22.1.09

O LEITOR - O alemão Bernhard Schlink, professor de Direito e Filosofia, cresceu num país mergulhado num ambíguo sentimento de culpa coletiva. Uma Alemanha em ruínas, com a sombra do nazismo e o horror do Holocausto contaminando a tudo e a todos. É nesse universo que o autor busca inspiração para sua ficção. No seu romance O Leitor, traduzido para 39 línguas, que acaba de ser lançado no Brasil, um homem iniciado sexualmente na adolescência por uma mulher mais velha, a reencontra anos depois num tribunal, acusada de ser oficial de um campo de concentração. A adaptação cinematográfica acaba de ser indicada ao Oscar de melhor filme. No elenco Kate Winslet e Ralph Fiennes, dirigidos por Stephen Daldry, diretor de ótimos filmes como As Horas e Billy Elliot.

Perturbadora meditação sobre os destinos da Alemanha, O Leitor é, desde O Perfume, o romance alemão mais aplaudido nacional e internacionalmente. Nele, Michael Berg, um adolescente nos anos 60, é iniciado no amor por Hanna Schmitz, uma mulher madura, bela, sensual e autoritária. Ele tem 15 anos, ela 36. Os seus encontros decorrem como um ritual: primeiro tomam banho, depois ele lê fragmentos de Goethe, Dickens, Tolstói e Schiller, e só então fazem amor. Este período de felicidade incerta tem um fim abrupto quando Hanna desaparece, sem explicações, da vida de Michael.

Anos mais tarde, entretanto, ele a reencontra: acusada por crimes de guerra e por várias mortes em um campo de concentração nazista. Michael, como estudante de Direito, acompanha o caso debatendo-se entre as lembranças da antiga amante e a indignação pelos crimes. Tentando descobrir quem é a mulher que amou, ele gradualmente percebe que Hanna pode guardar um segredo que considera mais vergonhoso que homicídio.

As páginas deste romance trazem com lucidez a pergunta: como amar alguém que participou da maior atrocidade que o mundo já conheceu? A escrita de Schlink é limpa e despida de imagens e diálogos desnecessários, resultando em uma bela e austera narrativa sobre o esforço para preencher o vazio entre as gerações pré e pós-guerra na Alemanha, entre culpado e inocentes, entre palavras e silêncio.

A fronteira que separa pessoas normais da banalidade do Mal pode ser muito precária e é nesse fio da navalha que os personagens de Schlink caminham, para desconcerto e angústia dos protagonistas que com elas interagem, quase sempre homens de leis com poucas certezas quanto à sua legitimidade para julgar os outros.

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