11.12.06





BRIGITTE BARDOT A MAIOR MUSA DA MPB - Pouca gente já parou para pensar nisso, mas Brigitte Bardot é a maior musa da música popular brasileira. Segundo o pesquisador Renato Vivacqua, especializado em MPB, nenhuma outra personalidade feminina foi tão louvada no nosso cancioneiro popular como a bela Brigitte. Desde que estourou no cinema em 1956, com o filme E Deus Criou a Mulher que a estrelinha francesa é citada em grandes sucessos da nossa música. Ela foi musa de Caetano Veloso, Cazuza, Zeca Baleiro, Juca Chaves, RPM, Maysa, Miguel Gustavo, Tomzé e até do sambista Dicró. Brigitte chegou a gravar um disco cantando em português, com um sotaque saboroso, a música Maria Ninguém, de Carlinhos Lira. Foi no carnaval de 1959 que ela estreou na MPB com uma marchinha composta pela dupla Haroldo Lobo e Milton de Oliveira:

Que bom que eu vou ser pai
E o papai vai ser vovô
Se for homem vou botar meu nome
Se for mulher é Bigitte Bardot

No carnaval de 1960 foi homenageada por Miguel Gustavo numa música que a Prefeitura de Búzios quer transformar em hino oficial da cidade:

Brigitte Bardot, Bardot
Brigitte beijou, beijou
Lá dentro do cinema todo mundo se afobou
BB BB BB, porque é que todo mundo olha tanto para você
Será pelo cotovelo? não é
Será pelo cabelo? não é
Será pelo joelho? não é
Você que é boa e que é mulher
me diga então porque é que é

Sua presença no imaginário popular da época era tão forte que no ano seguinte o mesmo Miguel Gustavo a homenageou numa outra canção:

Onde Brigitte estiver eu vou
Se Brigitte estiver em Roma, em Paris, Miami, Honolulu
Quero Brigitte em Copacabana
De biquini, boa pra chuchu

Os compositores Jota Júnior e Oldemar Magalhães citam Brigitte Bardot quando tentam descrever a mulher ideal:

De frente a cara da Lolô
De costas o jeito de Bardot
Faz da rua passarela
Que pena não ser o dono dela

A badalação em torno da Brigitte na MPB era tanta que a dupla Vicente Longo e Waldemar Camargo resoveram ser do contra e valorizar o produto nacional:

Receita para bom Carnaval
É a morena, produto nacional
Não é a Lolô nem a Bardot de Paris
É você morena, que faz meu Carnaval feliz

Vale lembrar que Lolô é a italiana Gina Lolobrígida que também andou incendiando corações nos longínquos anos 60. Juca Chaves também teve Brigitte como musa em uma de suas canções:

Adeus País Tropical
Adeus Brigitte Bardot
Caviar já me enjoou
Vou viver no Piauí

Ainda embalados pela impressionante cena do strip-tease em E Deus Criou a Mulher a dupla Amado Regis e Rangel Silva também souberam homenagear o maior simbolo sexual de sua época:

Você foi a mais graciosa
Do strip-tease mundial
Vem brincar comigo
Brigitte, o nosso carnaval

Em 1968 é citada na música Casamento do Roberto, um ie-ie-ie composto por Maysa, Elzo Augusto e Ana Lídia:

Roberto Carlos vai casar
A Candinha me falou
que o padrinho vai ser o Chacrinha
E a madrinha Brigitte Bardot

No mesmo ano os roqueiros Luiz Wanderley e José Batista lançaram o Rock da Brigitte:

Eu só gosto da Brigitte
Eu só gosto da Brigitte Bardot
Só vou ao cinema se a fita é francesa
E a estrela é a Brigitte Bardot

O sambista Dicró também teve a oportunidade de mostrar sua paixão pela estrelinha francesa:

E muita gente famosa
Visitou meu barracão
Meu compadre Frank Sinatra
Brigitte Bardot
E um tal de James Brown

Caetano Veloso a citou em duas canções. Numa música que compôs para um disco do Asdrúbal Touxe o Trombone, que foi gravada por Regina Casé, e no seu clássico Alegria Alegria:

Em caras de presidentes
Em grandes beijos de amor
Em dentes, pernas, bandeiras
Bomba e Brigitte Bardot

A vida de Brigitte não foi só de sucessos. Houve crises, depressões e sofrimento. Lembrando o lado sombrio da fama o compositor Tomzé soube ser cruel com a diva do cinema francês:

A Brigitte Bardot está ficando velha
Envelheceu antes de meus sonhos
E a Brigitte Bardot agora está ficando triste
E sozinha
Será que algum rapaz de vinte anos vai telefonar
Na hora exata em que ela estiver
Com vontade de se suicidar?

