16.10.20

Nossos bofes têm mais vida





 

O LIVRO É O MELHOR AMIGO DO HOMEM - Já está disponível no site da Amazon o livro "Nossos bofes têm mais vida", romance que concorre ao Prêmio Kindle 2020. É uma promoção da Amazon com a Editora Record, visando estimular a produção literária  brasileira.


Veja a seguir um trecho do livro.



Finalmente chegou o dia da estreia. Mario se vestiu com muita elegância e foi caminhando até o teatro. “Como será que o público vai receber minha peça?” Estava ansioso e feliz. Uma pequena multidão estava na porta do Teatro Ipanema. Mario sentiu uma pontada no coração quando viu que Tônia Carrero estava chegando. Linda. Parecia uma deusa. Então a grande dama do teatro brasileiro tinha vindo na estreia de sua peça? Teve certeza que jamais esqueceria aquela noite. Ele tinha razão. Não só pela presença da Tônia, mas por tantos outros fatos que estavam prestes a acontecer. Logo encontrou seu amigo João Pedro que comentou: “Tônia Carrero na plateia é um bom sinal”. Ali na porta do teatro uma excitação muito grande. Claro que aquela badalação toda era por conta do prestígio do diretor, que estava sendo apontado como a nova sensação do teatro brasileiro.  Muitos artistas, intelectuais, jornalistas. Gente querendo ingresso e a produtora informando que a casa já estava lotada. De repente, dois carros da polícia param bem em frente ao teatro. Um clima tenso logo se instalou. Os policiais saíram calmamente dos automóveis e foram direto para a bilheteria. Mario  e João Pedro que estavam se preparando para entrar na sala de espetáculos, ficaram parados. “O que esses carros da polícia estão fazendo aqui?” João Pedro, como quem não quer nada, se aproximou discretamente da bilheteria, para onde um dos policiais se aproximou.

– Olha aqui, essa peça foi censurada. Recebemos uma denuncia de conteúdo subversivo. E por favor, chama o autor e o diretor que eles vão ter que ir com a gente.

João Pedro foi sagaz e, antes mesmo que o policial acabasse de dar sua voz de prisão, ele já tinha pegado Mario pelo braço e foi saindo de fininho, puxando o amigo.

­– Os ingressos estão esgotados, vamos num cinema.

Mario quis reagir, mas conhecia João Pedro o suficiente para saber que o melhor era fazer o que ele estava mandando. Os dois saíram de fininho e quando chegaram na calçada apressaram o passo.

– Tua peça foi censurada e os meganhas da polícia estavam querendo te levar preso.

– Minha peça não tem nada de comprometedor. A censura já tinha liberado.

– Parece que eles mudaram de ideia, pois chegaram lá com cara de poucos amigos. Ouvi quando o policial falou que a peça estava censurada. E queriam levar o autor e o diretor.

– E agora? O que é que eu faço? O teatro está cheio!

– É melhor você ficar bem longe do teatro, por enquanto. Vamos esperar para ver o que vai acontecer.

– Minha peça não tem nada de ofensivo.

– Tem um beijo entre duas mulheres. Os personagens hippies consomem drogas. Tem uma cena de masturbação. E tem também esse título, né, Mario?

– Mas o que tem esse título?

– Ora bolas, meu amigo. O título é um trecho do Hino Nacional. Você acha que os militares iam te deixar impune?

– Mas é uma citação de um poema do Gonçalves Dias.

– Os milicos não têm a menor ideia de quem foi Gonçalves Dias. Para eles é apenas um pedaço do Hino Nacional. E eles se acham donos de tudo o que existe no Brasil. Inclusive do Hino Nacional.

A cabeça de Mario parecia estourar. Definitivamente não estava esperando por aquilo. Achava que ia ser uma noite de glória, de aplausos, de festa.

– Vamos tomar um chope no Veloso.

– Não estou com cabeça para chope. Estou atordoado. Não acredito que isso está acontecendo.

– Por isso mesmo você deve tomar um chope. Procure ver o lado bom de tudo isso.

– O lado bom?

  Isso mesmo. Agora você vai ser um escritor respeitado. Você teve uma peça censurada. Era tudo o que você precisava para ser um autor respeitado no Brasil de 1973.


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