19.10.11















































A vida bate e estraçalha a alma e a arte nos lembra que você tem uma.





TROFÉU REDENTOR - "Onde está o Caetano?", me perguntou Lincoln Phipps, produtor do filme Hollywood não surfa, se referindo a Caetano Veloso. Mas o cantor não apareceu na premiação do Festival do Rio. Cinéfilo, Caetano foi freqüentador assíduo das sessões do Cine Odeon Petrobras, onde foram exibidos os filmes brasileiros da mostra competitiva. Profissionais de todas as áreas da produção cinematográfica lotaram o cinema para assistir a premiação.


“Quero fazer uma foto de vocês dois”, eu disse quando Luiz Carlos Barreto foi cumprimentar Carlos Manga, na restaurante anexo ao cinema que serviu de área vip para as celebridades. “Fotografando nós dois, você está fotografando o cinema brasileiro”, disse Carlos Manga, com a voz embargada. Ele estava muito emocionado, já que estava sendo homenageado com uma estátua pela produção do festival. Foi Neville de Almeida quem ficou encarregado de fazer o discurso de homenagem. Ele lembrou que foi Manga quem inventou a dupla Oscarito e Grande Otelo e elogiou o cineasta como um grande diretor de filmes musicais.


Quando chegou o ator português Joaquim de Almeida eu o recebi na porta do Odeon. Os fotógrafos não deram muita bola para ele. Talvez não o tenham reconhecido. Os fotógrafos, de um modo geral, não têm muita cultura e acham que “celebridade” é o elenco de Malhação. Dei boas vindas ao Joaquim e o levei até a sala vip. “O Barretão já está lá”, disse ao ator. “Sim? O José Carlos já chegou?”, perguntou ele. “Não é José Carlos. É Luiz Carlos”, disse eu, me referindo ao Luiz Carlos Barreto. “Puxa vida! Eu sempre troco o nome dele e o chamo de José Carlos”, disse o Joaquim, dando uma risada.


“A sua gravata está torta”, me disse Ney Latorraca, já arrumando meu colarinho e botando minha gravata no lugar. Ele estava super alto astral. Ao entregar o prêmio de direção de fotografia a Mauro Pinheiro, por Sudoeste e Petrus Cariry, por Mãe e Filha, Ney deu uma alfinetada na política brasileira. “Um país que tem um cineasta como Carlos Manga e uma atriz como Cássia Kiss tem que acreditar que pode acabar com a corrupção”, disse.


O empate no prêmio de fotografia causou indignação entre os cinéfilos mais apaixonados. “Ou dá o prêmio para um, ou dá o prêmio para outro. Empate é uma palhaçada”, me disse uma atriz, irritada, logo após a cerimônia. Rodrigo Fonseca, o crítico do jornal O Globo, assistiu à premiação em pé, andando de um lado para outro, e passando informações pelo celular para a redação do jornal. “Essa premiação está uma palhaçada”, disse ele. “Que júri careta! Que premiação careta!”, resmungava o crítico cada vez que Tiago Lacerda e Vanessa Lóes anunciavam uma nova premiação.


Rodrigo Fonseca está certíssimo. Com um ou outro acerto mais óbvio, a decisão dos jurados e o modo como eles conduziram a premiação foi algo de absurdo. Sem querer desfazer de ninguém e reconhecendo que havia excelentes filmes na competição, é preciso afirmar uma coisa: o melhor filme do festival foi Sudoeste. Mas o júri não teve coragem, ou ousadia, ou inteligência de conceder o prêmio de melhor filme a uma película rodada em preto e branco. E isso é chocante!


Quando Jean-Paul Gautier veio ao festival promover seu documentário Quebrando as regras, ele participou de um debate com jornalistas, que foi aberto ao público. E num dado momento o estilista disse que o mundo hoje ficou muito careta, que nos anos 70, por exemplo, as pessoas eram mais criativas, havia mais interesse pelas propostas artísticas mais ousadas, tanto na moda quanto na cultura de um modo geral. E completou: “Existem filmes dos anos 70 que seriam execrados se fossem lançados nos dias de hoje”. E isso é a pura verdade. O que aconteceria se Bertolucci lançasse Novecento ou O último tango no século 21? Ou alguns filmes do Pasolini e do Luchino Visconti? Ou mesmo filmes do John Schlesinger, como Midnight Cowboy e Sunday Blood Sunday? Se Louis Malle lançasse Pretty Baby nos dias de hoje seria chamado de pedófilo. O mesmo certamente aconteceria com o Trauffaut de Os incompreendidos.


