23.2.05

THE BUENOS AYRES AFFAIR - Com imenso prazer, estou relendo The Buenos Ayres Affair, de Manuel Puig, publicado originalmente em 1973, e que está sendo relançado numa edição luxuosa pela Editora José Olympio. Eu já tinha lido o livro na adolescência, tinha ficado com uma boa lembrança, mas tinha esquecido como é inteligente e bem escrito. Um clássico definitivo da literatura latino-americana. Ao lê-lo novamente, tenho a sensação que um novo mundo está sendo descoberto por mim.


The Buenos Aires Affair é o terceiro livro de Puig, autor argentino que se tornou mundialmente conhecido após o sucesso do romance O beijo da mulher-aranha e que deixou uma marca definitiva na literatura latino-americana do século XX. Alheio a qualquer tipo de tradição ou tendência, Puig se destacou principalmente pela singularidade e pela força de seus trabalhos. Ao se apropriar da chamada "cultura pop", o escritor esquartejou impiedosamente as linguagens cinematográfica e folhetinesca para remontá-las de forma arrebatadora nas páginas de seus livros. The Buenos Aires Affair traz uma peculiar versão dos romances policiais, onde uma trama aparentemente convencional de sexo e morte é transformada em uma das obras mais inovadoras de nosso tempo.


O romance é um fascinante e idiossincrático thriller que narra a estranha relação entre a escultora Gladys D'Onofrio e o crítico de arte Leopoldo Druscovich. Ela perdeu um olho durante uma tentativa de estupro e vive um dia-a-dia solitário regado por fantasias eróticas; ele é um homem com impressionantes dotes sexuais e um passado marcado pelo sangue. Gladys constantemente pensa em cometer suicidio através de uma mistura de barbitúricos com alcool, enquanto Leopoldo passa os dias tentando domar os seus impulsos assassinos.


Puig conta essa hist¢ria de uma maneira não-convencional, utilizando em cada capítulo uma estrutura narrativa distinta e surpreendente. Das abstrações dos pensamentos de todos os personagens às frias transcrições de conversas telefônicas e registros telegráficos, o estilo de The Buenos Aires Affair prima pela experimentação e pela inquietação. Manuel Puig, amante e estudioso da sétima arte, também deu ao cinema um papel fundamental em seu romance. Além de muitas vezes utilizar uma linguagem detalhada e descritiva típica dos roteiros cinematográficos, o texto apresenta transcrições de diálogos de filmes estrelados por grandes nomes do passado como Joan Crawford, Greta Garbo, Marlene Dietrich e Hedy Lamarr.


O romance ainda traz denúncias ao regime político que conduzia a Argentina no começo da década de 70, fato que transformou Puig em um perseguido político e fez com que suas obras fossem censuradas naquele país. Ameaçado de morte pela Aliança Anticomunista Argentina, o autor foi obrigado a deixar sua terra natal e iniciar uma vida dividida entre outras nações. Passou uma temporada no México e depois veio morar no Brasil, onde ficou por quase dez anos, depois que se apaixonou por um pedreiro que fazia obras em seu apartamento.


Manuel Puig nasceu em General Villegas, província de Buenos Aires, no dia 28 de dezembro de 1932. Viveu a maior parte de sua vida fora da Argentina: morou na Itália, no Brasil, nos Estados Unidos e no México. Estudou filosofia em Buenos Aires e foi a Roma em 1951 com uma bolsa para ingressar na faculdade de cinema, onde teve a oportunidade de trabalhar como assistente de produção e redator de legendas. Publicou oito romances, três dos quais foram adaptados para a tela grande. Escreveu também alguns roteiros cinematográficos, duas peças e outras duas adaptações de textos seus para o teatro. Deixou o seu país em meados dos anos 70, época em que passou a ser constantemente ameaçado de morte pela Aliança Anticomunista Argentina. Em 1981 radicou-se no Rio de Janeiro e começou a trabalhar em seu último romance, Cai a noite tropical. Suas obras conquistaram o grande público e também se tornaram clássicos da literatura latino-americana. Manuel Puig veio a falecer no dia 22 de julho de 1990, em Cuernavaca, cidade mexicana em que viveu seus últimos meses.

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