4.4.12


Poucos veem o que somos, mas todos veem o que aparentamos.


MORA NA FILOSOFIA – Ainda atordoado com a palestra do filósofo francês Renaud Barbaras, no Instituto de Filosofia e Ciências Sócias, da UFRJ. Monsieur Bárbaras é um estudioso da Fenomenologia, corrente filosófica que se dedica aos estudos da consciência e seus objetos e objetivos. É algo aparentemente simples, mas, que, ao mesmo tempo, é confuso e subjetivo. Aliás, como tudo na filosofia. O mais fascinante no estudo das coisas do pensamento e do saber é que, nesse universo, tudo é dito não para explicar, mas para confundir. Nesse aspecto, há uma aproximação muito grande entre Platão, Derrida, Rousseau e Chacrinha, aquele apresentador de TV que dizia “eu não vim aqui para explicar, vim pra confundir”. A palestra do professor Bárbaras me provocou um real deleite intelectual, mas, quando acabou, eu estava mais confuso que esclarecido. E não é essa a função da Filosofia? Provocar o “não entender”? Lembrar que o conhecimento é algo volátil, algo que muda a cada momento, que aquilo que sabemos hoje pode ser totalmente diferente amanhã?

Jaques Derrida? Immanuel Kant? Ferdinand de Saussurre? Paul Ricoeur? Ando me sentindo pisando em ovos ao tentar saber (ou não saber) algo desses filósofos. Quem me salva desse conflito, no momento, é o professor e editor da revista The Philosopher Martin Cohen com seu livro Casos Filosóficos. O professor Cohen, com seu texto claro e informativo, se dedica a desmistificar o estudo da filosofia. Sem perder o respeito por ideias ou conceitos, ele é implacável ao alfinetar os textos clássicos e os maiores ícones do pensamento. Começa por Platão e sua República, o magnífico tratado sobre os alicerces do mundo civilizado. “Será que ele estava mesmo filosofando quando escreveu seus textos? Ou aquilo é apenas uma tentativa não muito bem sucedida de fazer poesia?”, questiona o professor, ao falar do meu filosofo favorito.

Ele é implacável com Aristóteles, a quem descreve como um homem particularmente feio, como se essa característica física tivesse sido crucial para o desenvolvimento da chamada “lógica aristotélica”. “Só na filosofia você poderia construir uma reputação sobre afirmações óbvias como essas”, alfineta ele, depois de relacionar as chamadas “leis do pensamento” do pensador grego: a lei da identidade; a lei da não contradição; e a lei do terceiro excluído, que diz que tudo deve ser ou não ser. “No mundo real, coisas podem ao mesmo tempo “ser” e “não ser” e ocasionalmente até ocupar uma posição intermediária”, diz.

Casos Filosóficos não quer desmoralizar a filosofia. Longe disso. É um livro escrito por alguém que cultua e respeita o mundo e as idéias dos filósofos. Mas, logo nas primeiras páginas, ele nos dá uma pista do modo menos doloroso de encarar os meandros da filosofia quando afirma “os filósofos são pessoas como nós”. Agoniado com as teorias de Ferdinand de Saussurre e seus estudos sobre os signos e a diferença entre significado e significante, eu me senti aliviado com a óbvia afirmação de Martin Cohen.


Os filósofos são pessoas como nós!


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