Cazuza compôs uma canção chamada Brigitte Bardot cuja letra não cita o nome da artista, mas fala do seu amor pelos animais:

Morro de medo dos teus olhos sem palavras
Bigorrilhos, duques e xerifes
Porque me viciei em sons codificados
Porque eu sei que amar é abanar o rabo
Lamber, latir e dar a pata.

O maranhense Zeca Baleiro também compôs uma canção chamada Brigitte Bardot cujos versos falam da nostalgia de um amor que se perdeu no tempo:

A saudade é uma colcha velha
Que cobriu um dia
Numa noite fria
Nosso amor em brasa
A saudade é Brigitte Bardot
Acenando com a mão
Num filme muito antigo

Paulo Ricardo e Luiz Schiavon foram líricos na letra da canção Olhar 43, sucesso da fase áurea do grupo RPM:

Não sei se é caça ou caçadora
Se é Diana ou Afrodite
Ou se é Brigitte
Stephanie de Mônaco
Aqui estou
Inteiro a seu dispor
Princesa...

Escute aqui a música que a Prefeitura de Búzios quer transformar em hino oficial da cidade:







BRIGITTE BARDOT NÃO MORA MAIS AQUI - Um prato batizado de Veau Brésil-Suisse foi a comida que achei mais gostosa no Me Gusta Búzios, o festival gastronômico promovido por Gil Castelo Branco junto com a prefeitura de Búzios. O Veau Brésil-Suisse é uma vitela com molho de especiarias suíças, acompanhada de cará gratinado e sorvete de raiz forte. Nunca tinha comido carne com sorvete, mas adorei a mistura. O bom do festival gastronômico foi a possibilidade de experimentar a culinária exótica de outros países. Havia desde o Goi Cuôn, do Vietnam, que são rolinhos de carne, aromatizados com especiarias em papel de arroz, até o Chrusciki, da Polônia, uma finíssima massa de trigo ao conhaque, polvilhada com açúcar de confeito. Do Uruguai foi servido Matambre Relleno, carne recheada com acelga, ovos, cenoura, pimentão e bacon; Da Tunísia foi servido o La Kemia, um bolinho de carne com erva doce, favas ao cominho, tomate, pimentão e batata; Da Grécia houve o Souvlakia Thalassinna Me Tzatziki, um churrasquinho de frutos do mar com molho típico; Da Síria tinha o Xisbarak, um ravióli feito com iogurte; Da Holanda o Sauce Holandaife, filé de peixe com molho holandês; Do Japão o Capitão Osaka, um salmão crocante ao teriake.

A Argentina foi representada pelo Locro, uma mistura cremosa de grãos de milho com carne bovina, suína, lingüiça, bacon, abóbora, cenoura e batata. Tudo isso servido dentro de um pão do campo que parece uma abóbora. Incrível essa iguaria da Argentina. A Bolívia serviu Lula ao vinho. Já o Peru ofereceu ao público um Ceviche que foi preparado pelo próprio Cônsul do país. Ceviche é um peixe marinado num ácido e aromatizado com ají. A Suécia ofereceu Gravad Lax, salmão curado servido em fatias finas com uma mostarda condimentada, salada de batatas novas e torradinhas ao alho. Teve também os tradicionais Smorrebrod da Dinamarca, Tortillas da Espanha, Cuscuz do Marrocos, Harumaku da China, Beignet de Bananne do Taiti, Cofta do Egito, Malandrinho de Bacalhau de Portugal, Matambre Relleno do Uruguai, Mohan Thal da Índia, Varenike de Israel, Quibe de forno com salada fatouche do Líbano, Dalmatinske Musule da Croácia e muitos outros. Vale destacar o Cassoulet de Frutos do Mar, tradicional prato da culinária francesa e o fantástico Gulash Späetzle, prato típico da Tchecoslováquia, preparado com carne bovina cortada em cubos, cozida com a mesma quantidade de cebola e cenoura, temperada com páprica doce e picante, louro e outras especiarias, servido com massa cozida em gotas. Só de pensar fico de água na boca.

