31.10.06

DOMINGO - 29 DE OUTUBRO DE 2006 - Foi um domingo de sol. E isso foi a melhor coisa desse dia que o destino quis que se tornasse histórico. Acordei tarde, com ressaca da noitada anterior na Freek. Nunca tinha ido nessa boate, nem sabia da sua existência, mas gostei muito. Tem um clima das boates da minha época de adolescente. Além disso, eu estava com um animado grupo de amigos e nos divertimos a valer. O DJ nos fez dançar muito com músicas como Promíscuous, da Nelly Furtado, Baby, I´m back, do Baby Bash e Hips d´ont lie o irresistível mega hit da Shakira. Aliás, o refrão de Baby I´m back ainda ecoava na minha cabeça quando eu me dirigi ao Colégio Marilia de Dirceu para votar em Denise Frossard e Geraldo Alckmin.

Logo na entrada da escola encontrei Carmo Dalla Vechia e Edson Fieschi que já tinham votado. O Edson me perguntou em quem eu ia votar e quando eu revelei meus candidatos ele sorriu e disse que também tinha votado neles. O Carmo, que é um rapaz muito educado, foi muito simpático e gentil, mas não revelou seu voto. Gosto muito dos dois. Eu os conheço desde a época em que eles moravam juntos. O Edson é uma grande figura. Um ator disciplinado e apaixonado por teatro. Somos amigos desde a época em que ele era casado com o Leonardo Vieira.

Depois de votar fui à praia, curtir o domingão. No fim de tarde teve torneio de futebol de praia. Um clássico da areia: Copacabana versus Ouro Preto. Foi uma partida bem disputada, com bons momentos de futebol bem jogado. Quando o jogo acabou já era noite e eu recebi um telefonema. Era Xande, um amigo muito querido: “A galera tá fazendo um churrasco aqui em Ipanema. Todo mundo bebendo, curtindo e fazendo a maior zoeira. Vem pra cá agora. Esquina da Barão da Torre com Maria Quitéria”.

Quando cheguei a moçada já tinha bebido muito. Todo mundo largado, fazendo a maior farra. Cerveja pra cá, cerveja pra lá. Num dado momento Xande virou pra mim e falou: "Agora a gente vai para o clubinho, e você vai junto. É nosso convidado”. Logo estávamos no carro em direção ao clubinho.

O clubinho é como os rapazes de Ipanema chamam a Termas Monte Carlo, uma sauna com garotas de programa, que fica em Copacabana. O lugar é uma espécie de Disneylândia para bofes, com suas garotas seminuas prontas para lhes proporcionar qualquer tipo de prazer, desde que lhes pague cento e cinqüenta reais. Os meninos cariocas deste alvorecer de 2007 já definiram o seu programinha favorito no verão: tomar um Viagra e depois se atirar aos prazeres do sexo com as beldades do “clubinho”.

Cerveja, cerveja, cerveja...

E foi assim que, de repente, eu me vi no meio de uma boate, vestido só de roupão, cercado de mulheres belíssimas, desnudas em seus biquínis mínimos e cativantes em seus olhares sedutores. O ambiente é muito elegante e bem cuidado. No primeiro andar tem duas saunas muito bem cuidadas. No segundo andar fica a boate. No terceiro andar ficam as cabines e suítes para os pombinhos que quiserem arrulhar com mais intimidade. Chegando na Monte Carlo encontrei uma galera. Os homens vestidos apenas de roupão, abraçados com as mulheres. Elas, os mais diversos tipos, despidas em minúsculos biquínis. Uma farra federal.

No meio dessa galera encontrei Rod, um velho amigo, que explodiu numa gargalhada quando me viu. Você é a última pessoa que eu esperava encontrar aqui. Eu contei que tinha sido chamado para um churrasco num botequim e acabei indo parar no clubinho. Rod disse que tinha ido até lá só para beber com amigos. Com essa cara e com esse corpo eu não preciso pagar para transar com mulher, você não acha?, disse ele abrindo o roupão e se exibindo gracioso no meio do salão. Então eu lembrei dele, no verão de 98, correndo na areia de Ipanema. Rod sempre corria na praia e quando passava na Vinicius de Moraes minhas amigas Andréa, Juliana e Adriana se cutucavam assanhadas. Lá vem ele! E Rod passava todo elegante e garboso, parecendo um cavalo de raça, sob o sol daquele inesquecível verão.

