11.10.06

VOTO INÚTIL – O primeiro turno da eleição me fez descobrir o voto fútil. Agora, depois do primeiro debate entre Lula e Geraldo, eu cheguei a conclusão que, no segundo turno, o eleitor vai ter que se utilizar do voto inútil. Lula e Geraldo são versões remixadas da mesma pessoa, da mesma ideologia. Tanto faz votar num como no outro. Eles são duas faces da mesma moeda. Farinha do mesmo saco. Sendo assim, o voto no segundo turno merece ser batizado de voto inútil.

A coisa que mais me impressionou no debate da Band foi o make-up de Ricardo Boechat. O que foi aquilo, meu Deus? A bicha estava maquiadíssima. Pra que tanto blush? Monsieur Luiz Inácio me pareceu um tanto quanto fora de forma. Ele fugiu da imprensa e de qualquer tipo de diálogo nos quatro anos de governo e, quando precisou de atitude para dominar o debate, pareceu sem prática, sem treino. O Geraldo, como fez campanha e já havia participado de outros debates pareceu mais à vontade com a situação.

O melhor momento do Lula foi quando ele esculhambou com o George W. Bush. Foi genial. Digno de aplausos. Ele disse uma grande verdade sobre o presidente americano e sua política fajuta, em rede nacional de TV, sem nenhuma censura. Os diplomatas do Itamaraty devem ter sentido gelar as pregas dos seus cus. Foi algo espontâneo e sincero, mas, ao mesmo, contundente. Ele arrasou Mr. Bush. E, nesse momento, quase que Lulinha conseguiu meu voto. Quase...

O problema é que logo depois ele veio com aquele papo escroto do pobre povo boliviano. Nós já temos nossos próprios miseráveis não precisamos de um presidente que se preocupe com os coitadinhos da Bolívia a ponto de ser displicente quando eles invadem as refinarias da nossa principal empresa pública, a Petrobrás. Ele devia ter sido mais contundente com o Evo Morales. Mas ele se identifica com o estilo pobretão do silvícola. Lulinha não precisa se preocupar com o povo boliviano. Quando as drogas forem legalizadas a Bolívia será um dos países mais ricos do mundo. Eles têm cocaína. Quem tem cocaína tem ouro.

Geraldo arrasou Lula quando fez aquele comentário maldoso sobre o fato dele estar lendo as respostas. Aquilo derrubou o operário padrão. Gostei do teatro do Geraldo, tentando parecer seguro e articulado. Ele me pareceu ter se preparado para enfrentar o adversário. O grande problema do candidato do PSDB é o backstage. A retaguarda. Se alguém gritasse pega ladrão no estúdio da Band ia ser um problema para a polícia. Ali só tinha bandido. É duro saber que, votando no Geraldo, o cidadão vai estar, indiretamente, votando no Tasso Jereissati, o gangster do Ceará, que não escondia a sua ansiedade na platéia. Com a vitória do seu candidato Jereissati sonha poder rearticular a quadrilha de saqueadores de cofres públicos que ele manteve nos oito anos do governo FHC, articulando negociatas junto ao Banco do Nordeste, cuja sede fica em Fortaleza. Elementar, meu caro Alckimin.

Outra coisa que me irritou no Geraldo foi quando um jornalista citou um assassino frio e cruel, que matou um casal quando era menor de idade e agora, que está completando 21 anos, vai sair da cadeia como se nada tivesse acontecido. Geraldo falou que pretende aperfeiçoar o Estatuto da Infância e do Adolescente. Puta que pariu! Isso é papo de demagogo. O Brasil precisa extinguir a porra desse estatuto. Isso é um atraso para a sociedade brasileira, que precisa acabar com essa história de tratar as crianças e os adolescentes como se fossem as vacas sagradas dos indianos. Matou ou roubou tem que ir pra cadeia. E foda-se. Um garoto de dez, onze, doze anos sabe muito bem o estrago que uma arma faz quando disparada contra a cabeça de um cidadão.

