9.2.14



CRIMES E PECADOS – Nunca assisti a um filme do Woody Allen que eu não pudesse chamar de obra-prima. Inclusive todos que foram estrelados por Mia Farrow, como Simplesmente Alice, A Outra, A era do rádio, Setembro e Crimes e Pecados. Tenho grande admiração pelo cineasta e tenho acompanhando com perplexidade e cinismo toda essa confusão envolvendo seu nome, que veio à tona depois que sua filha adotiva escreveu uma carta ao site do New York Times acusando o diretor de ter praticado abuso sexual quando ela era criança.

Não acredito que seja verdade. Woody Allen me passa muito mais credibilidade do que Mia Farrow. Sei que o assunto é delicado e ninguém mais do que as pessoas envolvidas deveriam estar discutindo esse assunto. Mas foi a filha adotiva Dylan Farrow quem começou. No momento em que o cineasta foi homenageado pelo Globo de Ouro e está indicado ao Oscar, ela trazer esse assunto novamente à tona, de forma tão crua, é por que ela está querendo que o assunto seja discutido. Dylan não é mais uma menina de sete anos. Ela agora é uma mulher adulta e quer se vingar do seu pai adotivo. Em sua resposta às acusações, Allen sugere que a carta de Dylan deve ter sido escrita pela própria Mia. (Sabiam que o verdadeiro nome da Mia é Maria de Lourdes?)

Anos atrás, quando estava em Nova York, eu encontrei Monique, uma velha amiga que morava por lá. Ela é uma pessoa muito divertida e sempre foi muito rebelde. Certa vez, enquanto passeávamos no Central Park, Monique me contou uma história que nunca esqueci. Ela me disse que quando tinha sete anos estudava num colégio de freira. Ela não gostava de viver ali e detestava as freias. Então, um dia, quando seus pais foram visitá-la, a pequena Monique bolou um plano para se livrar do colégio. Quando a freira foi buscá-la, no seu quarto, Monique começou a bater sua própria boca contra a quina da porta. Bateu várias vezes, até seus lábios começarem a sangrar. Depois começou a fingir que estava chorando e correu em direção aos seus pais gritando que a freira lhe tinha dado um soco na boca. Os pais, diante daquela menininha linda, de cabelos loiros, chorando com a boca ensangüentada, não tiveram dúvida que ela tinha mesmo levado um soco. “A freira se fudeu e meus pais nunca mais quiseram saber de me botar em colégio interno”, me confessou Monique, às gargalhadas.

Não sei o por quê, mas Dylan Farrow me lembra muito minha amiga Monique!

Sempre achei muito esquisita essa mania de Mia Farrow adotar crianças. Entre legítimos e adotados, ela tem quatorze filhos. Como uma pessoa pode cuidar de quatorze filhos? Ter um único filho já demanda muito cuidado, muita atenção, muita energia de uma mãe. Imagine quatorze filhos! Vamos supor que fosse verdade, que a pequena Dylan tivesse mesmo sido vítima de um abuso. Não seria o caso de perguntar onde estava a mãe dela? Sete anos é uma idade em que uma mãe tem a obrigação de monitorar todos os passos de uma filha. Com quatorze filhos, será que uma mãe tem como fazer isso? Ela parece ter sido negligente no quediz respeito ao bem estar dos seus filhos.

A gente sempre tem que lembrar que essa história do suposto abuso sexual aconteceu em meio a separação do casal. Já vi tantos casais que se amavam, se adoravam e que, depois de um briga, uma separação, devotam um ao outro o mais venenoso dos ódios. Nem antes, nem depois, jamais surgiu nenhuma outra alegação sobre a conduta do diretor. “O céu conhece a fúria de uma mulher rejeitada”, costumava escrever Paulo Francis em sua saudosa coluna Diário da Corte. Acredito que essas acusações façam parte de uma vingança de uma amante rejeitada. Mia, Maria deLourdes, nunca deve ter assimilado a separação. Ter sido trocada por uma mulher mais jovem, é sempre doloroso para qualquer mulher. No caso da Mia foi muito pior. A mulher mais jovem era sua filha adotiva deum casamento anterior com o maestro André Previn. E tem mais. Não podemos esquecer que ela é uma atriz. E ao perder o companheiro, Mia perdeu também seu diretor. Durante o casamento ela protagonizou alguns dos melhroes filmes de sua carreira. Com a separação, nunca mais ela fez um grande filme. Com Woody ela fazia um grande filme praticamente todos os anos.

Esse é ou não um bom motivo para que uma atriz se transforme num pote até aqui de mágoas?

Em sua defesa publicada no New York Times Woody Allen sugere que a raivosa carta de Dylan deve ter sido escrita pela própria Mia. “E se fosse com sua filha Cate Blanchet?” É possível. Mia deve estar morrendo de inveja de Cate Blanchet, indicada ao Oscar pelo papel principal no filme Blue Jasmine. Mia deve estar pensando: “Se ele ainda fosse casado comigo, certamente eu teria feito o papel de Blue Jasmine e eu estaria sendo indicada ao Oscar”.  Ao citar Cate Blanchet na carta, Mia certamente espera que os membros da academia não votem na colega. Acredito que ela seja má o suficiente para fazer isso. Só uma pessoa movida por muito ressentimento seria capaz de expor uma filha a uma situação tão constrangedora como ela expôs. Mesmo que o abuso fosse verdade, expor a criança da forma como ela sempre expôs, só faz tornar tudo mais doloroso para a própria vítima. E, me parece, que prejudicar Woody Allen é, para ela, mais importante do que manter o bem estar dos seus filhos.

Sempre fui fã de Mia Farrow e vou continuar sendo. Já gostava dela quando, ainda criança, a via na TV, no seriado A Caldeira do Diabo. Ela está magnífica em dois dos meus filmes favoritos: O Bebê de Rosemary e O Grande Gatsby. E tem também Terror Cego, Cerimônia de Casamento, Cerimônia Secreta e Jonh and Mary.

Também sou fã do Woody Allen e vou continuar sendo. Agora mais do que nunca. Não vejo a hora de assistir seu próximo filme. Toda essa baixaria só fez com que eu gostasse ainda mais de ambos. Afinal, eles estão protagonizando um filme divertidíssimo. Só que na vida real.



Um comentário:

Patrícia disse...

Arrasou, Waldir!

Baseado meu amor...

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