Num minúsculo palco uma garota dançava sensualmente olhando para o seu corpo refletido na parede espelhada. Quando o DJ começou a tocar Promiscuous, o super balanço de Nelly Furtado, todo mundo correu para a pista de dança. Parecia ensaiado. Essa música realmente está dominando as pistas de dança, ao lado de Baby I´m back e Hips d´ont lie. Quando toca a pista vibra. Pablo, Xande e Guilherme, doidões, fazia-nos rir com suas coreografias engraçadas. E todos cantarolavam animados o refrão da música.

Promiscuous girl
Wherever you are
I’m all alone
And it's you that I want

Promiscuous boy
You already know
That I’m all yours
What you waiting for?

Promiscuous girl
You're teasing me
You know what I want
And I got what you need

Promiscuous boy
Let's get to the point
Cause we're on a roll
Are you ready?


Guilherme se atracou com uma das meninas, beijando-a sem parar. Depois ele nos contou que ficou tentando convencê-la a transar sem camisinha, mas ela, profissinonal, disse não, não e não. Eu gosto de amor sincero, justificava o moço irresponsável com um sorriso safado. Num dado momento entrou no salão uma garota linda e todo mundo parou para vê-la. O minúsculo biquíni deixava à mostra seu corpo todo feito de coxas e lábios e seios e glúteos e mãos e ombros e colo. E os rapazes todos a cercaram e a olharam com admiração. Largaram as outras e se voltaram para ela. E havia um cavalheirismo natural na forma como eles a reverenciaram e devotaram toda a sua atenção para sua beleza. Tão doce, com seu sorriso sedutor e seus olhos amendoados que brilhavam refletindo a luz do globo espelhado. Como você é linda. Parece uma iraniana, disse Rod sincero, acariciando suavemente seu rosto de menina.

Cerveja, cerveja, cerveja...

Sem dar chances para o charme sedutor de Rod, Pablo agarrou a iraniana e não a largou mais. Beijava a moça com ar apaixonado enquanto ela o acariciava por dentro do roupão. Aretha, uma outra garota que já estava por ali se aproximou do Rod e começou a acariciá-lo sedutora, massageando o peito dele e seus braços másculos. Vamos fazer um amorzinho. Eu te cobro só cento e vinte. Rod deu um sorriso bem sacana e retrucou: Pois eu cobro trezentos pra transar contigo. Ela sorriu e continuou esfregando seu corpo contra o dele, que lhe ofereceu uma cerveja, mas ela preferiu beber Xoxota Frozen, a bebida típica do lugar, uma mistura de maracujá, leite condensado e vodka batidos com pedras de gêlo.

Quando enjoamos da farra no clubinho fomos beber um último drinque no Sindicato do Chope. Já era bem mais de meia noite quando chegamos na Farme de Amoedo. Entramos no bar e a televisão estava ligada na Globo News, sem som, apenas as imagens da eleição. Foi então que Pablo fez a pergunta crucial para o garçom. Quem ganhou a eleição? E o homem nos deu a resposta que, no íntimo, nos já sabíamos. O rosto de Pablo se transformou numa máscara de decepção. Ele se virou para a TV que naquele momento mostrava imagens do presidente e começou a gritar a plenos pulmões, para que toda a Farme escutasse sua indignação e revolta: Vai tomar no cu, Lula. Vai se foder. Vai ser foda te aturar mais quatro anos fazendo merda. Dentro do bar havia uma mesa com um grupo de gays de meia idade e as bichas começaram a aplaudir. Assim como outras pessoas que estavam lá dentro.

Depois, mais calmo, ele ficou remoendo sua indignação enquanto bebíamos chopes e comíamos gulosos uma pizza calabresa. Ele parecia tão desolado, tão decepcionado com o resultado da eleição. Mas, aos poucos, foi recuperando o humor e a alegria de viver. E foi nessa mudança de estado de espírito que Pablo disse uma frase que, naquele momento, e só naquele momento, traduzia tudo o que estávamos sentindo a respeito do nosso mundo, da nossa vivencia. Com um sorriso maroto no rosto ele disse: O bom do Brasil é que aqui tem muita puta pra gente foder.

Cerveja, cerveja, cerveja...


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