16.11.11

Não existe nada de grandioso sem paixão.




UMA LÁGRIMA PARA ROBERTO - O feriado da Proclamação da República foi triste para o Posto Seis, em Copacabana, com a morte de Roberto, um dos seus queridos personagens. Seu nome era Roberto, mas todo mundo o conhecia como Boi. Era frequentador do Clube dos Marimbás, bebia chope no Césare, foi jogador de futebol de praia e marcou época vestindo a camisa do Lá Vai Bola, um dos mais tradicionais e irreverentes times. Jogava vôlei, treinava jiu-jitsu. Era um atleta forte, másculo e vigoroso e por isso ganhou o apelido de Boi. Um grande sujeito. Pacífico, amoroso, querido pelos amigos. Ele teve um enfarte enquanto tomava banho em casa.


Na juventude fizemos muitas farras juntos. Noitadas, bebedeiras, farras homéricas. Cada vez que o Lá Vai Bola ganhava uma partida, a rapaziada parava o Posto Seis. E quando perdia era a mesma coisa. Tudo era desculpa para fazer uma festa. Com o passar do tempo, o pessoal foi ficando mais sossegado. Casamentos, filhos, maturidade. Mas a turma sempre se encontrava nos aniversários, ou então no Natal e no Ano Novo. Um grupo muito unido e afetuoso que, quando se encontrava, se transformava numa explosão de alegria. E ontem, pela primeira esse grupo esteve reunido para uma despedida.


Nos últimos anos Boi se tornou espírita. Estudava o assunto, participava de reuniões. E, sempre que a gente se encontrava, comentava como a vida dele tinha mudado depois que passou a se dedicar ao espiritismo.


A última vez que o vi, foi num encontro apressado. Eu estava atrasado para um compromisso e ele caminhava apressado do outro lado da rua. Trocamos um cumprimento rápido, mas lembro bem do seu sorriso. Ele me deu um sorriso franco, um sorriso que era um gesto de carinho. Foi um sorriso tão envolvente que quase que eu atravesso a rua para lhe dar um abraço. Mas eu estava com pressa e segui em frente, sem imaginar que aquela seria a última vez que eu veria o seu sorriso.


A última vez que nós conversamos também aconteceu algo marcante. Eu tinha saído do cinema, onde assistira "Meia noite em Paris", o filme de Woody Allen, e o encontrei em frente a portaria do prédio onde ele morava. Boi fez a maior festa quando me viu. Eu comentei sobre o filme, disse para ele ir assistir e começamos a conversar. Uns quarenta minutos de conversa. E no meio do papo ele me disse uma coisa que me chamou atenção. "Você é um cara movido pela paixão. O que te move na vida não é o dinheiro, nem o sucesso, nem a ganância. O que faz você seguir em frente é a paixão pelas coisas, pelas pessoas..." Quando ele me disse isso eu me senti completamente nu. Nunca havia pensado nisso, mas, foi como se ele tivesse me revelado um segredo que eu mantinha guardado. Fiquei vários dias pensando nisso, impressionado como ele me conhecia, como ele sabia de mim, como ele me observava com atenção. E ontem, enquanto jogava pétalas de flores sobre a sua sepultura, lembrei da expressão máscula e bela do seu rosto, com sua voz gentil me dizendo "você é um cara movido pela paixão..."


Descanse em paz, meu querido...

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