8.3.07

DROGAS PARA O POVO - Foi como uma luz surgindo no fim do túnel a proposta do governador Sergio Cabral de descriminalização da maconha. Depois de oito anos governado pelo casal Garotinho, fundamentalistas religiosos comprometidos com o atraso, o estado do Rio foi surpreendido pela sensatez iluminista do novo governador. A maconha deve sim, ser legalizada, para segurança da população. Aliás, não só a maconha, mas todas as drogas deveriam ser legalizadas. É uma questão de senso democrático. Se o cidadão quer consumir drogas ele tem todo o direito de fazê-lo. É uma escolha individual. O estado não tem o direito de interferir em assuntos de foro íntimo do individuo. É como convicção religiosa ou orientação sexual. Cada um tem a sua e, desde que não incomode o vizinho, tem o direito de viver sua vida de acordo com suas convicções. Mas existe uma corrente conservadora e antidemocrática que não aceita a liberdade de escolha do outro. Uma vertente autoritária que só acredita na sua própria verdade.


Um dia as drogas serão legalizadas. Não é possível afirmar se daqui a cinco, dez ou quinze anos. Mas, muito em breve, as drogas poderão ser adquiridas em lojas especializadas. A questão é saber, até lá, quantos inocentes vão padecer com os conflitos que a sombra da ilegalidade provoca. Até porque, nas ruas, na vida real, as drogas já são praticamente legalizadas. Só está faltando colocar isso no papel. Basta olhar para a história da humanidade, nas últimas décadas, para ter consciência dessa verdade. Nos anos 70 ninguém acreditaria no fim do comunismo, na queda do muro de Berlim, nem na vitória do capitalismo na Rússia. Pois bem. Bastou uma década para que ocorressem todas essas surpreendentes mudanças no mundo, com muito menos traumas do que qualquer estudioso pudesse supor. Nos anos 60 e 70 as pessoas pronunciavam a palavra comunismo baixinho, com medo de serem ouvidas, pois havia na sociedade pavor dessa corrente de pensamento político. Por causa desse medo milhares de seres humanos morreram tragicamente, ou foram torturados ou foram exiladas de seus países e suas famílias. Hoje em dia as pessoas não só falam em comunismo com naturalidade como não conseguem entender como essa filosofia de vida pode ter causado tanta tragédia e horror no passado. O mesmo vai acontecer com as drogas. Haverá um tempo, quando a cocaína estiver sendo vendida nas farmácias e a maconha nos supermercados, em que as pessoas vão olhar para trás e não vão conseguir entender porque as drogas provocaram tantas mortes, prisões, tiroteios e guerrilhas.


Por esta razão o pensamento do governador Sergio Cabral com relação as drogas deve ser visto como a postura de alguém que está vislumbrando o futuro. É importante para a retrograda política brasileira a presença de um político que olhe para frente. Que entenda o mundo vislumbrando o futuro e não voltado para o passado, como é comum na nossa República. A sociedade precisa aprender a lidar com as drogas de uma forma civilizada e tolerante. A intolerância é a mãe de todos os conflitos. E as pessoas que não consomem drogas têm sido muito intolerantes com os adeptos do consumo. E essa é uma das maiores causas da violência decorrente do comércio de drogas ilícitas.


É claro que as vozes do contra vão reagir e espernear. Parte da população prefere viver num mundo de trevas, obscurantismo e intolerância. Ao mesmo tempo existem perversos interesses econômicos por trás do comercio ilegal de entorpecentes. As drogas movimentam muito dinheiro e, todos aqueles que se beneficiam desse dinheiro, vão fazer de tudo para que esse mercado continue na ilegalidade. Existem grandes corporações que se beneficiam economicamente da ilegalidade das drogas e vão fazer todo o possível para manter essa situação, mesmo que saibam que, legais, as drogas permitiriam uma sociedade mais segura. O poder judiciário, por exemplo, jamais vai querer que as drogas sejam legalizadas, pois juízes e advogados perderiam um grande mercado de trabalho. Para eles quanto mais conflitos, prisões, mortes e tiroteios melhor. Para essa gente, não importa o que é melhor ou mais seguro para a sociedade. Importa o que é melhor para seus interesses corporativos. Interessa o que é melhor para o seu próprio bolso.


Para a polícia as drogas são um negócio tão lucrativo quanto o é para os traficantes. Nos dias de hoje a polícia não está interessada em dar segurança a população, mesmo sendo essa a sua função primordial. A polícia só quer saber de correr atrás de traficantes, mesmo que, para isso, tenha que colocar em risco a segurança dos cidadãos. Eles sabem que onde tem droga tem dinheiro e é isso o que interessa. Para a polícia a droga é, antes de tudo, um negócio e isso não se aplica apenas nos casos de policiais corruptos. Entre outras coisas, as instituições policiais usam as drogas e traficantes como argumento para fazerem lobby junto a governos a fim de conseguir recursos para suas corporações.


