranda. Segundo FORTUNA esses ritmos tipicamente pernambucanos são uma evolução de antiqüíssimos cantos judaicos. Afinal, Pernambuco possui uma das maiores e mais antigas colônias judaicas do Brasil.


O CD é impressionante. Tem desde cirandas até um clássico do carnaval pernambucano, “Ai se eu tivesse”, sucesso do compositor Capiba. “Leva eu saudade”, uma belíssima canção popular de Alagoas e “Guilhermina”, canção do folclore do Rio Grande do Norte. Além de canções de Jacob do bandolim e Pixinguinha. O resultado dessa mistura é uma música jovem e vibrante. Aplausos de pé para FORTUNA.






INVENTANDO CARNAVAIS - O carnaval do Rio, quem diria, começou na França. A grande festa que mobiliza os cariocas todos os anos é descendente direta dos carnavais de Paris no século XIX. Como os folguedos de Momo surgiram no Rio de Janeiro por influência das festas pagãs que animavam parisienses é o que mostra o livro Inventando carnavais, do professor Felipe Ferreira, mestre em História da Arte pela Escola de Belas Artes da Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Segundo o historiador o projeto da elite brasileira da época, de implantar no Brasil uma cultura civilizada, nos moldes da européia, incluía essa festividade. Os folguedos e bailes de máscaras dos franceses serviram de inspiração para os chamados entrudos, festas que foram o embrião do que acabou se transformando no Carnaval carioca.


Inventando carnavais mergulha na história do Rio de Janeiro, então capital do Império e, logo em seguida, capital da emergente República, para narrar como o jeitinho brasileiro traduziu para nossa cultura o carnaval que já era moda na Europa, não só em Paris, como também em cidades como Nice e Roma, com suas algazarras, festejos, máscaras e orgias. No livro a festa carnavalesca é abordada em sua relação com o espaço urbano por ela ocupado física e simbolicamente. Esse ponto de vista permite que se compreendam não somente as modificações ocorridas na festa através do tempo, mas, principalmente, o mecanismo de influências exercidas sobre ela a cada momento histórico. Para realçar seus argumentos o autor recheou o livro com noticias de jornais e ilustrações que datam a partir do longínquo ano de 1840. Nessa época os matutinos já davam destaques aos desfiles dos blocos carnavalescos que existiram muito antes das escolas de samba, animando foliões no centro da cidade. Blocos como Urubus Chumbados, Prazer da Providência, Triumpho do Cumcumbys e o Prazer da Mocidade arrastaram multidões nos carnavais cariocas do final do século XIX.


Inventando carnavais mostra que, a exemplo do futebol, que nasceu inglês e foi transformado no mais brasileiro dos esportes, o carnaval também foi importado da Europa e que, só depois de adaptado aos elementos da cultura brasileira, transformou-se na maior festa popular do mundo. Ao abordar a evolução do carnaval carioca sob a ótica dos acontecimentos históricos e das transformações geográficas da cidade, o professor Felipe Ferreira concebeu um livro que é informativo, curioso e original.


(Resenha publicada no Caderno B)




SHOW DE BOLA - Alexander Pickl é um diretor de publicidade alemão que sempre foi apaixonado pelo Brasil. Quando teve a oportunidade de dirigir o seu primeiro longa-metragem decidiu filmar a história no Brasil, inspirado em Cidade de Deus, filme de Fernando Meireles, que também é um exímio diretor de comerciais. Aproveitando que o seu país será sede da próxima Copa do Mundo, ele decidiu ter o futebol brasileiro como tema do seu primeiro filme. Assim surgiu o filme Show de bola, rodado no Brasil no primeiro semestre de 2005, com um elenco totalmente brasileiro.


Com ritmo de videoclipe, uma eficiente fotografia e belas cenas de jogos de futebol, o filme Show de Bola conta a história de Tiago, um garoto da favela que tem muito talento para futebol e sua luta para se tornar jogador profissional. A exemplo de Cidade de Deus, o filme tem um grande número de cenas filmadas na favela e o elenco é formado por atores do grupo Nós do Morro, de Gutti Fraga. No papel do jogador de futebol se destaca o jovem astro Tiago Martins que, além de bom ator, dá um show jogando futebol.


Lui Mendes personifica Tubarão, o bandido que comanda o tráfico de drogas na favela. O modelo Gabriel Mattar tem uma ótima atuação como o irmão mais velho do protagonista. E a atriz Sandra Pêra tem uma magnífica atuação como a mãe dos rapazes, uma mulher doente, que precisa ser cuidada pelos filhos.


O filme foi rodado em maio e junho de 2005, então a equipe pode filmar no Maracanã antes do estádio fechar para reforma. Também foram feitas cenas no Arpoador, Botafogo, São Conrado, no campo do Fluminense e numa favela no Catete. O diretor quer lançar o filme na Alemanha, um mês antes do início da Copa do Mundo. O sonho de Alexander Pickl é que o prestígio do futebol brasileiro faça com que seu filme tenha o mesmo sucesso de Cidade de Deus.





