9.9.14

CONTROLE REMOTO – Domingo passado o Caderno de TV publicou uma entrevista com o novelista João Emanuel Carneiro feita pela minha querida Patrícia Kogut. A entrevista com Carneiro era uma mistura de material jornalístico com peça de marketing da TV Globo. Uma coisa curiosa: quando cobre televisão O Globo se acha no direito de se abster de alguns dos mais básicos princípios do jornalismo. A isenção, por exemplo. Isso dá um ar de cinismo a tudo o que o jornal publica sobre TV.

Logo no início da entrevista João Emanuel, respondendo a uma pergunta, fala da novela Os Mutantes. Diz que a Record tentou boicotar A Favorita, ao estrear Os Mutantes no mesmo dia e horário. Concorrência não é boicote, diria Zé Bob, o jornalista interpretado por Carmo Dalla Vechia, o namorado do novelista. João Emanuel também disse que a Record deve cuidar mais da qualidade do que produz.

Mais uma vez “a qualidade”. A exemplo de Patrícia Kogut, na sua coluna, e Zeca Camargo, no seu blog, João Emanuel critica “a qualidade” da produção artística da Record. É curioso que os funcionários da Rede Globo sempre utilizem a palavra “qualidade” quando querem desqualificar a produção da emissora concorrente. O raciocino deles é o seguinte: nós temos qualidade, vocês não. E aqui cabe a pergunta: será que a Globo tem mesmo toda essa “qualidade”?

O que a trinca Kogut-Camargo-Carneiro entende por “qualidade” é aquilo que se convencionou chamar de Padrão Globo de Qualidade. Padrão esse criado pelo saudoso Boni e sua equipe na fase áurea da emissora. Os globetes sempre usam como referência para analisar os outros canais o padrão criado pela empresa em que trabalham. Essa gente tá sempre olhando para o próprio umbigo. Seria um erro a Record ou qualquer outra emissora buscar para si o Padrão Globo de Qualidade. Cada emissora deve buscar o seu próprio padrão. Além disso, existe uma verdade que os “globetes” precisam encarar:

O Padrão Globo de Qualidade não existe mais.

Isso é coisa do passado. Da época em que o Boni reinava como o manda-chuva da emissora do Jardim Botânico. O Padrão Globo deixou de existir há muito tempo. Big Brother Brasil? Ana Maria Braga? Domingão do Faustão? Casseta e Planeta? A Grande Família? Quanto mais a concorrência se afastar do chamado Padrão Globo de Qualidade, mais chances ela vai ter de conseguir a audiência do público.

O que seria um exemplo do Padrão Globo de Qualidade? A narração de Galvão Bueno durante a competição em que César Cielo ganhou a medalha de ouro nas Olimpíadas? O que era aquele “narrador” berrando pela avó do atleta? Por que ele insiste sempre em parecer íntimo dos esportistas? Galvão Bueno é grotesco! Mal educado, desagradável, inoportuno, grosseiro, pedante. Seria ele um exemplo do Padrão Globo de Qualidade?

Por que Galvão Bueno ficou narrando a festa de abertura das Olimpíadas? O show produzido pelos chineses não era apenas visual. As imagens espetaculares eram acompanhadas por uma trilha sonora. Pois bem. Os telespectadores da Globo não puderam ouvir a trilha, pois o chato do Galvão não se cansava de falar idiotices por cima das imagens. Outra coisa: por que o jornalismo global sempre esquece que a televisão tem imagem? Os repórteres ficam narrando o que o espectador já está vendo. Que bizarro!

As críticas do público ao Galvão Bueno estão em todos os lugares. Mesmo assim ele não mereceu nota zero da minha querida Patrícia Kogut. Certamente a mais badalada colunista da TV o considera um narrador Nota Dez. (Ou será que ela foi corporativista?) Um leitor do Globo On Line disse que Galvão Bueno é pé frio, que ele deu azar aos atletas brasileiros. É bem possível. O apresentador fica estimulando o choro e a emoção forçada dos competidores. Quando os brasileiros sobem ao pódio ele sempre lembra o esforço do atleta, as dificuldades, como se isso fosse exclusividade dos brasileiros. Para chegar numa olimpíada atletas de todos os países fazem sacrifícios, concessões, sofrem, têm frustrações. Galvão Bueno lida com o Brasil como se ainda fôssemos o país do Jeca Tatu, o menino pobre, barrigudo, cheio de lombriga. É essa a visão que Galvão Bueno transmite do povo brasileiro.

A boa notícia é que nas próximas olimpíadas, em Londres, o público brasileiro não vai passar pelo constrangimento de aturar Galvão Bueno. A Rede Record adquiriu os direitos exclusivos de transmissão do maior campeonato esportivo do planeta. Aliás, não só das olimpíadas, como também do próximo Pan, em Guadalajara, no México. Certamente nessas competições os atletas brasileiros terão mais sorte.

Madonna vem aí...

 

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