Chato mesmo foi ver Lula, depois do debate, dizendo que Geraldo parecia um “um delegado de porta de cadeia”. Que coisa sem sentido. E o pior é que ele falou isso durante uma reunião com artistas evangélicos. Para arrematar Lulinha ainda disse que era um candidato que não tinha vergonha de aparecer ao lado dos evangélicos. Puta que pariu! O Lula não precisa disso. Ele não precisa se juntar a evangélicos para conseguir votos. Esses porras já votam nele. O problema é que o operário padrão não tem critério na hora de escolher aliados. Ele se junta com evangélicos corruptos, MST, Crivella, etc. Não que o Geraldo seja muito diferente. A questão é que o Geraldo precisa de aliados para alavancar sua candidatura. E tio Lula não precisa. Além disso, como presidente da república ele tem a obrigação de saber que o estado é laico. E que a religião oficial do Brasil é a católica. Ele se junta com evangélicos e invasores de terra porque gosta de se juntar aos porcos... Depois não reclame quando estiver comendo farelo.






QUALQUER COISA – Esta tarde encontrei Guilherme Araújo no calçadão de Ipanema. Ao lado de um quiosque, sentado gloriosamente na sua cadeira de rodas, muito elegante com seu chapeu Dolce & Gabanna, ao lado de Grazi Sebastian, sua enfermeira particular, ele admirava o final de tarde com encanto e prazer. Sentei um pouco ao seu lado e ficamos conversando. Fazendo comentários poéticos sobre os atletas bonitos que jogavam vôlei na praia. Guilherme estava feliz. Sereno. Perguntei pelas “meninas” e ele deu um sorriso feliz e contou que elas ligavam todo dia. As “meninas” são suas amigas de longa data Gilda, Claude, Kiki, Noelza, Tânia, Thereza... “Eu amo todas. É como se elas fossem minhas namoradas”. Enquanto conversávamos, ele manifestou uma vontade louca de fumar um cigarro. Várias vezes na conversa ele falava no cigarro, mas eu mudava de assunto, tentando afastá-lo daquele desejo. Então passou um rapaz fumando. Guilherme chamou e pediu um cigarro ao moço. “Você não pode fumar, o médico proibiu”, eu disse. Ele me olhou com serenidade e firmeza, já dando o primeiro trago e afirmou, com um leve sorriso: “Eu posso tudo o que me dá prazer”. Touché!






O POETA FOI A CHINA - O poeta Antonio Cícero viajou para a China logo depois da eleição. Foi participar de um grande encontro de poetas da língua portuguesa em Macau e aproveita a viagem para fazer turismo e contatos com poetas chineses. Eucanãa Ferraz, outro grande poeta carioca, foi convidado para o encontro, mas não pode viajar, já que tinha compromissos aqui no Rio. Aulas de literatura na faculdade onde é professor e a elaboração de um livro dedicado a fazer uma análise crítica dos poemas de Vinicius de Moraes. Eucanãa é o editor do livro O mundo não é chato, reunião de textos escritos por Caetano Veloso. Ele é um sujeito culto e muito interessado na literatura de língua portuguesa. Na última vez que conversamos Eucanãa me sugeriu ler a poeta Sophia de Mello Breyner Andresen, que ele conheceu em Portugal. Com a ajuda do Google, essa maravilha da vida moderna, descobri os belos poemas de dona Sophia e selecionei alguns para os leitores deste blog.




Poesia

Se todo o ser ao vento abandonamos
E sem medo nem dó nos destruímos,
Se morremos em tudo o que sentimos
E podemos cantar, é porque estamos
Nus em sangue, embalando a própria dor
Em frente às madrugadas do amor.
Quando a manhã brilhar refloriremos
E a alma possuirá esse esplendor
Prometido nas formas que perdemos.





Liberdade

Aqui nesta praia onde
Não há nenhum vestígio de impureza,
Aqui onde há somente
Ondas tombando ininterruptamente,
Puro espaço e lúcida unidade,
Aqui o tempo apaixonadamente
Encontra a própria liberdade.





Cidade

Cidade, rumor e vaivém sem paz das ruas,
Ó vida suja, hostil, inutilmente gasta,
Saber que existe o mar e as praias nuas,
Montanhas sem nome e planícies mais vastas
Que o mais vasto desejo,
E eu estou em ti fechada e apenas vejo
Os muros e as paredes, e não vejo
Nem o crescer do mar, nem o mudar das luas.

Saber que tomas em ti a minha vida
E que arrastas pela sombra das paredes
A minha alma que fora prometida
Às ondas brancas e às florestas verdes.




Madonna vem aí...

 

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