VINICIUS, UMA COMÉDIA ROMÂNTICA - O filme Vinicius , de Miguel Faria Jr, pode ser classificado como uma comédia romântica. Comédia porque o filme é muito engraçado e faz o espectador tanto sorrir como gargalhar. Romântica porque o personagem retratado foi um homem que viveu do amor. Amor pela vida, pelos amigos, pelas mulheres, pela arte. E o diretor conseguiu, com muito talento, traduzir no filme a personalidade do homem, do diplomata e do poeta Vinicius de Moraes. Intercalando com muita propriedade imagens do artista com depoimentos de pessoas que conviveram com ele, clipes de algumas de suas mais famosas canções, e poemas recitados pelos atores Ricardo Blat e Camila Morgado, o filme constrói um painel informativo e inteligente deste que foi um dos grandes artistas brasileiros e um filósofo do estilo brasileiro de viver.


"O Vinicius ajudou o povo brasileiro a ser feliz", diz Ferreira Gullar no seu depoimento. E o filme mostra isso de forma bem clara: com sua música, sua poesia e o seu jeito de viver, Vinicius fez o Brasil se divertir, sonhar e amar. O depoimento das pessoas que conviveram com ele comovem pela sinceridade. O diretor, que já foi casado com Suzana de Moraes, filha de Vinicius e conviveu com ele e com alguns de seus entrevistados, se aproveitou dessa intimidade para extrair depoimentos muito sinceros dos seus entrevistados, todos amigos ou parceiros do poeta. A diva do teatro brasileiro Tonia Carrero dá um depoimento magnífico. "O Vinicius era capaz de fazer qualquer baixaria para conquistar uma mulher" diz ela, ao descrever o sofrimento e o ardor do artista quando envolvido em suas conquistas amorosas.


Aliás, os amores de Vinicius têm a função de dividir o filme em capítulos. A cada novo amor, novas histórias, novas músicas, novas aventuras. A cantora Maria Bethânia provoca gargalhadas ao contar como Vinícius conheceu sua amiga Gesse, no bar Pizzaiolo, em Ipanema. Suzana de Moraes também diverte o público ao contar seu drama quando descobriu que seu pai tinha uma filha, Luciana, com outra mulher. Os depoimentos são todos recheados de histórias deliciosas. Caetano Veloso diverte a platéia ao contar como, quando adolescente, confundiu Vinicius de Moraes com a ator Haroldo Costa, protagonista da peça Orfeu da Conceição. Edu Lobo emociona quando descreve um dos seus últimos encontros com o poetinha.


Entretanto, quem rouba o filme, é o Chico Buarque. Totalmente à vontade, relaxado, de um jeito que o público nunca viu, Chico conta várias histórias de sua convivência com o Vinícius, desde os tempos de garoto até a época em que trabalharam juntos. Com humor e carinho, é dele o maior depoimento que, praticamente, conduz o filme, como se Chico fosse um mestre de cerimônias. Se não bastasse a qualidade do seu depoimento, que dá vontade de aplaudir, Chico ainda dá um show de charme e beleza. Ele está lindo. Deslumbrante. Parecendo ter menos que a metade dos seus sessenta anos. Vê-lo falando de Vinicius já é uma razão para assistir a esse filme. Mas existem outros motivos relevantes como, por exemplo, a beleza das imagens de época, fruto de um atento trabalho de pesquisa, assim como o material do arquivo da família que registram cenas preciosas como o Vincius cantando, cercado de amigos, numa festa na sua casa.


Mas nada se compara as cenas de Vinicius de Moraes e Tom Jobim bêbados. A platéia vai ao delírio com as bobagens divertidas que eles falam. É nesse momento que o público sente, com mais verdade, como eles foram loucos maravilhosos, que mergulharam na vida de peito aberto e por isso fizeram com que sua arte tocassem o coração das pessoas. Se existe uma crítica a ser feita a esse filme, é a de que ele acaba muito rápido. Não que seja um filme curto. Ele tem as duas horas usuais de um espetáculos cinematográfico. Mas o filme é tão envolvente, gentil e delicado com a platéia que acaba deixando no espectador um adorável gosto de quero mais.





SAMBA PARA VINICIUS (Chico e Toquinho)


Poeta
Meu poeta camarada
Poeta da pesada
Do pagode e do perdão
Perdoa essa canção improvisada
Em tua inspiração
De todo o coração
Da moça e do violão
Do fundo


Poeta
Poetinha vagabundo
Quem dera todo mundo
Fosse assim feito você
Que a vida não gosta de esperar
A vida é pra valer
A vida é pra levar
Vinicius, velho, saravá


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