21.2.08

AMIGOS QUERIDOS - Contar uma história densa e com personagens bem definidos. Esse parece ter sido o ponto departida usado por Maria Adelaide Amaral para construir uma minissérie dramática e comovente sobre um grupo de amigos que se reúnem depois de dez anos separados. Ao fugir da narrativa linear constante na teledramaturgia, Queridos Amigos dá um refresco ao público da Globo que, cada vez mais, tem sido brindado com o lugar comum. Às vezes parece que se está assistindo a um filme francês, desses que valorizam a inteligência do espectador. A diretora Denise Sarraceni entendeu a proposta da autora e soube traduzir suas aspirações literárias para a linguagem da TV.

O elenco parece muito à vontade nos seus papéis e têm brindado o público com atuações primorosas. Vale destacar Dan Stulbach, Luiz Carlos Vasconcelos, Mateus Natchgaerle, Malu Galli, Maria Luisa Mendonça, Fernanda Montenegro, Juca de Oliveira e Débora Bloch. São atores com um histórico no teatro, sabem compor um personagem e contracenar. Sob esse aspecto Queridos amigos tem exibido momentos gratificantes para quem gosta de admirar a performance de atores. Os conflitos e diferenças entre pessoas próximas que se gostam, mas têm restrições, é o mote para boas cenas de tons tanto dramáticos, como cômicos.

O pano de fundo da história de Maria Adelaide Amaral é a ditadura militar. E esse é o ponto negativo da história. É o ponto frágil da dramaturgia do bom texto do programa. Maria Adelaide nos mostra personagens vítimas da ditadura que foram presos e exilados. Sendo assim, ela os mostra como guerreiros e desbravadores. Em suma: personagens heróicos. Até um tempo atrás esse recurso de usar pessoas que lutaram contra a ditadura como heróis emocionava o público. Depois que essas pessoas assumiram o poder no Brasil atual e transformaram a nação em algo muito pior que a ditadura fica difícil vê-los como mártires.

Quando a personagem de Denise Fraga diz que foi torturada pelos militares isso já não provoca a empatia do público. Pelo contrário. O sentimento de quem assiste é de que, certamente, alguma ela aprontou para ser perseguida pelos militares. Depois de tudo que tem acontecido no Brasil recente, governado por muitos que foram perseguidos, não dá mais para acreditar que aquelas pessoas lutaram pela democracia. Hoje, vemos com clareza, que elas lutavam pelo poder. Elas queriam o poder para fazerem o mesmo que a ditadura fazia. Para terem acesso as riquezas do país.

O Brasil precisa esquecer 1964. A nação precisa parar de olhar para trás e seguir em frente. O Brasil moderno precisa desistir de hipervalorizar aqueles que combateram a ditadura e tratá-los como heróis. Hoje vemos que eram todos farinha do mesmo saco.

Quem rouba a cena na minissérie Queridos Amigos é o personagem Benny, numa fabulosa atuação do ator Guilherme Weber. Benny é uma bichona ressentida e neurótica, que adora chocar as pessoas. Principalmente seus amigos mais próximos. Sua antipatia e petulância, na verdade, são fachadas para se defender do complexo provocado pela sua homossexualidade. Benny tem diálogos ótimos, cenas bem construídas. E Guilherme Weber entendeu a personalidade de Benny e compôs um personagem perverso e lírico. Com Benny o ator tem conseguido os melhores momentos da minissérie.


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