12.2.07

QUANDO O CARNAVAL CHEGAR – Os foliões da zona sul do Rio estão indignados com os diretores do bloco Suvaco do Cristo. Numa atitude elitista e quase fascista os organizadores anteciparam o horário do desfile, enganando uma multidão de foliões que achavam que tudo ia começar à uma hora da tarde. Muita gente chegou quando o desfile já tinha acabado. E todos reclamaram. Um grupo de garotas, fantasiadas com asas coloridas, se queixava da atitude dos dirigentes do grupo. Uma das meninas chegou a chorar, tamanha a sua frustração. Um grupo do posto oito, em Ipanema, também chegou quando o desfile já tinha acabado. Gabriel, um dos rapazes do grupo, dizia que o Suvaco era o único bloco de carnaval em que desfilava. E que a mudança de horário tinha estragado seu carnaval.

É uma pena essa atitude egoísta dos dirigentes do bloco. Fez a tristeza de muita gente. Os sujeitos alegam que fazem isso para evitar confusão e brigas. Ora bolas. Sempre houve brigas nos desfiles do Suvaco. Mesmo na época em que o desfile era feito por meia dúzia de pessoas já existiam as memoráveis porradas. Já pensou se os trios elétricos da Bahia usassem desse mesmo expediente para evitar as brigas? O carnaval de Salvador já teria acabado. E o bloco Galo da Madrugada, que sai em Recife, com cerca de um milhão de foliões e todo ano espera que esse número aumente? Essa atitude da direção do Suvaco só faz derrubar o carnaval do Rio que, em comparação com Recife e Salvador, é fraco e desanimado.

O desfile do Suvaco foi lindo para a elite privilegiada que pôde desfilar com folga e conforto na rua Jardim Botânico. Os moradores do bairro e os bem informados que souberam o horário do desfile com antecedência curtiram sem problemas o carnaval restrito e privê promovido pelo bloco. Curtiram a bateria afiada cujo som ecoava pela rua. E se deliciaram com a beleza mágica da eterna musa Cynthia Howllet, porta-estandarte do grupo, que desfilou grávida.

O desfile foi mesmo maravilhoso. Mas faltou aquela vibração promovida pela multidão. A energia gloriosa que só o povão sabe provocar. No coração daqueles que não conseguiram chegar a tempo havia um enorme sentimento de traição. No semblante deles podia-se ver a dor de ter perdido a folia que agora só vai acontecer daqui a um ano. Um bloco com real espírito carnavalesco não pode decepcionar seus fãs como o Suvaco do Cristo fez esse ano. O bloco que deveria deixar um rastro maior de alegria acabou provocando um enorme sentimento de frustração.

A partir de uma da tarde uma multidão começou a se aglomerar na praça do Jóckey, lugar do final do desfile. Era uma multidão de frustrados, de gente que se sentiu traída e rejeitada. Mas, como todos tinham saído de casa para brincar e se divertir, a solução foi improvisar. Um grupo improvisou uma batucada. Outro ligou o som do carro a todo volume. E a galera se divertiu como pôde. Nem o temporal que desabou sobre os foliões desanimou a festa. Depois da chuva o carnaval de rua ficou ainda mais animado. Cada um dançando com o som precário que dispunha. A pegação rolando solta. E a multidão sendo feliz, apesar da covardia daqueles que deveriam incentivar o carnaval.






QUANDO O CARNAVAL CHEGAR – Quando o temporal caiu sobre a cidade foi um corre-corre e uma gritaria na multidão que lotava a praça do Jóckey. Muita gente correu buscando abrigo da chuva em marquises de prédios, no posto de gasolina, embaixo de árvores ou outros abrigos improvisados. Quando a chuvarada caía forte, eu consegui me abrigar na pequena marquise de um prédio, espremido entre uma pequena multidão. Ali no meio um jovem casal, aproveitando o apertadinho do momento, começou a trocar beijos apaixonados, numa esfregação que não tinha fim. Era um casal bem jovem, ele um rapaz bonito com pinta de lutador, vestido só de bermuda exibindo o tórax malhado. Ela uma garota belíssima, de minissaia estampada e camisetinha branca. Num dado momento eles começaram a se animar na irresistível paixão e, sem ligar a mínima para a platéia à volta, o rapaz levantou a saia da moça, baixou sua calcinha, colocou seu pau pra fora da bermuda e começou a comer a menina ali mesmo. O pequeno grupo que se protegia da chuva que caía incessante e inclemente assistia a tudo entre surpreso e extasiado. Descontraídos, os pombinhos fizeram um amorzinho gostoso ali mesmo, alheio à chuva que caía torrencial e aos olhares excitados da improvisada platéia. Meia hora depois o rapaz começou a estremecer num orgasmo apaixonado. Depois eles se arrumaram, nos olharam com uma cara safada e cínica, e saíram no meio da chuva forte entre gritos e assobios da galera. Um espectador atento apontou para o chão, no lugar onde eles estavam, e lá havia gotas de sêmen que logo se misturaram à água da chuva. Evoé, Momo! Evoé...