Sudoeste é um filme à moda antiga. Um filme que, se lançado nos anos 70, seria saudado como uma obra-prima incontestável. É o tipo de filme que ganharia prêmios em todos os festivais. No Festival do Rio ele teve que se contentar em dividir o prêmio de melhor fotografia, já que o preto e branco de suas imagens parece ter sido visto pelo júri como algo menor. Algo demodê, para usar uma palavra adequada ao júri. Os amantes do cinema ficaram apaixonados pelo filme, mas o fato de existir um estranhamento com relação a falta de cores de Sudoeste só reforça a teoria do Jean-Paul Gaultier.


Sudoeste, além da sessão oficial para o júri e convidados no Cine Odeon, foi exibido em duas sessões, abertas ao público, no cine Roxy, em Copacabana. Pois bem. Antes de começar a segunda sessão o gerente do Roxy se dirigiu ao público que lotava a sala para dar satisfações. “Gostaria de explicar a todos vocês que o filme é em preto e branco. Não existe nada de errado com a projeção. O filme foi rodado em preto e branco”. A explicação do gerente foi necessária porque, na sessão anterior, várias pessoas foram reclamar com o gerente que “a projeção estava com defeito e o filme estava passando em preto e branco”.



Meu Deus!!!


Mauro Pinheiro é um fotógrafo sensacional. Além de ser o responsável pela fotografia de Sudoeste, foi ele quem fez a fotografia de O Abismo Prateado, o apaixonante filme de Karim Anouiz, que ganhou o prêmio de melhor direção. Conta a história de uma mulher que é abandonada pelo marido. Segundo Caetano Veloso a letra da música Olhos nos olhos é um argumento pronto para ser roteirizado. O filme se concentra, efetivamente, na reação de Violeta, papel de Alessandra Negrini, quando o marido viaja para Porto Alegre e deixa um recado na secretária eletrônica dizendo que não vai voltar. “Eu não te amo mais, Violeta”.


Otto Júnior, que interpreta Djalma, o marido, foi indicado ao prêmio de melhor coadjuvante. Seu personagem só aparece no começo do filme, quando ele, no início da noite, mergulha no mar de Copacabana, o abismo prateado do título. Depois o filme mostra o homem caminhando à noite, apenas de sunga, pelas ruas de Copacabana. Em seguida takes de cenas cotidianas com a mulher. Depois uma vigorosa cena de sexo entre o casal. Na manhã seguinte ela sai cedo para trabalhar. Ele fica em casa se preparando para viajar.


A última sequência em que Otto Júnior aparece no filme ele está completamente nu, de costas , mastigando alguma coisa que pega na geladeira, que está com a porta aberta, iluminando a cena. Instantes. Ele continua lá, nu, mastigando alguma coisa que não vemos o que é. Depois, para surpresa e delícia do espectador, ele se volta para o público. E sem nenhuma pressa caminha em direção à câmera. Com essa seqüência o filme deveria ter recebido o prêmio de “melhor nu frontal”. A partir dessa seqüência, que eu chamaria de absolutamente genial, o público consegue entender o porquê do desespero de Violeta quando toma conhecimento que aquele homem a abandonou. Ela fica louca, desesperada, descontrolada.... Alessandra Negrini merecia ganhar o prêmio de melhor atriz, assim como Cláudia Ohana por sua atuação em Novela das Oito, mas ambas foram “atropeladas” por Camila Pitanga, que também está maravilhosa no seu filme “Eu receberia as piores noticias dos seus lindos lábios”. É uma pena que que a veterana Léa Garcia, sensacional no filme Sudoeste, não tenha sido nem indicada...


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