10.2.10

O SOL POR TESTEMUNHA - Dias e dias sob o sol. Na onda de calor que se abateu sobre o Brasil, as praias do litoral de Pernambuco têm sido minhas melhores companheiras. A Praia do Sossego, na Ilha de Itamaracá, faz justiça ao nome. Uma praia bela e sossegada. Uma delícia poder caminhar quilometros e não encontrar nenhum ser humano. Nesse momento quero distância das pessoas. Ouvir apenas o som das ondas e o farfalhar dos coqueirais. Andando por ali preciso prestar atenção na areia, para não pisar na enorme quantidade de filhotes de crustáceos que agitam a beira-mar. Quando mergulho no mar para me refrescar e minhas mãos atingem a areia no fundo, percebo que o local está apinhado de estrelas do mar. Pego na areia um monte delas e logo as devolvo ao oceano. Apenas faço um contato, num desejo sincero de me sentir perto da natureza.


Melhor que a beleza da Praia do Sossego, só a ausência de pessoas. Como é bom olhar em volta e não ver ninguém...


Refestelado na areia da praia brinco com os crustáceos que pululam de uma infinidade de buracos. Eles me olham assustados e se escondem em suas casas, ou armam suas garras em minha direção, incomodados com aquele ser estranho que está ali invadindo sua área. Uma linda Maria Farinha (um crustáceo de cor amarelada comum na areia da praia) me olha assustada. É bonita, adulta. Cheia de personalidade. Ela aponta suas garras em minha direção, pronta para se defender de um possível ataque. "Eu não quero te fazer mal", digo para ela, esperando que ela entenda. O crustáceo me olha firme com suas garras apontadas para mim. "Não quero te machucar", repito suave e me aproximo lentamente. Depois aproximo meu dedo indicador do seu casco. O crustáceo ainda se mostra tenso, pronto pra briga. Então eu encosto meu dedo no seu casco e fico alisando suavemente. "Não quero te machucar", repito. O crustáceo baixa suas garras e fica ali quietinho. Agora o animal marinho não tem um comportamento assustado, nem agressivo. Recolhe suas garras e fica ali, enquanto eu acaricio seu casco. Depois deslizo meu dedo sobre suas garras e ele não se move, não reage. Parece entender perfeitamente que eu estava apenas lhe fazendo carinho. Eu deito na areia, bem ao lado do bicho e fico olhando para ele, que me devolve o olhar, com seus olhos que parecem antenas. "Você é uma simpatia", digo para o animal, conversando com ele como se fosse uma criança. Volto a acariciar seu casco, suas patas e agora ele simplesmente nem liga. Parece totalmente à vontade comigo, e isso me deixa cheio de felicidade. Fico um tempão ao seu lado, conversando como se fôssemos amigos. Depois, cansado do sol inclemente, levanto da areia para ir embora. Me despeço do crustáceo e sigo meu caminho. Ele fica ali, parado no mesmo lugar, me olhando ir embora. Naquele momento de despedida juro como notei uma expressão de tristeza em seu semblante.


Nunca tinha parado para pensar nisso. Mas foi nesse verão inclemente de 2010, em plena Praia do Sossego, que descobri que os crustáceos também tem alma!


"Como você está preto!", disse minha mãe ao ver minha cor, pele bronzeada sem nenhuma proteção. "Cuidado com o sol, você precisa usar um protetor solar, um hidratante", diz Dra. Francis, uma médica amiga da minha irmã, ao me ver tostado pelo sol. Agora é tarde. O sol já me deixou torradinho. Crocante. Bem passado. A casa da minha irmã, em Itamaracá, fica em frente à praia. Depois do café já corro para o mar e é só praia, praia e praia. A água do mar me abraça e me enche de energia e frescor e alegria e sensualidade. Depois dos mergulhos e braçadas é a hora da cerveja gelada e caldinho de sururu, agulha frita, caldeirada ou sopa de mariscos.


À noite nada de festas ou bailes pré-carnavalescos na praça do Pilar. Estou fugindo de aglomerações. Ando sem saco para muita gente. Ou melhor, ando sem saco para qualquer tipo de gente. Prefiro a solidão. Deito na rede esticada na varanda e sinto a brisa refrescante que vem do oceano. Mesmo com a onda de calor, o litoral do Nordeste ainda oferece uma deliciosa brisa fresca quando a noite vem. O ventinho gostoso refresca minha pele crocante e me oferece conforto. Uma sensação agradável que atravessa o corpo e atinge a alma. A lua no céu completava o cenário de paz e harmonia, alimentos para a alma.

Nunca vou esquecer o verão de 2010!

A leitura foi grande companheira nesses dias longe da TV, dos jornais, da Internet (desculpem leitores desse blog). Longe de tudo e de todos. Livros policiais, best-selleres. Leitura suave, depois de um ano mergulhado em livros de filosofia, por exigência da Faculdade. Até hoje fico deprimido quando lembro do tempo que fiquei debruçado sobre o pensamento doentio de Hegel e Descartes. Foi refestelado na rede da varanda da casa de praia de minha irmã que finalmente li Quase Tudo, o fabuloso livro de Danuza Leão. Lançado em 2005, até hoje eu não tinha lido. Na época do lançamento se falou e se discutiu muito o livro, mas não me interessei, apesar de adorar a Danuza. No dia em que viajei para Pernambuco, uma amiga muito querida, a fotógrafa Thereza Eugênia me trouxe o livro, um exemplar muito especial, com um autógrafo de Danuza para o saudoso Guilherme Araújo.

Para meu querido Guilherme, com saudades das nossas maravilhosas folias, com um beijo da Danuza.

"Você tem que ler o livro da Danuza. É a tua cara", me disse Thereza com veemência. Danuza escreve muito bem, tem humor e uma inteligência fora do comum. Além disso, a vida dela é um romance cheio de reviravoltas, que ela narra com muito talento e estilo. Quase Tudo foi um grande companheiro neste verão 2010. Com ele me diverti e me emocionei. Fiquei particularmente tocado com o modo com que ela encara o trabalho, a atividade profissional. Nesse aspecto, foi um aprendizado.

Também foi na varanda da Ilha de Itamaracá que mergulhei na literatura do americano Dan Brown. Li um antigo romance, Ponto de Impacto e seu novo livro, O Símbolo Perdido, que é uma tentativa tosca de recriar O Código da Vinci. Adoro O Código da Vinci, que considero realmente uma obra prima. Brown acertou em cheio com esse livro. Mas O Símbolo Perdido é quase igual ao anterior, um livro comercial, feito para deixar o autor ainda mais rico. Por outro lado, ler esses dois livros me fez descobrir os truques literários do autor. Os recursos que ele utiliza para criar suspense e prender o leitor são muito parecidos com os recursos usados pelos telenovelistas de antigamente, tipo Ivany Ribeiro e Janete Clair. A gente sempre aprende alguma coisa lendo um livro.

Antes do carnaval em Recife, mais uns dias de praia em Porto de Galinhas.

Evoé!

Nenhum comentário:

Baseado meu amor...

  O STF discute a descriminalização da maconha. Num momento em que as grandes cidades brasileiras vivem num clima de guerra civil por conta ...

Postagens mais vistas