Na sexta e no sábado o centro de Búzios ficou cheio de barraquinhas onde foram servidas as iguarias preparadas pelos principais restaurantes da cidade. Ficou parecendo uma quermesse de cidadezinha do interior. Tudo muito organizado e civilizado, como costumam ser os eventos em Búzios. A cidade cheia de turistas, já que havia um enorme transatlântico ancorado na baía. Gente bonita, elegante, bem vestida. Nada de farofeiros ou moradores de rua pedindo latinhas de cerveja. Os ricos e milionários circulando a vontade com suas carteiras recheadas de moedas fortes sem a paranóia de assaltos ou tiroteios. A cidade limpa, arrumada. As lojas abertas até tarde da noite. Diversos tipos de música ecoando pelas ruas. Um outro mundo.

Uma curiosidade: no meio desse mundo civilizado as igrejas evangélicas bombando com seus rituais religiosos de cunho primitivos e teatrais. Muita gente parava na porta das igrejas para olhar, boquiabertas, as manifestações tribais. Pessoas ajoelhadas gritando o nome de Jesus. Alguns se atiravam no chão e se sacudiam como se possuídos por algum espírito maligno enquanto o pastor, aos berros, gritava fora satanás. Havia algo de muito doente naquele processo de catarse coletiva. Parecia um espetáculo de terror dirigido por Zé Celso Martinez Correia. Por outro lado, quando acabava o culto, as pessoas iam para as ruas e se comportavam normalmente, como se nada tivesse acontecido. Impressionante!

Não satisfeitos de promoverem a comilança noturna, os organizadores do Me Gusta Búzios, organizaram um almoço de confraternização para os convidados do evento. Para isso fecharam o restaurante Cigalon, na rua das Pedras. O Cigalon fica numa antiga casa de pescadores onde, em 1964, Brigitte Bardot ficou hospedada quando esteve em Búzios. As paredes do restaurante estão cobertas de fotos da estrela quando de sua visita ao balneário. Jovem, linda, no auge da fama e do sucesso, as fotos mostram BB na praia, conversando com os nativos ou brincando com as crianças numa época em que o lugar era apenas uma aldeia de pescadores. O quarto onde ela ficou hospedada tem o seu nome escrito na porta. É claro que Brigitte Bardot foi o assunto principal do requintado almoço da culinária francesa servido no Cigalon. Cada um dos convidados tinha uma história ou uma lenda sobre BB. As pessoas falavam de seus filmes e seus amores com encanto e nostalgia. Brigitte foi a Madonna dos anos 60, disse alguém, o que foi imediatamente contestado por um outro conviva. Brigitte foi muito mais que Madonna. Tudo em Madonna é fabricado. Brigitte era uma estrela autêntica.

É incrível como o mito Brigitte Bardot persiste de maneira muito forte na vida de Búzios. Isso aqui parece a Riviera Francesa, disse um senhor italiano que adora o Brasil e contou que BB havia namorado um de seus amigos na adolescência. Gil Castelo Branco revelou que a prefeitura de Búzios já convidou Brigitte diversas vezes para voltar à cidade, mas ela nem responde aos convites. A diva do cinema francês não quer saber de badalações, nem de homenagens, nem de lembranças do passado. Isso não impede que o carisma de seu mito esteja presente em todos lugares de uma das cidades mais bonitas do estado do Rio. Sua estátua, que a mostra jovem, sentada sobre uma mala de viagem, está localizada na avenida que margeia a praia e foi batizada de Orla Bardot. Ali, turistas de todos os lugares não se cansam de fotografá-la para guardar uma lembrança daquela que sempre será um dos maiores mitos do cinema.


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