11.4.15





O grande amigo não é o que vem separar a briga, mas sim aquele que chega dando a voadora.


UMA LÁGRIMA PARA BÁRBARA HELIODORA - Eu adorava Bárbara Heliodora. Ao contrário de Geraldo Góes Antunes Júnior Filho,  personagem principal da peça Bárbara não lhe adora, de Henrique Tavares. O personagem é um diretor que se acha genial e fica tão abalado depois de receber uma avaliação negativa da sua peça que resolve sequestrar a crítica. O espetáculo falava dos bastidores do teatro e da relação entre artistas e críticos. Mas, mais do que isso, era uma homenagem a Bárbara Heliodora. Ela foi assistir ao espetáculo e fez uma crítica positiva que alavancou o sucesso da peça que lhe homenageava. 

Sempre li com atenção e curiosidade suas críticas. Mesmo quando não concordava com o que ela escrevia, eu respeitava e considerava sua opinião. Muitas vezes ficava imaginando a reação dos artistas aos seus comentários implacáveis. E isso sempre me divertia. Nos anos 90, quando ela foi hospitalizada para tratar uma pneumonia Gerald Thomas disse numa entrevista: "A Bárbara Heliodora foi hospitalizada para tratar mais uma pneumonia. Espero que esta seja a definitiva".  

O diretor Marcos Alvisi sofreu muito com as críticas dela. De todas as peças que dirigiu, nenhuma mereceu uma crítica favorável. "Essa bruxa só fala bem de quem é da patota dela", me disse ele certa vez, cheio de mágoa. De todas as críticas negativas que lhe fez, certamente a que mais doeu foi a do espetáculo Colombo, que ele dirigiu com o saudoso ator Rubens Correa, com um belíssimo cenário do Gringo Cardia e Duse Nacaratti interpretando uma sereia. Foi na época do centenário de Cristovão Colombo. Acompanhei a produção da peça e vi o esforço do Alvisi para montar o espetáculo, cujo resultado achei brilhante. Mas dona Bárbara não teve a mesma opinião e arrasou com a peça. Sua crítica foi implacável, dura e cruel.

Em compensação ela sempre foi generosa com as peças do meu querido Mauro Rasi. Entendia o trabalho dele e, com algumas poucas exceções, sempre lhe reservava excelentes críticas. Certa vez o Mauro deu uma grande festa no Copacabana Palace, para lançar um livro com o texto de três das suas peças: Cerimônia do Adeus, Viagem a Forli e A estrela do lar. E Bárbara Heliodora estava lá, acompanhada de sua grande amiga Jaqueline Laurence. Bárbara foi a autora do prefácio do livro. Quando a vi, não resisti e pedi um autógrafo. "Tem certeza que você quer que eu lhe dê um autógrafo?", ela me perguntou com um sorriso largo e uma taça de champanhe na mão. A partir daí começamos a conversar. Eu lhe disse o quanto a admirava e me divertia com suas críticas e elogiei o Mauro Rasi. E ela ressaltou que o Mauro era o único dramaturgo brasileiro, contemporâneo, com uma obra consistente e uma dramaturgia própria. "O teatro brasileiro precisa de mais dramaturgos".

Eu sempre a encontrava nas estreias e perguntava o que ela tinha achado das peças. "Vai arrasar com esse espetáculo?", eu perguntava. E ela sorria antes de me dizer: "Não seja apressado. Aguarde minha crítica". Na estreia da peça Macbeth, com a Renata Sorrah, ela não me deixou esperar pela crítica no jornal e me deu sua avaliação em primeira mão. "É uma excelente montagem". Nesse dia eu pedi para fazer uma foto dela. "Você tem certeza que quer me fotografar? Vai estragar sua câmera", ela falou, já fazendo uma pose.

Já estou sentindo saudades, minha querida...

Descanse em paz...

 

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