7.12.06

TURISTAS – Aqui no Rio sempre que saio à rua vejo um turista sendo assaltado. Na praia, então, é um absurdo o que fazem com os turistas. Existe um trio de ladrões que atua na praia de Ipanema que são terríveis. Eles encaram o ato de roubar turistas como um trabalho. Diariamente estão na praia de olho nos gringos. É bizarro. O pior de tudo é que os bandidos querem obrigar as famílias da zona sul a aceitar e conviver com o estilo de vida deles. Os pilantras roubam os turistas na cara de pau, na frente dos moradores e ameaçam quem reclama ou avisa os estrangeiros. Todo mundo sabe quem são os bandidos. As famílias, os salva-vidas, a garotada da praia. Só quem não sabe é a polícia, pois eles exercem seu ofício livremente, como se tivessem esse direito.


Leio na Internet que a Embratur, Empresa Brasileira de Turismo, mandou carta de parabéns aos críticos de cinema dos EUA por eles terem arrasado com o filme Turistas, uma produção americana em que um grupo de turistas é sacaneado de todas as formas durante uma temporada ao Brasil. Eu não vi o filme, por isso nem posso comentá-lo. Mas a realidade dos turistas no Rio de Janeiro dos dias de hoje não deve ser muito diferente daquela que o filme mostra. A Zona Sul da cidade é uma área de risco para turistas. Quem circula pelas ruas pode perceber, de uma forma bem clara, que existe toda uma infra-estrutura montada com o único objetivo de surrupiar dinheiro dos gringos de forma desonesta.

O Rio de Janeiro é o cartão postal do Brasil no exterior. A Embratur, em vez de mandar cartas dando parabéns aos críticos americanos, deveria pedir intervenção federal na cidade. A situação já é de salve-se quem puder para os locais. Para os turistas, então, o salve-se quem puder chega ao limite do intolerável. Os locais ainda conseguem se defender por conhecerem a língua, a cidade, as pessoas. Mas os estrangeiros estão fodidos. A Rio está ao Deus dará.


Sempre que posso ajudo turistas às voltas com problemas. Mas nem sempre é possível ajudar. No verão passado eu estava na praia num final da tarde e vi dois sujeitos sinistros se aproximarem de um grupo de estrangeiros. Era um casal e duas crianças. Eles pareciam super felizes de estarem ali, no calor gostoso, se divertindo na praia, esperando o sol se pôr. Sobre as toalhas na areia haviam mochilas, câmeras e outras coisas. Os ladrões foram se aproximando dos turistas sorrateiros e prontos para dar o bote. Quando notei o movimento deles cheguei mais perto do grupo e comecei a encará-los dando a entender que eu tinha sacado que eles eram ladrões. Os sujeitos então ficaram me encarando, com um olhar ameaçador. Tentando me intimidar. Eu encarei firme durante uns dez ou quinze minutos. Então um deles veio em minha direção. Acho que ele pensou que eu ia me afastar, mas eu continuei encarando-o firme, pronto pra sair na porrada. Então o pilantra passou reto por mim e foi embora, certo que ali não ia arrumar nada. A família de turistas estava tão distraída com a beleza da tarde que nem notou os momentos de tensão que ocorreram ao lado deles.


Semanas atrás um trio de ladrões que atua em Ipanema, no trecho entre o Arpoador e o Posto Nove, estava se preparando para dar um bote num sueco que estava na praia em frente ao hotel Arpoador INN. O turista estava deitado na praia, sobre uma toalha, se bronzeando voltado para o sol inclemente. Ao seu lado estava uma mochila, que era objeto de desejo dos pilantras, que estavam sentados perto da possível vítima, fingindo que se bronzeavam. Mas aos poucos eles se aproximavam para poder pegar a mochila do cara e saírem de fininho sem que a vítima percebesse. Quando notei o movimento dos ladrões me aproximei do gringo e falei para ele cuidar de sua bolsa. Os bandidos ficaram putos e começaram a me xingar.


O turista ficou assustado e eu expliquei o que estava acontecendo e disse para ele ficar tranqüilo que estava tudo bem. Era um rapaz jovem. Não devia ter mais de vinte anos. O sueco era lindo, educado, charmoso. Eu jamais permitiria que qualquer bandido assaltasse um bofe daqueles na minha frente. De forma alguma. Ficamos conversando um bom tempo na praia. Ele me disse que seu companheiro de viagem já tinha sido assaltado no dia anterior e me agradeceu por tê-lo avisado dos ladrões. Contou que outros turistas do hotel onde estava hospedado também já haviam sido assaltados. Ele me perguntou porque isso acontecia num lugar tão bonito como o Rio. Eu contei a verdade. Disse que a cidade tinha se transformado numa armadilha para turistas. Que o Rio era um lugar muito perigoso tanto para os moradores como para os estrangeiros. E disse para ele tomar muito cuidado com suas coisas e não andar com nada de valor.

Quando perguntei o que ele tinha vindo fazer no Rio o bonitão me contou que tinha vindo treinar jiu-jitsu. Disse que tinha aprendido jiu-jitsu na Suécia, mas que tinha vindo praticar aqui no Brasil porque os brasileiros eram os melhores do mundo no esporte. Estava treinando na academia do professor Ricardo Viera no Posto Seis. Dias depois eu voltei a encontrar esse rapaz. Dessa vez ele estava com o amigo que tinha sido assaltado. Ele me apresentou ao sujeito e me elogiou para o companheiro. Ficamos conversando um tempo e, durante o papo, eu pedi desculpas pelo que tinha acontecido. O sueco bonitão deu um sorriso que eu nunca vou esquecer e disse que não tinha nada o que desculpar. Eu não me importo com ladrões, disse ele. Para mim o bom do Rio é poder mergulhar nessas praias bonitas e conhecer pessoas como você. Um fofo, fofo e fofo!