QUANDO O CARNAVAL CHEGAR – Uma das novidades do disco Momentos, que Bebel Gilberto lança depois do carnaval, é a regravação de Caçada, antigo sucesso do repertório do seu tio Chico Buarque. Caçada é uma das músicas que Chico compôs para a trilha do filme Quando o carnaval chegar, de Cacá Diegues. A regravação de Caçada coincide com a inclusão da canção Mambembe, outra faixa da trilha do filme, no show que Chico recentemente apresentou no Canecão. Coincidência ou não, o relançamento dessas duas canções chama atenção sobre o disco Quando o carnaval chegar, que é um verdadeiro baú de pérolas da MPB como Baioque e Bom Conselho, na voz de Maria Bethânia, Soneto, gravada por Nara Leão e Partido Alto, com o MPB-4, música que também faz parte do moderno repertório do cantor Toni Platão. Quando o carnaval chegar é, realmente, um disco que merece ser descoberto pelas novas gerações.






MÚSICA É PERFUME – Foi lançado no Brasil, com grande estardalhaço, o Dicionário Cravo Albin de Música Brasileira. O livro, que tem uma versão na Internet, se propõe a ser o mais completo arquivo com informações sobre a MPB. Segundo Cravo Albin o livro tem tudo sobre a música brasileira, com verbetes sobre cantores, compositores, arranjadores, produtores, músicos, etc. No lançamento Ricardo Cravo Albin garantiu que no livro havia tudo sobre a música feita no Brasil. Mas não é bem assim.

O dicionário esqueceu de listar importantes nomes da música brasileira, como, por exemplo, o poeta Antonio Cícero, autor de algumas das mais belas letras da nossa música. Junto com sua irmã Marina Lima, Cícero compôs algumas das mais belas canções do nosso moderno cancioneiro. Roberto de Carvalho, o marido e parceiro da roqueira Rita Lee, também foi totalmente esquecido no dicionário. Assim como o produtor, letrista e critico Ezequiel Neves.

Outro que teve o seu nome omitido no dicionário foi o produtor, empresário e compositor Paulinho Lima. E esse é um nome que jamais deveria ser esquecido. Paulinho foi o maior empresário da MPB, depois de Guilherme Araújo. Baiano de Itabuna, ele produziu, no inicio dos anos 70, o antológico show Deixa Sangrar, da cantora Gal Costa, assim como o lendário álbum duplo Gal a todo vapor, onde a então jovem estrela baiana gravou a música Vapor Barato. Nessa época Gal e Paulinho moravam juntos num apartamento na rua Nascimento e Silva, em Ipanema. Era com Paulinho que ela ia à praia no Píer de Ipanema, local que ficou conhecido como as dunas da Gal. Pois é. Mesmo com esse precioso curriculo Paulinho foi esquecido.

Mas essa união com Gal Costa é só o aperitivo da história de Paulinho Lima na MPB. Foi ele quem lançou Ângela Ro Ro e Zizi Possi. Na época em que as duas tinham um caso e viviam tendo brigas escandalosas que, invariavelmente, acabavam na delegacia, era Paulinho quem ia tirar as cantoras da cadeia. Foi Mr. Lima quem produziu os antológicos shows do grupo Novos Baianos que revolucionaram a MPB. Como produtor investiu em novos talentos que vieram a se firmar como grandes nomes como Nana Caymmi, Simone e Fafá de Belém. Nos anos 80 lançou Richie e Leo Jaime e deu início a sua carreira de compositor, com músicas gravadas por Guilherme Arantes, Zizi Possi, Simone, Gal Costa, Ney Matogrosso, Lulu Santos, entre outros. Uma dessas músicas, Transas, gravada pelo Richie, foi a música mais tocada nas rádios em 1987, segundo o jornal Folha de São Paulo.

Com uma participação tão intensa na música brasileira das últimas três décadas eu fico imaginando qual a razão do nome dele não ter sido incluído no dicionário. Por que os pesquisadores não conseguiram chegar até ele? Qual o critério adotado por Cravo Albin para fazer a pesquisa? Afinal o livro foi lançado como o mais completo arquivo da MPB. É claro que, na versão on-line, o pesquisador pode incluir esses nomes aqui citados a qualquer momento. A grande vantagem da Internet é essa: as correções podem ser feitas sem maiores prejuízos. Mas, a versão impressa, já à venda nas livrarias, lançada como o mais completo arquivo da MPB, omite nomes importantíssimos. E isso é imperdoável.


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