28.7.14


O SOL DA LIBERDADE - Uma coletânea de textos sobre os movimentos culturais e políticos do Brasil, desde os anos 60 até os dias de hoje. Assim é o livro "O sol da liberdade", de Luiz Carlos Maciel, que acaba de ser lançado pela Editora Vieira e Lent. "A proposta deste livro é mexer com as ideias como uma criança que brinca", diz Maciel sobre a publicação. Considerado o guru da contracultura da geração hippie, é curioso ler o filósofo Maciel dissertando sobre as manifestações que aconteceram no Brasil em 2013. "Quero escrever um livro sobre os black blocs", diz, num tom irreverente. 

Em entrevista concedida ao site "Do próprio bolso", dedicado a "ideias, irreverência e contracultura", Luiz Carlos Maciel falou sobre a internet. Vejam só as observações que o guru da contracultura fez sobre a moderna tecnologia.



Nós estamos vivendo um tempo de grande prestígio da irresponsabilidade.

Como a vida já é pervertida, com a “perversão virtual”, fica duplamente pervertida. (risos) Essa é uma ideia que me ocorreu agora...A internet é uma maravilha e eu me sirvo utilmente. É um almanaque, que satisfaz a curiosidade e se pode pesquisar qualquer coisa, mas é também um repositório de perversões humanas que se caracteriza pela irresponsabilidade que a internet propicia, aliás, nós estamos vivendo um tempo de grande prestígio da irresponsabilidade. Como eu sou um sartreano de origem, enfatizo a liberdade e assim, a responsabilidade do indivíduo em tudo que se faz. O que percebo atualmente é um incentivo a irresponsabilidade. Então você pode entrar na internet, criar um “fake” e falar besteira, qualquer conversa perversa que se encontra na sua mente imunda. Quando eu falo em mente imunda, quero dizer que todas as mentes são imundas, isso os psicólogos já descobriram e é inútil você contestar e dizer que é um anjo. Daí você descobre qualquer imundície da sua mente e coloca na internet. A internet é um almanaque maravilhoso e um esgoto, fétido também. Então nisso ela também é parecida com a vida. E propicia acesso ao que é bom, a exemplo da informação; e ao que é horrível, como essa extroversão descarada. Não é só a internet que estimula a irresponsabilidade atualmente. Uma prática que é admitida pelas autoridades, que é a de você denunciar crimes sem se identificar, a denúncia anônima, é um estímulo à irresponsabilidade. Tivemos a morte sob tortura do Amarildo, na Rocinha, que foi resultado de uma denúncia anônima. Um inimigo do Amarildo, (provavelmente, o Amarildo se relacionava com muitos bandidos) queria se vingar dele por algum motivo, telefonou para a UPP falando que ele sabia onde estava o Paiol de armas e explosivos dos traficantes da rocinha. Então a PM fez o interrogatório e o Amarildo disse que não sabia e aí então resolveram utilizar suas técnicas mais avançadas de interrogatório que antigamente chamava-se de tortura e que agora são consideradas apenas de “técnicas de interrogatório”, inventadas pelos americanos. A tortura não teve efeito, Amarildo continuou negando que sabia de alguma coisa e os policiais então, o mataram. Por quê? Porque tem um irresponsável que fez a denúncia anônima e ninguém procura este cara. Ninguém quer saber quem foi este cara. Isso é uma coisa que não interessa nem às autoridades, nem a chamada justiça, a ninguém...o cara fez e tá bem bom... Alguém fez investigação sobre quem denunciou e que levou a tortura e morte do Amarildo? Não, eles acham isso normal, a irresponsabilidade passou a ser normal. Então o progresso nos conduziu a este estado de irresponsabilidade total. Nisto não se pode dizer que foi reversão da História, porque antigamente havia mais responsabilidade. Lembro-me do meu pai que era advogado e dizia que o Direito era o reino da responsabilidade e exigia que você fosse responsável por tudo, pelas palavras e atos. Hoje em dia não é assim, o Direito aceita passivamente a irresponsabilidade.

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