2.5.06

BIG SUR E AS LARANJAS DE HIERONYMUS BOSCH - Em seu quadro Juízo Final o pintor holandês Hieronymus Bosch usou as laranjas e outras frutas para simbolizar as delícias do paraíso. Daí o título de Henry Miller para este livro, Big Sur e as laranjas de Hieronymus Bosch, um de seus romances mais cativantes, que agora está sendo lançado pela José Olympio Editora. Foi publicado pela primeira vez em 1957 e conta a vida de Miller em Big Sur, paradisíaca região da costa da Califórnia onde ele morou por quinze anos.


Quando Miller chegou em Big Sur já era um escritor consagrado e execrado em todo o mundo. Ele tinha vivido os loucos anos 30 em Paris. Uma vida de festas, farras, loucuras, drogas e muitas mulheres. Seu cotidiano de orgias com prostitutas francesas foi retratado com riqueza de detalhes em Trópico de câncer, o romance que o tornou famoso. O livro chocou os leitores da época e foi proibido em vários lugares do mundo. Houve um período em que Trópico de câncer foi proibido na França, mesmo que fosse uma edição em língua estrangeira. Seus livros seguintes também provocaram, na mesma proporção, uivos de admiração e suspiros de desprezo: Trópico de capricórnio e a trilogia A crucificação encarnada, da qual fazem parte os títulos Sexus, Nexus e Plexus.


Ao chegar em Big Sur Henry Miller deu início a um novo estilo de vida. O artista famoso, que tivera uma intensa vida de prazeres hedonistas, havia dividido essa experiência com o mundo, ao transformar sua trajetória pessoal em romances. Em Big Sur ele foi morar numa cabana no meio do mato, num lugar que era descrito por seus moradores como o paraíso na terra. Vales verdejantes com árvores centenárias, vegetação rasteira, flores silvestres, papoulas, águias, beija-flores, cascavéis, esquilos e belas cachoeiras. Tudo isso contornado pelo infidável oceano Pacífico e um céu impossível de descrever.


Big Sur e as laranjas de Hieronymus Bosch é um romance sobre o prazer de um homem ao descobrir os encantos de uma vida simples e despojada, dedicada a admirar as manifestações da natureza. A partir das observações desse universo o autor escreve sobre as tempestades, os dias de sol, a solidão no meio do mato, a inspiração criadora que brota na noite estrelada. Além de descrever com muito senso de observação as pessoas que habitam a região. E nesse escrever sobre a simplicidade do mundo à sua volta ele mostra toda a sua força de escritor. Com a mesma garra e o mesmo tesão com que redigiu cenas de sexo em Trópico de câncer ele narra a emoção de receber o raro exemplar de uma revista de literatura francesa que um velho amigo lhe mandou pelo correio. Ou a aventura que foi ajudar um vizinho a consertar o telhado da sua cabana num dia de tempestade. Ou mesmo a visita de um aspirante a escritor que quer sua opinião sobre seus rascunhos.


Há uma forte masculinidade na sua literatura e isso torna o seu texto comovente. A narrativa e os diálogos do romance denunciam uma virilidade gentil e humana, que traduz o pensamento de um artista que viveu profundamente seus sentimentos e desejos e quis, através da sua arte, compartilhar essa experiência existencial com as pessoas que lhe são mais próximas: seus leitores.

Madonna vem aí...

 

Postagens mais vistas