23.7.10


O pudor inventou a roupa para que se tenha mais prazer com a nudez.

UMA LÁGRIMA PARA O JORNAL DO BRASIL – Na época em que eu estudava Comunicação na PUC, o Jornal do Brasil era como uma Bíblia. Para nós, alunos, era um jornal sagrado, que tinha história, personalidade, estilo. Uma referencia única para os que queriam ser jornalistas. Todos nós sonhávamos um dia trabalhar lá. Certa vez fui com um grupo de alunos da minha turma da Faculdade passar um fim de semana em Petrópolis, na casa de uma colega que era milionária e tinha uma mansão no alto da serra. Na volta do fim de semana, quando passamos pelo elevado em frente ao prédio do JB uma de nossas colegas apontou para o edifício e disse: “Vejam, ali será o meu futuro emprego”. Ela falou de um jeito tão engraçado que todos nós, na flor da juventude, caímos na risada.



Trabalhei durante quatro anos no Jornal do Brasil. Quando lá cheguei o jornal já não era aquele JB dos meus tempos de garoto. Mas ainda dava as cartas na imprensa carioca. Quem me levou para o JB foi a minha querida e adorada Hildegard Angel. E foi um período em que eu trabalhei e, ao mesmo tempo, me diverti muito. O trabalho era pura diversão. Hilde me encarregava de cobrir, para sua coluna, as festas mais incríveis do Rio. E eu adorava a vida mundana, aquele clima fútil, mas, ao mesmo tempo, existencialista. Eu me sentia um personagem do F. S. Fitzgerald, me equilibrando entre o êxtase e a decadência.



Gay Society! Esse era o nome da coluna que eu assinava no Caderno H, o suplemento editado por Hildegard. Uma coluna dedicada a falar, exclusivamente, da vida gay no Brasil. Além disso, eu escrevia perfis e reportagens para o suplemento. Entrevistava políticos, celebridades, escritores, modelos, artistas. Mas eu gostava mesmo era de fazer reportagens com lutadores de artes marciais como Flavio Canto e Leonardo Leite. Houve uma reportagem que me marcou muito. Em 2004, por ocasião dos 200 anos do nascimento de Allan Kardec, fui encarregado de fazer uma reportagem sobre o espiritismo e sobre o pensamento do homem que se notabilizou como o codificador da doutrina espírita. Ao entrevistar espíritas e pesquisar sobre o tema aprendi muito sobre o assunto e sinto que isso me fez descobrir um mundo fascinante.



Quando Ziraldo foi convidado para ser editor do Caderno B ele fez uma revolução no suplemento cultural do “jotinha”. Jotinha era como os funcionários antigos chamavam carinhosamente o jornal. O Caderno B, de Ziraldo, tinha uma página diária sobre livros e eu fui um dos jornalistas encarregados de escrever resenhas sobre os lançamentos do mercado editorial. Sou apaixonado por livros e esse trabalho era puro prazer. Mais prazeroso do que isso, só se eu fosse convocado para ser massagista da seleção de futebol da Espanha. Escrevi sobre livros de João do Rio, Cora Ronai, Steve Barry, Anne Prouxl, Aguinaldo Silva, Oscar Moore, Dominique Fernandez e muitos outros. Um dos textos que mais curti escrever foi sobre o livro A linha da beleza, de Allan Hollinghurst. Esse livro é brilhante. Uma obra-prima. Está para a literatura assim como os Pet Shop Boys estão para a música pop. Mas é um livro que foi pouco lido no Brasil. Os leitores brasileiros não sabem o que perderam.



A convivência com jornalistas talentosos também foi algo muito bacana dos meus tempos do JB. Foi um tempo em que, para mim, a palavra trabalho teve o mesmo significado que a palavra prazer. E por isso sempre vou ter um carinho muito especial pelo Jornal do Brasil. É uma pena que o jornal esteja acabando dessa forma, vítima de uma sucessiva onda de maus administradores.



Descanse em paz!


Fotos: Waldir Leite

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