O governo americano é o principal lobista da indústria bélica. Os republicanos defendem os interesses dos fabricantes de armas, por isso vivem estimulando conflitos em todos os lugares do mundo, com o baixo interesse de movimentar esse mercado. Para a indústria de armas a ilegalidade das drogas é um grande negócio, pois os fabricantes podem vender armas para a polícia, para combater os traficantes, e para os traficantes, para combater a polícia.


No meio desse jogo sujo de sórdidos interesses corporativos está a população: sozinha, desprotegida, usada e manipulada pelos donos do poder. Os consumidores de drogas já deixaram bem claro que não vão abrir mão do seu prazer por causa da repressão. Resta ao cidadão comum refletir sobre uma única questão: o que é mais seguro para a sociedade? Um mundo em guerra onde corporações mafiosas duelam pelo dinheiro dos entorpecentes? Ou uma sociedade moderna convivendo de forma civilizada com o consumo e o comércio das drogas?




AS DROGAS E O SEXO - Uma das principais razões do alto consumo de drogas na nossa época é a associação entre drogas e sexo. Pouco se fala sobre isso, mas, de formas diferentes, tanto a cocaína como a maconha são estimulantes sexuais. Muita gente consome essas drogas como forma de exercitar sua libido. Não podemos esquecer que a humanidade está no auge da permissividade sexual. Hoje em dia as pessoas se sentem mais à vontade para se expressarem sexualmente. E muitas vezes essa expressão sexual está ligada ao consumo de drogas. Quem busca um sexo mais selvagem, mais voluptuoso, geralmente consome cocaína, que provoca no consumidor a ilusão de um desejo mais voraz. Já a maconha produz um efeito mais realista no seu usuário, pois é uma droga mais suave e sensorial que atinge todas as formas de prazer: o prazer de saborear uma boa comida, o prazer de ouvir uma música, o prazer de admirar uma paisagem bonita, o prazer de aspirar o perfume de uma flor. O mesmo acontecendo com o supremo prazer do sexo.




AS DROGAS E GEORGE BUSH - O falso moralista governo Bush demonstra grande preocupação com o tráfico internacional de drogas. Com seu estilo de resolver as questões políticas como se ainda estivéssemos no velho oeste, Bush só falta sacar o revólver quando o assunto é o tráfico de drogas. Ao mesmo tempo, o mundo pós-George Bush é um mundo que estimula as pessoas a consumirem drogas. Muitos usuários consomem drogas por causa da angústia de viverem num mundo de guerra e violência. Muitas pessoas sofrem quando assistem na TV as barbáries que são cometidas no Iraque. As pressões da vida moderna através do capitalismo selvagem, do terrorismo, da guerra e da injustiça social fazem com que muita gente sofra com essa realidade e busquem as drogas como uma forma de se aliviar da dor que esse mundo provoca. E o principal responsável por esse mundo que leva as pessoas a se drogarem é o presidente Bush e sua ideologia fascista. Ninguém se iluda. Os milhares de soldados americanos que estão no Iraque são futuros consumidores de drogas em potencial. Quando voltarem para a América e lhes bater a consciência das atrocidades que cometeram na guerra eles vão buscar alívio na maconha e na cocaína. Não seria exagero dizer que o governo Bush é o maior incentivador do consumo de drogas em todo o mundo.




AS DROGAS E O POSTO NOVE - No último verão surgiu uma nova moda no Posto Nove, reduto do pensamento libertário no Rio de Janeiro. Desde os anos 60 um reduto de consumidores de drogas, a nova moda entre os jovens que freqüentam aquele trecho de praia é não consumir droga nenhuma. Uma das frases mais ouvidas no verão 2007 foi: eu parei de fumar. Será que essa moda pega? O fato é que muitos jovens bronzeados que freqüentam o pedaço estão achando que o quente mesmo é não fumar maconha. Não tem nada a ver com repressão, nem com caretice. Tem a ver apenas com a idéia de adotar um novo estilo de vida.




AS DROGAS E O GABEIRA - Gabeira amarelou. Essa foi a conclusão de um bronzeado garotão do Posto Nove ao comentar o artigo, publicado na Folha de São Paulo, onde o deputado federal Fernando Gabeira contesta as idéias de Sergio Cabral sobre a descriminalização da maconha. Gabeira desde sempre defendeu uma postura mais tolerante com relação a maconha e, por causa disso, angariou popularidade entre os jovens. Agora, quando o governador do Rio levantou a mesma bandeira, ele publicou um artigo dizendo que a sociedade brasileira não está preparada para a legalização da maconha e que isso só pode acontecer depois que houver uma total reformulação da polícia. Aos fãs do deputado federal essa teoria soou estapafúrdia. Uma total reformulação da polícia parece algo utópico e irreal. Logo Gabeira, que sempre pareceu um político centrado e com os pés na terra, resolveu usar argumentos frouxos para contestar uma idéia que ele mesmo sempre defendeu. O artigo de Gabeira contestando Sergio Cabral deixou nos eleitores a impressão que o deputado federal ficou com ressentimento pelo fato do governador ter levantado uma bandeira que ele julgava sua. Que pena. Ninguém esperava por isso, mas parece que o Gabeira realmente amarelou.


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