UM DOMINGO PERFEITO – O último domingo foi um dia perfeito. O sol, a praia, o clima, a brisa do mar, o astral, as pessoas. Havia algo de perfeito e harmônico naquele dia. Algo difícil de explicar. Quando cheguei na praia, pouco depois do meio dia, encontrei Paulo, um bom amigo, que foi logo comentando como o dia estava lindo. Ele estava vindo do Leblon, caminhando pela praia e comentou como tinha gente bonita na praia, como os homens do Rio eram bonitos, como a praia estava deliciosa. Quem mora em Ipanema como nós vive entre o céu e o inferno, disse ele, se referindo aos tiroteios que ocorreram no bairro dias antes. Paulo mora num apartamento chiquérrimo, muito bem decorado, com uma linda vista da praia, mas fica perto da favela. Então, quando rolam os tiroteios, ele sofre muito porque assiste a tudo de camarote. Mas, nesse domingo ele estava exultante. E o entusiasmo dele tinha fundamento. A praia estava mesmo uma loucura.


Quando passei em frente à praia gay, na Farme de Amoedo, um sujeito bonitão, másculo, tatuado e usando brinco e cavanhaque atravessou a areia em direção ao mar. Ao cruzar por mim ele me olhou de cima abaixo, fez uma cara bem safada e, com uma voz bem sacana, me chamou de “cachorra”. Fiquei tão feliz que tive vontade de sair latindo pelo litoral.






TURISTAS – Na última vez que fui ao Posto Nove encontrei o Cláudio, um velho amigo, e ficamos conversando. Ele estava com a namorada, Graziela, uma garota linda e descolada, e três garotos, que eram amigos da namorada dele. Eu comecei a conversar com o Cláudio e depois fiquei de bate-papo com os garotos, que eram bem jovens, deviam ter entre 17 e 19 anos. Fiquei impressionado como eles eram bem informados. Os meninos sabiam de tudo, principalmente o mais bonito deles, chamado Rodrigo.

O ponto de partida do bate-papo foi a expectativa do show do Black Eyed Peas em Ipanema. Cláudio falou que o show ia causar mais tumulto que os Rolling Stones em Copa. Ao ouvir a menção dos Stones Rodrigo comentou que no dia anterior tinha assistido no canal Telecine Cult a Simpathy for the devil, um filme com os Rolling Stones que foi dirigido por Jean Luc Godard. O garoto disse que o filme era o máximo e que o melhor do filme era a direção do Godard. E que Godard era um dos seus diretores favoritos. E foi essa última frase que me fez prestar atenção em Rodrigo. Como não se impressionar com alguém tão jovem e belo e que é fã de Godard?


Comecei a puxar assunto com o rapaz e ele não parava de falar. Mostrou o som do Led Zeppelin que ouvia no I-Pod, disse que adora a música Achiles Last Land, comentou o disco do Wallflowers em que eles cantam uma música do Bee Gees. Então começou a falar do Bee Gees e a importância deles para a música, para a indústria do disco e para o vídeo clipe. Disse que seu pai tinha muitos discos de vinil em casa, mas que eles não ouviam porque não tinham o toca-discos. Eu sugeri a ele comprar um toca-discos para ouvir os discos de vinil. Então ele pensou alguns segundos e disse que tivera uma idéia. Vai dar um toca-discos de presente de natal para o pai assim eles poderão ouvir juntos os velhos discos de vinil.


Quando ele foi dar um mergulho, já que o sol estava inclemente, eu comentei com a Graziela que o Rodrigo era muito bem informado para a idade dele. Ela me respondeu: O Rodrigo é uma verdadeira Internet. Ele sabe tudo. Qualquer coisa que você falar ele vai saber responder. Ele parece o Google. Depois ela me passou o fone do seu I-Pod e estava tocando Beatles. Eu escuto Beatles o tempo todo. Adoro eles, disse Graziela, coquete. Eu estava curtindo muito conversar com aquelas pessoas pois eles eram gente educada, fina, culta e de bom gosto. Foi então que o Cláudio comentou que tinha acontecido alguma coisa com uma moça que estava à nossa frente. Eu estava de costas e não tinha visto. Uma moça loura desesperada, com a mão na cabeça, andando de um lado para o outro na areia da praia. Logo percebemos que era turista. Rodrigo, imediatamente, se levantou e foi perguntar o que tinha acontecido: tinham roubado a mochila dela.

A mulher estava bem à nossa frente. E nós estávamos tão distraídos conversando que não percebemos o roubo. Alguém passou e carregou a mochila dela. A coitada estava desesperada. Ela havia chegado àquele dia dos Estados Unidos. A companhia aérea tinha extraviado a bagagem da coitada e, as únicas coisas que ela tinha estavam na mochila. Foi horrível. De repente a turista estava numa cidade desconhecida em que tinha acabado de chegar e a única coisa que tinha era o biquíni que usava. Esse não é um excelente plot para um filme na linha do Turistas? Tentamos ajudá-la no que foi possível, mas aquele episódio estragou o nosso dia. O Rodrigo ficou desolado. Angustiado, pedia desculpas a mulher, tentando amenizar o prejuízo moral que aquilo nos tinha dado.

É triste a vida do turista no Rio de Janeiro.


Madonna vem aí...

 

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